Espero que não tenha sido uma omissão de minha parte eu não ter falado sobre mim mesmo. Me chamo Paladin. Profissão: Mago. Ah, e eu sou um halfling, então, não fica muito difícil de se chegar à conclusão de que eu não vivo minha ideia de uma vida normal.
- Pega ladrão!
- Pega!
- Ele roubou o que é meu!
- Peguem ele!
- Peguem- no!
Chega à ser decpcionante saber que os de minha raça - que, por ser a única que não tem inimigos nessa guerra, deveria ser a raça mais inteligente - na verdade eram tão idiotas que eram incapazes de imaginar (ou muito preguiçosos para tentar imaginar) algum assunto melhor sobre o qual pensar ou falar. Era só uma pêra! E das pequenas e sem gosto, ainda por cima. Aquele vendedor definitivamente não tinha nenhum afeto especial por ela, e não ganharia pela venda dela mais que um par de moedas de vil metal que, na verdade, eram muito mais do que ela valia. E, depois, uma vez, um deus, não me lembro qual, disse que roubar para comer não era pecado. Pois ele parecia ser o único deus que me ajudava nessa vida.
Como já disse, sou um mago, mas quem me via não coloca a sílaba "pa" no começo da palavra. Eu, basicamente, vivia como um ladino – ladrão é a palavra mais adequada -, roubando para comer e dormindo nos becos e telhados daquela cidadezinha que era para nós, halflings, o que super ultra mega hiper giga metrópoles eram para as demais raças. A versão halfling das coisas sempre é menor que a original. Bem menor.
Ah, e vale ressaltar o detalhe de que, no dado momento (fim da tarde, não me lembro o dia nem o mês nem o ano), eu estava roubando uma pêra.
Não era muito difícil abrir caminho por aquela definitivamente- não- tão- grande feira, pois ninguém queria ser atropelado por um rapaz correndo muito menos ficar no caminho de um ladrão, então, o pessoal tinha o costume suficientemente anti- ético de me deixar passar. E eu agradecia à eles por isso.
Mas eu sabia mais que ninguém que nem todos no mundo são meus amigos, muito menos inteligentes ou sensatos. Eu não tinha corrido nem vinte metros (o que, para alguém do meu tamanho, na verdade, é muita coisa) quando um magricela com cara de idiota, mais ou menos da minha idade e vestindo roupas brancas ensanguentadas, se intrometeu na minha frente, tentando bloquear minha passagem com um cutelo que, na mão dele, parecia uma espada longa de folha larga. O homem que quer melhorar o mundo, mas é completamente incapaz de fazê- lo. Um estereótipo clássico.
Até aquele momento, ninguém havia adicionado um "pa" ao que eles pensavam que eu era, e continuar me aproveitando da ignorância e ingenuidade, terrivelmente típicas de minha raça, tinha suas vantagens. Eu poderia muito bem ter derrubado ele com magia, mas simplesmente saquei minha faca – que, verdade seja dita, na minha mão, também parecia uma espada – e me preparei para ver o quanto aquele açougueiro sabia de esgrima. E, quando cheguei perto o bastante dele, o cutelo dele acabou nem tendo participação na história: simplesmente dei um golpe superficial em seu peito, e ele gemeu de dor e cambaleou para o lado. Não adianta, sem treinamento ou experiência, não dá para querer lutar.
Sim, aquilo, obviamente, arrancou gritinhos histéricos do pessoal que estava comprando na feira, assim como dos vendedores, mas não foi nada comparado ao que fiz em seguida, contra outro estereótipo que entrou na minha frente: A pilha de músculos descerebrada que tem que arranjar uma desculpa para mostrar para todo mundo o quanto é forte. Aquele cara tinha braços grossos o suficiente para bloquear golpes mais fracos e levianos, e, tendo quase a altura de um humano (certo, certo, também não vou exagerar), não se renderia com pouca luta. Mas, felizmente, a distância que ainda me separava dele era grande o bastante para me permitir pensar. Dei uma olhada rápida no que ele vestia: estava sem camisa e com calças de couro, mas, não sei porque cargas d'água, ele estava descalço (talvez, por ser idiota demais para saber o que eram sapatos). Perfeito.
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A Coroa da Sabedoria
FantasyEntão... uns tempos atrás, eu e uns amigos tínhamos a ideia de fazer um jogo. É claro que nunca saiu do papel, pois plano de adolescente nunca dá em nada, mas enfim: eu era o responsável por escrever as histórias dos personagens, e pelo menos a minh...