Capítulo 08

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Rachel não se atrevia a falar nada. Ela havia conhecido uma nova faceta de Dominic. Uma que ela não conhecia.

E pelo olhar de Sam, uma que ela deveria temer.

O silêncio dentro do carro, entretanto, estava se tornando insuportável.

Timidamente esticou a mão e ligou o rádio, sintonizando numa estação de jazz.

Dom tirou a mão do volante e desligou o rádio bruscamente.

Ela não aguentava mais. Queria falar com ele. Entender. Se comunicar.

Só precisava compreender o que se passava pela cabeça dele naquele instante.

O mais prudente era ficar calada e esperar a raiva dele passar.

Como sempre, aquilo não era do feitio dela. E como sempre, sua boca nunca dizia a coisa certa.

- Eu pensei que fosse você. Quer dizer, lá na boate.

Ela ouviu Dominic trincar os dentes, e os nós dos dedos dele apertaram o volante com tanta força que ficaram brancos.

- Não entendo o porque você ficou tão irritado.

Ele grunhiu. Uma voz lá no fundo a alertou para se calar. Novamente, ela não fez.

- Eu podia me virar sozinha. Além do mais, não foi realmente culpa do cara, afinal eu dei sinal verde.

- Te mandei ficar longe de engraçadinhos, e você vai lá e se joga nos braços de um - a voz dele ainda tinha um tom sombrio.

Rachel se virou para ele. O perfil de Dominic estava meio sombreado com a iluminação da rua.

- Porque ficou tão irritado? Além do mais, foi você que se afastou. Porque fez isso? Eu te constrangi?

Ela gemeu, embaraçada.

Fazia todo sentido. Estava dançando igual uma idiota. Ele se afastou para não passar vergonha.

- Eu precisei recuperar o controle para não te foder ali mesmo - Dom virou a cabeça e olhou para ela.

A franqueza e a rusticidade das palavras dele, a deixaram sem fôlego.

- Como...

- Eu me sinto atraído pelo belo, já te disse isso. Eu a desejei desde a primeira vez que a vi.

- Mas fui eu quem foi atrás de você - ela não conseguia entender - E se eu não tivesse ligado?

- Eu teria dado um jeito. Nem que fosse para ficar parado em frente ao seu portão até você aceitar.

Ela riu. Um pouco da tensão se dissipando.

- Meu pai chamaria a polícia, achando que você estaria vendendo drogas na porta da nossa casa.

- Que absurdo - a voz dele estava bem humorada - Ele não reconheceria uma celebridade como eu?

Ele piscou para ela.

- Ela não é fã de luta.

Dom riu, enquanto parava num sinal vermelho.

As ruas estavam desertas naquele momento.

Rachel colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

- Você me assustou lá na boate. Poderia ter matado aquele cara.

- Poderia - ele concordou.

Rachel chupou uma respiração. O sinal abriu, e Dominic avançou.

- Eu já te falei que tive um começo difícil na vida - a voz dele era taciturna - Tenho muitos fantasmas. E vícios para afastá-los. Eu nunca senti o que você me fez sentir. Você me faz querer ser melhor.

O coração dela disparou. Ainda estava assustada com aquela nova faceta que fora revelada dele, mas ao olhar para o lado, o mesmo rapaz de antes estava ali.

Ela estava confusa.

Para quebrar o momento, resolveu tentar ligar o rádio outra vez. Quando os primeiros toques da música começaram, Dominic encostou o carro ao lado da calçada.

- O que está fazendo? - ela perguntou em pânico.

Talvez ele estivesse furioso outro vez, e fosse largá-la ali. No meio da noite e sozinha.

Ele não respondeu. Apenas desceu do carro e, largando a porta aberta, deu a volta e abriu a porta do passageiro.

Em silêncio, soltou o cinto de segurança e a puxou do veículo pela mão.

- Dominic?

Ele a puxou para a rua, antes se curvando para dentro do carro e aumentando o volume do som.

Dom colocou as mãos na cintura dela, e a puxou contra seu corpo.

Pés, não me falhem agora

Levem-me até a linha de chegada

Todo o meu coração se rompe a cada passo que dou

Mas eu estou esperando que os portões

Digam-me que você é meu

- Acho que nossa dança foi interrompida antes - ele sussurrou perto da orelha dela - Estou recomeçando.

- Estamos no meio da rua! - ela protestou rindo.

- Confie em mim - ele respondeu simplesmente.

E ela confiava.

Andando pelas ruas da cidade

É por engano ou desejo?

Sinto-me tão sozinha numa noite de sexta feira

Você pode começar a se sentir em casa

Se eu te disser que você é meu

É como eu te disse, querido

Dom a girou, e então a puxou contra seu peito outra vez. A conduzindo numa dança lenta.

Não me deixe triste, não me faça chorar

As vezes o amor não é suficiente

Quando o caminho se torna difícil

Eu não sei por quê

Continue me fazendo rir

Vamos ficar loucos

O caminho é longo e nós continuaremos

Tente se divertir nesse meio tempo

Rachel pisou no pé de Dom sem querer. Ele gemeu como se tivesse doido.

Ela murmurou um pedido de desculpas baixinho, mas ele apenas riu em silêncio, e beijou o alto de sua cabeça, assegurando que estava tudo bem.

Venha e dê um passeio pelo lado selvagem

Deixe-me te beijar na chuva

Você gosta de garotas insanas

Escolha sua última palavra

Está é a última voz

Por que você e eu

Rachel apoiou a cabeça no peito amplo e musculoso de Dominic. Sentia-se segura ali. Como se aquele fosse o local ao qual ela pertencesse desde o início.

Nós nascemos pra morrer.

Foi naquele instante, dançando no meio de uma rua vazia na madrugada, que Rachel Clarke percebeu que estava totalmente apaixonada por Dominic Lazar.

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