Bônus II - Primeiro Encontro

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Rachel (p.o.v)

Estou cansada. E com calor. Meu Deus, que calor! Deve estar fazendo uns 80 graus.

Ergo o olhar para o céu e faço uma careta. O céu está limpo e azul. Nenhum sinal de nuvens, a não serem aquelas branquinhas, que se desvanecem no céu. Não aquelas grandes e escuras, que prenunciam tempestade, sabe? São as minhas preferidas.

Mas a quem eu quero enganar? Não tem esse tipo de chuva aqui no Texas. Só Sol. Quente e irritantemente brilhante Sol.

Minha mãe diz que uma dama não transpira. Ela brilha.

Bom, mamãe, estou brilhando como uma porca agora.

Minha camiseta está com aquelas pizzas horríveis debaixo do braço e dos seios, meu cabelo está oleoso e bagunçado e mesmo sem um espelho sei que minha maquiagem está precisando de retoque.

Acho melhor pegar um ônibus para casa. Olho na bolsa e caço algumas moedas.

Graças a Deus! Tenho o valor da passagem.

Passei a manhã inteira procurando emprego e não encontrei nada. Dallas é uma cidade quase que inteiramente rural. As propriedades de terras e suas plantações e pecuária são imensas e produtivas. A maioria até exporta para o exterior.

Entretanto na parte comercial e empresarial não é lá muito difundido. Então conseguir um emprego que me dê uma chance de crescer na vida aqui é quase impossível.

Não tenho condições para pagar as despesas de uma faculdade. Pelo menos não de nenhuma das quais meus pais querem que eu vá.

Estou me sentindo impotente e fracassada. Quero fazer algo com a minha vida. Algo útil. Algo que me fizesse bem. Não que me trouxesse felicidade, mas que me fizesse feliz, entende?

Há mais uma pessoa comigo no ponto. Uma moça que deve ter a minha idade ou ser alguns anos mais velha... Ou mais nova. Ai, droga, sou uma merda para deduzir a idade dos outros.

Uma vez falei que meu primo Bob tinha três anos. E ele tinha sete. E já estava na escola... E eu falei que era porque ele era muito pequeno e então todo mundo ficou me olhando estranho... Enfim. Agora eu sei que o Bob tem sete.

A mulher está mexendo no celular e nem olha quando me aproximo e me sento ao seu lado.

Solto um suspiro involuntário quando me deixo cair no assento. Meus pés estão super doloridos de andar e estou com algumas bolhas.

Pego meu celular e olho a hora, calculando mentalmente quanto tempo vou ter que esperar até o próximo ônibus.

Já que tenho um tempinho de espera, fecho os olhos e encosto a cabeça contra a parede para relaxar um pouco. Alguns minutos e ouço o ronco de uma moto parando e um leve ofegar feminino.

Abro um olho, curiosa com o motivo que levou alguém tão focada em contar a uma tal de Phoebe sobre se deveria ou não terminar seu namoro com Josh e usar o dinheiro do presente dele para comprar duas saias Miu Miu que estavam em liquidação. (Não que eu estivesse lendo as mensagens dela, só que o celular era daqueles modelos telha, sabe? Que são fininhos e com as telas grandes parecendo uma telha?), a desviar a atenção da tela.

Oh meu Santo Pai Amado! Havia uma Harley. Uma Harley verdadeira. Preta, reluzente e com aqueles guidões afastados. E encostado nela estava o motivo.

E que motivo. Era muito alto, e estava vestido de couro da cabeça aos pés. A jaqueta era de mangas compridas, mas eu era capaz de apostar que ele tinha tatuagens por baixo.

Ele tinha cabelos negros e sedosos, as pontas quase tocando os ombros (que eram bem largos, por sinal) e tinha volume (tipo o cabelo do Ian Somerhalder na terceira temporada de The Vampire Diaries), e olhos claros.

Me remexi no banco, senti um calor entre minhas coxas, e tentei não ficar encarando. O cara parecia um anjo, mas se vestia e tinha atitude de um traficante.

- Precisa de uma carona?

Senti os pelos dos meus braços se arrepiarem. Nossa que voz ele tinha. Comecei a devanear como seria ouvir o meu nome sussurrado naquela voz...

Alguém deu um pigarro alto e eu percebi que era o Moreno Misterioso. Ele me encarava com ar divertido, segurando o capacete embaixo do braço.

Senti minhas bochechas quentes ao notar que ele estava falando comigo.

A moça ao meu lado estava fazendo de tudo para ser notada, até havia guardado o celular e agora se ocupava em arrumar o decote e ajeitar o cabelo.

- Minha mãe me ensinou a nunca aceitar carona de estranhos - sorri.

Aimeudeus! Aquela era mesmo a minha voz? Eu tinha praticamente ronronado!

Não ia flertar, nunca fui boa nisso e estava fazendo papel de ridícula. Tentei adquirir uma postura mais comportada. Ele não pareceu notar a diferença.

Ainda não sei dizer se isso é bom ou ruim.

- Não seja por isso. Sou Dominic.

Dominic! Puxa, o nome combinava perfeitamente com ele.

- Rachel - balbuciei.

- Agora que fomos apresentados aceita a carona?

Olhei para a Harley. De jeito nenhum eu subiria naquilo. Não sou suicida.

- Não, obrigada.

Ele não se deu por vencido. Continuou me avaliando com aqueles olhos lindos e perturbadores.

- Você trabalha com o que?

- Não estou trabalhando no momento - suspirei cansada.

Pareceu que para ele o Natal tinha chegado mais cedo. Um sorriso torto iluminou seu rosto.

- Sou lutador, e estou procurando uma assistente. Pago um bom salário.

Ergui uma sobrancelha inquisitiva. Ele deu de ombros.

- Você se encaixa no perfil. Podemos marcar uma reunião para conversarmos melhor e negociar um contrato.

Com o canto do olho percebi a garota me encarando com o que só podia ser descrito como inveja pura.

Já estava abrindo a boca para negar quando pensei melhor.

- Não sei...

Dominic colocou a mão dentro da jaqueta e tirou um cartão que estendeu para mim com uma mão enluvada.

Eu o peguei e as pontas de nossos dedos se tocaram levemente.

- Estarei aguardando sua ligação, Preciosa - ele subiu na moto, colocou o capacete e deu partida.

A garota estava me encarando com os olhos arregalados do tamanho de pratos.

Olhei para o cartão. Era simples e masculino. Tinha o nome dele (Dominic Lazar - Darkside) e um número de telefone.

O ônibus apareceu e eu dei sinal. Assim que entrei e me sentei, olhei outra vez pensativa para o cartão.

Não. Sei chance. Isso nunca iria dar certo.

Dei um pequeno sorriso e amassei o cartão, afinal eu nunca mais iria ver Dominic na minha vida.


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