sete portas, sete paredes

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mais uma vez, rasteja em minhas veias
exala uma nota frutada, guia meus ventos confusos
me diz que ninguém mais me quer, e ainda assim sou tudo
eu caio sempre nesses braços sujos, nessa boca fria
que me tira a imensidão, eu me sinto vazia

eu não falo de VOCÊ,
ao menos nunca mais falei
aprendi a engolir as lágrimas
ou pelo menos sair de fininho
não quero carregar comigo nossas cinzas
não posso mais, e tu desistiu a tanto tempo
já perdeu a validade, eu sei, mas ainda dói
dá vontade de xingar, de fazer uma fogueira
mas eu não falo mais de VOCÊ

são outros delírios que me invadem,
sombras brilhantes. facas amorfas. agulhas quentes.
cicatriz de sangue branco em blusa vermelha. desdém.
bilhetes indecentes.
meu pescoço derretido sobre a cena
para a qual eu volto tão... pequena
eu fujo e quebro os vasos, um a um
e me perco na soberba dos prédios
No tédio preguiçoso desta pena

minha mesma, você vê? minha mesma

alma dilacerada e nua
a asfixia ressarcida de gula
aprisionando tua pele, minha, tua
luxúria discípula
dos traços riscados em muros
e portas de banheiros e paredes uterinas
é neste solo fértil e puro
banhado de águas salinas
e da ira de homens avarentos e cruéis
que me pergunto ajoelhada
enquanto amontoados de fiéis
revestidos de inveja e insanidade
rezam pelas entranhas da cidade
"somos todas órfãs do verbo?"
somos todas ou somente eu
divagando na superfície
cega dentro de mim

CarneOnde histórias criam vida. Descubra agora