XVIII - Camila faz uma nova amiga

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Dedicado à Lidia-Rocha

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Camila, 07/06/2017 às 11:20 PM

Por um tempo cheguei a pensar que não precisava de novos amigos, que os que tinha ao meu lado já estavam de bom tamanho.

Por Deus, nunca estive tão enganada.

Hoje, fiz uma nova amiga que não tenho a minima intenção de perder.

Caro leitor deste manual, hoje lhes apresento à Catarina Galatas.

08:57 AM

O dia não tinha começado nada bem.

Nuvens de tempestade tingiam de cinza o céu de Sertãozinho, todas as pessoas pareciam mais desanimadas e entediadas do que o habitual. Meus colegas de sala estavam amontoados em grupos nos extremos da sala fofocando sobre algo que eu, honestamente, não tinha a menor intenção de saber.

Teve um momento em que Bianca se sentou na carteira à minha frente e ficou me encarando enquanto prendia em um rabo de cavalo os longos fios loiros.

- Credo, Camila, você esta com uma cara péssima! - Constatou ela.

- Só estou cansada. - Reclamei.

E realmente estava. Tinha passado um bom tempo esta semana no Instituto de Arte trabalhando como voluntária em uma peça para as crianças do Orfanato Municipal. Tive sorte de ter o Juliano lá, me apoiando durante todo o processo de montar o cenário. Mas ainda assim, tudo o que eu queria naquele momento era a minha cama.

Durante o intervalo quase dormi no ombro da Lorena enquanto ela falava sem parar sobre qual fantasia devíamos usar na festa do Gustavo. Todos os adolescentes da cidade que iam ir na festa pareciam já ter as suas fantasias, com exceção de nós.

Pedro apareceu do nada e se sentou do meu lado. Estava vestido como sempre, moletom verde, touca preta e jeans escuros. Ele estava animado porque havia sido convidado pelos tios para ir para São Paulo durante as férias passar um tempo na casa deles.

- São Paulo é uma cidade tão movimentada e caótica. - Carol comentou entre uma mordida e outra da sua maçã. - Nunca vou entender toda essa sua obsessão em querer ir para lá.

Mudei minha cabeça do ombro da Lorena para o ombro do Pedro, seu corpo enrijeceu por um tempo, como se ser tocado por mim fosse um pecado mortal, mas ele logo relaxou e passou o braço ao meu redor.

- Hã... V-você sabe o quanto eu quero cursar Cinema, Carol. - Ele explicou, pude imaginar que suas bochechas estivessem tão rubras quanto o sangue nas suas veias. - São Paulo é o lugar mais perto daqui e também é a minha melhor chance de realizar esse meu desejo.

- Mas ainda assim é muito longe. - Murmurei.

- Você não iria... Sei lá, sentir saudade de casa? - Julie, que estava toda enroscada em Fred, perguntou.

O corpo de Pedro ficou tenso, pude sentir seus olhos me fitando, a respiração descompassada.

- Se as coisas continuarem como estão - disse ele -, não vou ter muita coisa me segurando aqui.

Parte de mim estava pensando: Bem, Pedro vai para a Faculdade daqui um ano e meio, ainda temos muito tempo para ficar com ele. Então me dei conta de que um ano e meio é muito pouco tempo e senti um nó doloroso se formando na boca do meu estomago. Admito que não queria de jeito nenhum me afastar do Pedro e sabia que se ele fosse para São Paulo talvez eu nunca mais fosse vê-lo.

Manual (muito útil) de como sobreviver ao Ensino Médio || EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora