Para você é isso que eu sempre fui: Alguém fácil. Tão fácil. Toda brisa que passa toma de mim um pedaço, e o carrega em suas voltas lamuriosas até morrer numa montanha. Fácil destruir quem se despedaça. Eu estou sempre aqui e você vem e vai como bem entende, como os ventos você me afaga e me arrasta. Eu digo que basta! Não mais! Mas eu só consigo querer mais um pouco. Um pouco mais a cada pouco tempo repetidamente até o fim dos meus dias. E no fim não importa que você se vá, se eu quero mesmo que você volte, que venha, não importa como, quando, por quanto tempo. Não importa se eu digo que estou exausta e você é uma sombra, eu não quero que você vá, eu não gosto do sol. Seja minha caverna.
Queria saber porque você volta. Porque você me procura a cada esquina. Porque você insiste em me puxar da sua memória de volta às suas pupilas quando começa a me esquecer. Porque você não se conforma em viver sem me importunar quando finalmente arrumo qualquer tipo de distração. Porque você não se livra desse fardo marcado de sangue. Porque você me pede perdão e me perdoa e chora e treme agarrando as pernas no escuro. Você é imoral. E eu te quero tanto.
Queria saber porque você não fica. Se você sempre acha o caminho de volta, não importa por onde escolha caminhar. Se a dor seria tão menor apenas se você permanecesse, se admitisse que você volta porque quer, e não adianta ir, mudar o caminho, a direção, o destino sou eu. Queria saber por que eu nunca vou embora, também nunca te procuro. Poderia dar um fim a este teatro cruel, mas seja dita a verdade: eu estou aqui, sempre, você sabe.