Eu fantasio que você vem até mim e me encontra em uma tarde de quarta-feira exibindo um sorriso plácido. Morta. Na minha imaginação eu não estou malcheirosa, tesa ou cercada de moscas em uma poça de sangue e secreções. Eu também não estou em um inferno horrendo e inimaginável onde só há terror e maldade, eu te assisto com o meu rombo finalmente preenchido; mais importante: na minha imaginação eu estou em algum lugar, e eu continuo sendo. Dali eu te vejo, perplexo e angustiado, percebendo o quanto me amava apesar de tudo e por causa de tudo, você me chama e me chama e me chama e eu fico feliz por ouvir meu nome na sua boca outra vez; eu não me importo que você pareça tão desesperado, mas eu gostaria de responder.
Você se pergunta o que vinha fazendo até esse momento se teria parte da culpa então decide que é merecedor de punição e procura uma faca mas não encontra e volta porque não quer me deixar sozinha agora que eu já não posso estar contigo e agarra uma caneta e arranca sangue de si enquanto eu apenas quero que aquilo PARE.
Abraço Deus enquanto ele fala em gestos imóveis que cuidará de você. Você se acalma e resolve acreditar plenamente que me encontrará um dia. Você é tão delirante quanto eu. Te espero. Nunca acabamos. Você me ama igual; não acontece o pior; tudo é mais bonito; na minha imaginação.
