Espero que não tenha sido uma omissão de minha parte eu não ter falado sobre mim mesmo. Me chamo Roberto. Profissão: Bárbaro. Ah, e eu sou um meio- dragão, então, não fica muito difícil de se chegar à conclusão de que eu não vivo minha ideia de uma vida normal.
"Irmãos de armas" é um termo interessante. Se eu sou irmão de armas daqueles que têm a mesma patente que eu, então, meus superiores seriam meus "pais de armas" e meus subordinados seriam meus "filhos de armas", assim como os superiores dos meus superiores seriam meus "avôs de armas" e os subordinados dos meus subordinados seriam meus "netos de armas". O general seria o "tatara- tatara- tatara- tatara- tatara- tatara- tatara- tatara- tataravô de armas" de todos nós, e aqueles que têm a mesma patente que o meu superior seriam meus "tios de armas".
Eu pensava essas coisa enquanto estava no quartel da cidade de Anibo, fazendo umas checagens de rotina em alguns documentos, enquanto meus irmãos de armas faziam outras coisas parecidas. Você pode achar que toda essa minha filosofia é inútil e, ainda por cima, me distrai e não deixa eu me concentrar direito no meu trabalho. A verdade é que eu faço isso desde que entrei para o Exército dos Humanos e, desde então, só venho galgando patentes (não que eu me orgulhe disso, pois ter uma patente alta significa que você é um excelente assassino e amante das guerras).
E é óbvio que você acabou de se perguntar o que diabos eu estou fazendo no Exército dos Humanos, se eu sou um meio- dragão. Acontece que eu sou a única pessoa que sabe que eu sou um meio- dragão. É que, uma vez, uma cidade humana atacou uma cidade de meio- dragões que ficava muito próxima à ela, e alguém achou um menininho lá no meio. Como as duas cidades eram muito próximas, não dava para saber se aquele bebê era humano ou meio- dragão, e mandaram ele para um orfanato de humanos. Lá, ele foi pouco à pouco, à medida que crescia, descobrindo que era capaz de se transformar em um dragão, mas sempre escondendo isso de todo mundo, pois ele sabia o que fariam com ele se descobrissem que ele pertence à uma raça inimiga. Ninguém o adotou e, aos dezoito, ele foi recutado para o exército, onde ele sempre lutou como um humano, sempre escondendo sua verdadeira raça. E hoje era seu último dia de servidão. As chances de ser um dia calmo e tranquilo, onde eu finalmente poderia comemorar o fim daqule pesadelo de lutar pela Coroa da Sabedoria, eram de noventa e nove por cento. Mal sabia eu que aquele dia não seria um fim, mas, sim, um começo.
Era aquela hora terrivelmente quente que vem logo após o meio- dia quando um dos meus irmãos de armas (que mal desconfiava ser apenas um "primo de armas" ou "meio- irmão de armas" ou algo assim de mim) entrou correndo pela porta do quartel. Ele estava todo ensanguentado e com várias flechas cravadas ao redor do corpo, e eu me perguntava como ele ainda tinha forças para correr. Ele disse ao meu superior, meio que chorando, meio que gritando, meio que apavorado (pois é, três metades):
- S- Senhor, tem uma pequena tropa de meio- elfos atacando a Zona Oeste da cidade!
- Levem este homem para a ala hospitalar! – disse o meu superior, mais surpreso do que propriamente apavorado – O resto, me siga, e avisem à todos que encontrarem para me seguir também! Levem suas armas, e preparem- se para o combate! Isto não é um treinamento!
Eu sempre carrego minha espada comigo, mas não devia me orgulhar disso. Se a violência já é o último recurso do ignorante, então fica realmente difícil saber porque a guerra não é evitada à todo custo. A coisa mais importante para se ser um general é achar que riquezas, terras e uma certa coroa específica são mais improtantes que vidas, e aí está o motivo pelo qual eu me envergonho de cada patente que subo.
Com a tênue esperança de estar evitando que mais uma meio dúzia de pobres homens, que dariam muita coisa para não estar ali, fossem à guerra, não avisei ninguém, simplesmente segui meu superior. Eu sou um primeiro- tenente e ele, um capitão, mas, graças aos deuses, para mim, isso não faz muita diferença, pelo menos não à partir de amanhã.
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A Coroa da Sabedoria
FantasíaEntão... uns tempos atrás, eu e uns amigos tínhamos a ideia de fazer um jogo. É claro que nunca saiu do papel, pois plano de adolescente nunca dá em nada, mas enfim: eu era o responsável por escrever as histórias dos personagens, e pelo menos a minh...