História do Halfling (Parte VI)

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Naquela manhã, quando, com muito custo, meus olhos se abriram para ver a primeira luz que a vela mágica de meu quarto criaria naquele dia, minha maior vontade foi voltar a dormir, e tentei fazê- lo a todo custo, mas eu logo descobri que lutava por uma causa perdida. Depois de desistir, virei meus olhos para cima e, enquanto eu encarava o teto de mármore sujo, apenas parcialmente visível devido à pouca luz que a vela fornecia, listei todos os problemas que aquele dia aguardava para mim.

Eu teria que tentar quebrar a magia mais forte que eu já havia visto, teria que usar meus poderes contra os da Coroa da Sabedoria que lia a mente de Angélica e entregava toda a informaçã para meu pior inimigo; Um novo plano de fuga precisava ser bolado o quanto antes, e teria que ser melhor que os dois anteriores; Angélica já havia lutado e vencido, mas, fora isso, todos os meus amigos corriam o risco de morrer lutando no decorrer do dia de hoje; Inclusive, Maena poderia estar morta agora, pois ela enfrentava a guerreira Acta, também sereia, na luta da manhã, que estava acontecendo exatamente naquele momento; Um de meus amigos com certeza não passaria daquele dia, pois Laura e Fean se enfrentariam hoje à noite (o que me fazia hoje ser o último prazo para eu ele, juntos, conseguirmos quebrar o encantamento da Coroa, pois talvez ele não vivesse para me ajudar amanhã)... e o que mais, mesmo?

Tentei pensar em mais itens para a lista, obviamente mais por eu pensar que certamente haviam mais coisas do que por eu querer mais problemas, mas, na verdade, tive a sorte de não conseguir me lembrar de mais nada – e, depois, percebi que muitos desses problemas eram relativos à batalhas de gladiadores nos Sete Coliseus das quais eu não participaria e cujo resultado eu não poderia mudar, a menos que cometesse uma histórica sexta infração, que sem dúvida acarretaria em uma morte duas vezes mais certa do que aquela que as leis dos Coliseus me prometera quando cometi minha terceira infração. Enfim, tentei pensar em coisas mais positivas – falhei miseravelmente –, e levantei da cama.

Eu tinha que começar a trabalhar para quebrar a magia da Coroa o quanto antes, mas, como Angélica certamente estava, naquele momento, assistindo Maena estripar/ ser estripada/ ambos, eu teria que esperar até a luta terminar. Eu não sabia quanto ainda faltava para o meio- dia, mas cada segundo é precioso quando se está nos sangrentos Sete Coliseus (ou não), por isso, saí daquele quarto e me dirigi para a biblioteca de Nkazón, que eu visitava mais frequentemente do que os melhores amigos do mundo visitam uns aos outros. Eu me perguntava se ainda havia algo lá que eu pudesse ler, quando, à minha direita, uma porta me atacou.

Ambas as minhas mãos já estavam tentando estancar o sangue que saía do que um dia fora um nariz um segundo depois de a porta ter me atacado. A dor definitivamente não era algo feliz, mas eu há muito já me acostumara com coisa pior, então, consegui usar pelo menos uma parte do meu cérebro para tentar descobrir porque é que aquela porta era tão mal- educada, quando todas as outras que eu conhecia costumavam ser tão perfeitamente obedientes à vontade de quem põe a mão na maçaneta. Mas não tive tempo de pensar nem precisei fazê- lo, pois Círdan logo saiu de trás da porta sem educação, uma mão ainda na maçaneta.

- Sabe, eu... - comecei a falar, ainda com as mãos em meu nariz esmagado, quando ele pegou na parte de trás de minhas roupas e me ergeu, até os quatro olhos ali presentes estarem no mesmo nível. Por um momento, pensei em espernear. Se aquele não fosse um momento tão inapropriado, eu teria rido de minha própria ideia idiota.

- Saudades de mim? – disse ele, com o sorriso menos agradável do mundo no rosto – Porque eu estive te procurando desde o nosso primeiro encontro.

- Essa não foi a coisa mais heterossexual que você disse hoje – falei, tentando soar normal apesar da dor e da maneira estranha como as palavras saíam por causa do jeito como meu nariz estava.

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