Medo

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Ester narrando

Eu comecei a ler a carta então:

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New York, 13 de março de 2016.

Eu nem sei como começar essa carta. Não fazem nem 24 horas que nos separamos e aqui estou eu, já morrendo de saudades suas. Olha, eu quero que você saiba, que não importa se nos apaixonamos em uma semana, se os outros pensam que é passageiro... Eu sei que é meio clichê, mas somente nós dois podemos determinar o que se passa entre nós. Eu realmente amo você e não importa o tempo que levei para chegar a essa conclusão, o que importa é que pela primeira vez, é real. Agora, você está aí, e eu aqui. Que ironia do tempo. Só quero que você seja feliz, mas quero especialmente que seja feliz comigo. Não se esquece que aqui do outro lado do continente, existe uma pessoa que te ama e que quer o seu bem. Não se esqueça de mim, por favor. Amo muiiiito você.

                               Lucas.
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Eu me peguei sorrindo ao ler tudo aquilo e a Jess e a Lena vieram correndo até a minha cama e se sentaram ao meu lado.

Elas leram a carta e ficaram sorrindo feito duas idiotas, igual a mim.

_Caraca! Cadê a foto desse garoto? Que fofo! -a Jess disse desesperada me olhando. A Lena agarrou o meu braço e ficou me olhando igual a Jess.

_Eu não tenho nenhuma foto dele gente. Eu mostro para vocês na internet no feriado.

_Mas no feriado nós vamos para a casa! -a Lena disse e me olhou com os olhos brilhando.

_Eu mando para vocês por mensagem. -eu disse e elas sorriram.

_Tudo bem. -elas disseram em uníssono.

Eu me deitei na cama e as duas foram andar um pouco pela escola. Eu peguei a carta e coloquei perto do meu nariz. Respirei, absorvendo aquele cheiro bom que estava grudado no papel e me imaginando com ele, ali, do meu lado. Naquele instante.

Eu deixei a carta encima da cômoda e saí do quarto.

_Ai! -eu disse quando alguém se esbarra em mim. Eu olhei para cima e percebi que o Bruno me olhava rindo.

_Foi mal. -ele disse e eu recuei um passo, pois estávamos perto. Perto demais.

_Você me assustou. -eu disse e ele riu.

_Percebi. -disse rindo. -Você quer ir até a quadra assistir o treino?

_Pode ser. -eu disse. Não seria tão ruim, eu não tenho mais nada para fazer mesmo.

Nós fomos até a quadra e o Bruno me deixou sentada na arquibancada e foi para o campo.

Ele realmente joga muito bem e quando fez um gol até apontou para mim e sorriu. Eu comecei a aplaudir quando ele fez aquilo e sorri.

Depois do treino eles foram para o vestiário e o Bruno falou para eu esperar um pouco que ele já estava voltando.

_Como tá indo com o Bruno? -o Pedro perguntou se sentando ao meu lado na arquibancada.

_Eu acho que ele tá bem. -eu disse e o Pedro riu.

_Você sabe do quê eu estou falando. -ele disse e eu arqueei as sobrancelhas.

_Na verdade, não. Do que você está falando?

_Qual é, ele tá a fim de você. Vai dizer que ainda não percebeu? -ele disse rindo e eu permaneci séria.

_Eu tenho namorado Pedro. -eu disse e ele parou de rir e me olhou chocado.

_Podia ter falado isso antes né? -ele disse e eu neguei.

_Vocês não me perguntaram ué.

_Beleza então. Vou nessa. -ele disse e foi para o vestiário.

Que droga! Eu pensei que o Bruno queria ser só um amigo. Isso pode parecer besteira, mas não é. Não vou conseguir olhar para ele do mesmo jeito de antes. E eu não queria perder uma amizade por conta disso.

Quando o Bruno voltou, se sentou ao meu lado e me olhou de relance ao perceber que eu estava olhando para o chão.

_Tá tudo bem? -ele perguntou colocando uma das mãos no meu ombro e a outra no meu queixo, aproximando seu rosto do meu.

_Claro. -eu disse e o olhei. -Tá tudo bem sim. -eu disse e me afastei um pouco dele. Eu tirei a mão dele do meu ombro e o encarei. -Eu tenho namorado, Bruno.

Ele me olhou assustado e recuou o rosto que estava se aproximando do meu.

_Por... -ele travou. -Como?

_Eu não sei, acho que me esqueci de te contar isso. Me desculpa. -eu disse e ele balançou a cabeça.

_Tudo bem. -ele disse depois de um tempo. -Podemos ser apenas amigos, se você quiser.

Eu assenti e ele forçou um sorriso. Eu me senti meio mal por ele, mas o quê eu poderia fazer naquele momento?

Nós saímos de lá e ele me pagou um sorvete. Nós conversamos bastante, mas percebi que nós não tínhamos mais aquela coisa. Ele não sentia mais tanta liberdade assim ao falar comigo e aquilo estava me incomodando de verdade.

_Eu acho melhor eu ir para o meu quarto. -eu disse quando percebi que o assunto tinha acabado.

_Tudo bem, eu te levo até lá. -ele disse se levantando e vindo até mim.

Ele me levou até a porta do quarto e por conta do horário os corredores estavam praticamente vazios.

_Então é isso. -ele disse batendo as mãos nos bolsos da calça.

_É... É sim. -eu disse olhando para o chão e ele suspirou.

_Boa noite Ester. -ele disse e sorriu.

_Boa noite. -eu disse e ele foi andando pelos corredores e eu acompanhei seus passos com o olhar até ele desaparecer.

Eu entrei no meu quarto devagar para não acordar a Helena, que já estava dormindo.

Eu me deitei na minha cama e fiquei olhando para o teto por um bom tempo. Não consegui dormir tão cedo.

Não era saudade. Bom, na verdade, era um pouco. Mas era especialmente culpa que eu estava sentindo naquele momento.

Eu errei em não contar para o Bruno sobre o Lucas. Eu errei, e quem ficou triste foi ele. Eu errei e não consigo mais tirar isso da cabeça. Não consigo dormir, por medo de que quando eu acordar não seja mais a mesma coisa.

Tenho medo que ele não me perdoe. Tenho medo de não ver o Lucas tão cedo. Tenho medo de perder as pessoas que eu gosto. Tenho medo.

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