XXXV - Átomos

759 119 324
                                    

Carol,
Sexta- feira, 10/11/2017 às 11:39 P.M.


Adolescentes podem ser facilmente comparados à átomos. Partículas minúsculas, eternas e indivisíveis, que se combinam e desagregam movidas por forças mecânicas da natureza, determinando desta maneira as características de cada coisa.

Um átomo sozinho no universo não pode fazer muita coisa. Ele precisa de outros átomos ao seu lado para fazer a diferença.


Às 08:53 P.M.


A volta da Camila para o Musical foi louvada de pé até mesmo pelo Renan, o diretor da peça. Segundo ele, ninguém tinha talento o suficiente para substituí-la.

Eu nunca fui uma pessoa muito ligada ao teatro ou qualquer outra coisa que me faça interagir com pessoas, mas até que gostei da peça.

Ok, admito, a peça foi maravilhosa e tudo que consigo sentir agora é orgulho dos meus amigos que estavam no palco e do meu irmão e da Catarina por terem se empenhado na decoração.

Durante uma cena onde o personagem Gustavo estava lascando o maior beijão na personagem da Lorena não pude evitar de rir e cutucar as costelas da Catarina, que estava ao meu lado.

— O maior hétero de Taubaté que você respeita — comentei.

Catarina riu e balançou a cabeça.

— Já superou o fato dele ser gay? — Cochichou ela para mim.

— Ele nasceu assim, não é como se fosse uma escolha ou algo do tipo — disse eu. — Não tem o quê superar, apenas aceitar. Para ser sincera, acho que amo ele ainda mais depois de conhecê-lo de verdade.

Ela soltou um "owwwn" comprido, o que apenas me fez revirar os olhos.

— Olhe só para você — comentou fazendo gracinha —, tão madura.

Ignorei suas provocações e voltei os olhos para o palco, onde a Camila cantava dando tudo de si uma das músicas do filme. Por mais que a peça estivesse cativante, algo veio a minha mente e não pararia de martelar a minha cabeça até que minha curiosidade fosse saciada.

— Cata — chamei —, por que o Gustavo e o seu primo terminaram?

— Eu não sei exatamente o motivo — explicou —, mas parece que a coisa foi feia. Os pais do Gustavo até tentaram processar o Afonso. Quando tentei perguntar o que tinha acontecido, meu primo me mandou parar de ser enxerida e disse que não era da minha conta.

Meu queixo caiu e minha imaginação ficou toda eufórica. Não consigo nem ao menos dizer o quanto queria perguntar sobre isso para o Gustavo. Mas ele nunca tocava no nome do Afonso e, aparentemente, a coisa era muito mais séria do que todos nós tínhamos pensado.

Por conta de uma senhora rabugenta que estava sentada atrás de nós e que não parava de mandar-nos calar a boca ou enfiaria a sua bengala na nossa bunda, decidi ficar em silêncio e assistir o resto da peça.

Depois da apresentação fui parabenizada com o convite de ir na festa de comemoração que o grupo do teatro tinha organizado. Eu, com toda certeza, fui modesta e disse que não precisava, mas dois minutos depois já estava apressando a Catarina para irmos logo porque não estava afim de beber vodka amarga do fundo das garrafas.

Surpresa mesmo foi que, ao menos dessa vez, o Frederico e a Julieta não deram cano no rolê. Fiquei pasma quando eles chegaram pouco depois de mim e o mão de vaca do Fred comprou uma bebida para a Julie.

Manual (muito útil) de como sobreviver ao Ensino Médio || EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora