História do Centauro

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Espero que não tenha sido uma omissão de minha parte eu não ter falado sobre mim mesmo. Me chamo Glorcalan. Profissão: guerreiro. Ah, e eu sou um centauro, então, não fica muito difícil de se chegar à conclusão de que eu não vivo minha ideia de uma vida normal.

Swin.

A espada voou da mão do garoto. Ele foi até ela, pegou- a e investiu novamente contra mim, fazendo tudo errado, se esquecendo de tudo o que eu lhe ensinei e sendo novamente desarmado por mim, menos de cinco segundos depois. Eu havia perdido as contas de quantas vezes eu o desarmara hoje lá pela quadragésima segunda, mas certamente a centésima vez à muito se fora. E, só enquanto você lia isso, eu já desarmei ele mais umas sete ou oito vezes. E mais uma, enquanto você lia aquela última frase, na qual eu dizia que desarmara ele sete ou oito vezes. E mais uma, enquanto você lia esta outra... ah, você me entendeu (e mais uma) (e mais uma) (e mais uma... certo, parei).

E assim estava todo o pátio daquele castelo: cheio de instrutores entediados que treinavam jovens que cresceram na engorda e lendo aqueles livros todos iguais escritos justamente para a idade deles (só eles para não perceber que os ingredientes são diferentes, mas a fôrma é sempre a mesma), e que achavam que seriam o guerreiro mais bravo do mundo (só pode haver um guerreiro mais bravo do mundo, mas todos o seriam. Lógica adolescente... ignore, meu caro, ignore, todo mundo é idiota nessa fase da vida...). Eu, assim como todo mundo ali, havia sido transferido para o treinamento de recrutas por "Prestar muitos anos de serviço ao Reino do Centauros e, portanto, merecer um cargo menos perigoso no Exército dos Centauros", o que certamente era uma maneira muito educada de se dizer que eu era um velho caduco que já não prestava para mais nada. Quando o funcionário do Rei veio me dizer isso, eu só não dei uma machadada na cara dele porque era a espada que estava na minha mão. É a vida.

Depois de uma que bem que poderia ter sido a ducentésima (ou a bilionésima) vez que eu desarmava o garoto, ele, ao invés de ir buscar a espada e avançar contra mim (do jeito errado) de novo, ele me olhou nos olhos, tendo no rosto um sorriso malignamente retardado, e falou:

- E então, ainda quer continuar?

- Na verdade, não – falei, entediado -, primeiro, porque eu estou vendo que você não vai aprender nunca, pois é retardado demais para ser soldado e, depois, porque eu quero chegar em casa de uma vez, porque hoje foi extremamente tedioso, isso daqui.

Ele deu uma risada que teria sido maléfica se ele não tivesse só dezoito anos de idade.

- Desculpas, desculpas... você realmente acha que eu não sei a verdadeira causa de você não estar mais disposto à me desafiar?...

- Mas o quê...?

- ...Você acha que não conheço seu medo?

- Mas do que é que...?

- É, eu sei como é, temos dificuldade em admitir nossas fraquezas...

- Como é que...?

- Você me teme, e sei disso. Não teme o que sou agora, mas teme o que me tornarei.

- Do que é que...?

- Me torno um guerreiro melhor à cada dia que passa. Até hoje me lembro de quando comecei...

- Claro que se lembra, foi na semana passada...

- ...lembro- me de como não tinha habilidade nenhuma...

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