XXII - Educação Física ou Prova de Sobrevivência?

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Lorena, 25/07/2017 às 06:32 P.M.

Ontem foi o primeiro dia de aula depois das férias.

Mesmo ainda estando no fim de julho, o clima estava tão quente que podíamos fritar um ovo na calçada. Era em momentos como esse que eu tinha vontade de chorar pelo tecido do nosso uniforme ser tão grosso.

Para melhorar ainda mais o meu dia, a diretora da escola, uma mulher gorda e baixa que carregava óculos escuros pendurados no decote da sua camiseta com estampa de pantera, anunciou que a professora de Educação Física tinha voltado da sua licença à maternidade e que, portanto, as aulas teriam continuidade normalmente. Por fim, como se estivesse se certificando do nosso desgosto perante tal comunicado, ela sorriu e disse que de agora em diante os primeiros anos A, B e C fariam as aulas juntos.

Às 7:52 A.M.

A primeira coisa que tenho para falar é: Camila está morena de novo.

Vejamos se você está acompanhando, Cah tinha os cabelos mais escuros que eu já vi até o dia em que o seu namorado deu um pé na bunda dela, então a garota pirou e descoloriu o cabelo. Agora, pelo descolorante estar danificando muito os fios, ela pintou o cabelo de preto para não ter de fazer mais química no pobrezinho.

— Não me mate por falar — pedi —, mas prefiro você morena.

— Você disse que o loiro estava bom — esbravejou Camila.

— Eu também disse para a Carol que o bolinho de aveia e banana dela era bom — admiti com um sorrisinho cínico.

— Oh, aquilo era horrível — disse Carol, que estava amarrando o seu tênis. — Graças a Deus minha fase fitness não durou muito.

— O ponto é — explicou Catarina — algumas vezes você tem de mentir para os seus amigos para não magoá-los.

Catarina, você não faz ideia do quanto isso é verdade. Pensei.

— Mentir nunca é uma boa opção — disse Camila, que tinha começado a se alongar depois da professora gritar para que fizéssemos alguma coisa enquanto ela buscava algumas bolas pras turmas jogarem. — Eu fiquei com aquele cabelo por meses.

— E estava bonito. — Tentei me dobrar e tocar meu pé com as pontas dos dedos, mas desisti pois sou tão flexível quanto um tronco de árvore. — Acontece que eu prefiro você morena, fica muito mais bonita.

— Gente, por favor, não vamos nos tornar aquele tipo de amiga que mente uma pra outra toda hora — pediu Camila. — Uma mentirinha para não magoar acaba virando um mentirão e bagunçando tudo. Contar a verdade é como tirar um band-aid, dói a princípio, mas depois você percebe que foi a melhor decisão.

A culpa era um iceberg e eu o Titanic. Estava afundando lentamente e não tinha ao que me agarrar.

Aliás, o Jack cabia naquela porta, mas não vou entrar nesse assunto se não nunca mais sairei dele.

— Em que filme da Disney a sua mãe te criou? — Riu Catarina, enquanto fazia um rabo de cavalo no seu cabelo. — Quer dizer que se uma amiga sua fizer uma merda muito grande e que te deixaria extremamente magoada, você gostaria de saber e ainda a perdoaria?

— Sim.

Disse a garota que beijou o irmão da melhor amiga só para fazer ciúmes no ex. Se Camila nunca perdoou o Matheus, que apenas terminou com ela, sem traição nem nada do tipo, ela não perdoaria, em hipótese alguma, uma amiga que tem beijado às escondidas o garoto que ela gosta.

— Eu não acredito nisso nem por um segundo — desdenhou Catarina.

— Ok — admitiu Camila. — Talvez eu não a perdoasse, mas gostaria de saber. — Ela se virou diretamente para Cata, estreitou os olhos e disse: — Você está perguntando de mais, senhorita Catarina, o que fez?

Manual (muito útil) de como sobreviver ao Ensino Médio || EM REVISÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora