figuras

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É como um urso meio de pano meio de carne meio de mofo que me arranha as entranhas com muito gosto. É como dois insetos copulando que pousam dentro da minha garganta.

É comida ruim e ao mesmo tempo estragada. Peço um copo d'água e antes recebo a conta.

São um bando de larvas nojentas. Uma pupa eclodiu. Há uma nuvem de insetos ricocheteando.

Eu gostaria de viver em uma casa sem espelhos. Depois de olhar muito tempo uma mesma palavra ela estraga; perde o sentido. Eu perco os sentidos apenas com a idéia. E sinto dor.

Enquanto respiro lembro que não é como nos livros: muito espaçado e definido. Em todas as ilustrações é muito claro e muito rosa. Tudo na mesma paleta de cores pastel.

Eu finjo que todas as coisas horríveis não existem. Me esqueço daqueles que morrem de inanição e dos trabalhadores que exumam corpos. Eu nem reconheço a palavra. É literalmente um buraco úmido, escuro e vazio. A noite eu sinto um frio estranho e não consigo dormir.

Devia estar feliz porque primeiro o corte não inflamou e depois não foi tão grande. Mas se eu hiperbolizo tanto imagine daqui a alguns anos. É que não suporto o fardo de nada fazer sentido.

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