um poema absolutamente medíocre

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um poema absolutamente medíocre

Revelei retratos de dias ensolarados
Todos exibem cores frias
Percebo que a cama esteve sempre vazia
E os lençois nunca estiveram limpos

As minhas expressões são vagas

Embalados em medo
O mesmo medo constante
Nas canções de ninar
Nas faces dos nossos pais e mães
As vezes desconfio de que isso é tudo que há
Mas meu medo é leve e bobo
É fútil e felpudo, meu medo
Feito de carne podre
Como qualquer medo
Feito de sinapses meu medo
Fabricado nos neurônios
Meu medo
Tão racional
Quanto todo medo
Eu não vi o terror e a desgraça
Eu não vi os medos mais miseráveis
O medo dos miseráveis
Eu não vi desespero até hoje
E eu já tenho medo
Medo que se revolve
Por enquanto eu penso no medo nos olhos da atriz
E das crianças feitas de boneca do pior modo possível
E nenhum medo é grande o suficiente
Medonho o sufiente
Você não se colocaria no lugar das crianças
Jamais se colocaria
Talvez almeje ser aquela atriz
Eu sinto pena de mim mesma
Do quanto somos mesquinhos
Nós
Todos nós
Mas o meu medo é inquebrável
Como todo medo
E é tão frágil que eu o quebro com uma colherinha de sobremesa
E esqueço
Porque é o jeito
Porque sou inútil e incapaz
E impotente, principalmente impotente
Por isso espalho palavras letárgicas
E ouço cancões infelizes
Eu estive tão confusa
Que mesclei dois poemas
Claramente diferentes
E péssimos
Ambos ridículos
Mas está bom assim
Tá tudo bom
Outro dia
Estava quase lá
E depois novamente não estava
Mas ensaiei sorrisos
Porque eu devia ao menos tentar
E vi um filme
Me senti contente por 70 minutos
E mantive o disfarce
Se eu posso fingir tão bem de forma que você acredite
Talvez eu possa fingir tão bem de forma que eu acredite
E a pergunta não é
De quantas mentiras eu tenho me convencido,
É se existe verdade

Bem, talvez se eu não tentasse ver além
Eu enxergasse alguma coisa afinal

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