História do Vampiro

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    Espero que não tenha sido uma omissão de minha parte eu não ter falado sobre mim mesmo. Me chamo Alec. Profissão: Paladino. Ah, e eu sou um vampiro, então, não fica muito difícil de se chegar à conclusão de que eu não vivo minha ideia de uma vida normal.

Um leigo teria pensado ter ouvido um único som de portas se abrindo, mas meus ouvidos treinados logo perceberam que, na verdade, as quatro portas (uma em cada parede) daquela sala haviam sido abertas simultaneamente. Era a primeira vez que algo assim acontecia hoje. Isso vai ser interessante, pensei.

Ouvi um zumbido, vindo da minha frente. Me concentrei, e parei o que vinha em minha direção. Definitivamente, pouco importava se aquilo era uma flecha ou um faca de arremessar.

De repente, passei à sentir um pouco menos o chão sob meus pés. Eu havia me distanciado um milímetro do solo. Me concentrei para tentar fazer um grande círculo de magia negra em volta de mim, e, quem quer que estivesse me erguendo com suas habilidades de paladino, se desconcentrou com a dor extrema que devo ter lhe causado.

Ouvi um som de metal raspando contra mais metal, vindo de trás de mim. Me concentrei naquela direção, e aquela espada voltou para a bainha, não por vontade do guerreiro ou bárbaro que a possuía, mas, sim, por minha vontade.

Ouvi um som que parecia ser um zumbido, mas logo reparei que eram dois zumbidos, emitidos praticamente ao mesmo tempo. O som veio da direita, e me concentrei no lugar do meio do ar onde eu calculava que estavam as duas flechas (ou duas facas). E, controlando- as apenas com o poder de minha mente, eu as fiz voar por toda a sala. Ouvi muitos gritos de dor – quatro vozes diferentes, como eu pensara.

Mas, depois de uns quarenta segundos, eu ainda sentia as facas (ou flechas), mas era muito difícil para mim controlá- las e fazê- las matarem alguém. Eu sentia que elas estavam à minha esquerda. Me virei nessa direção, e, finalmente, abri os olhos.

E vi um jovem, certamente com menos de vinte e cinco anos, segurando cada faca com uma mão, e dando tudo de si. Ele estava todo ensanguentado, e banhado de suor, e com as veias saltadas de tanto esforço. Ele vestia roupas de paladino, e logo percebi que fora ele o imprudente que me tentara me erguer do solo, e que quase morreu no primeiro milímetro. Com certeza, ele usava todas as suas habilidades mágicas para lhe ajudar à controlar as facas, pois apenas a força de músculos não poderia segurar algo controlado por mim, nem que fossem os músculos de um gigante. Obviamente, aquele garoto ali tinha muito poder mágico, e habilidades de paladino muito desenvolvidas. Exatamente o que eu queria.

Usei mais um pouquinho de meus poderes mágicos para arrancar as duas facas das mãos dele, e as fiz cair na minha frente. Caminhei em direção à ele, e apertamos as mãos.

-Você é o tipo de vampiro que a causa precisa, amigo – falei – Qual o seu nome?

-Damian, senhor – me disse ele.

-Não mais. Agora, você será BD.

-C-Certo, senhor. Então, estou admitido, senhor?

-Você estará admitido depois que arrastar esses três perdedores pra fora daqui. E limpar essa sala.

-M-Muito obrigado, senhor! Será uma honra lutar pela causa, senhor!

-Todo mundo diz isso. Para de desperdiçar o meu e o seu tempo e vai fazer algo útil, rapaz! É exatamente isso que a causa tenta passar para os seus membros.

Enquanto BD limpava a minha sala, fui ver como estavam indo as coisas no resto do abrigo subterrâneo da causa. Eu sei, eu sei, o nome deveria ser com letra inicial maiúscula. O problema é que isso faria os membros da causa se sentirem especiais, coisa que eles não eram, nem nunca seriam. Inclusive, era também esse o motivo pelo qual a causa não possuía nenhum nome bonito que nos fizesse parecer heróis. Éramos apenas vampiros normais, fazendo o que todo vampiro deveria ter o dever de fazer, e era isso o que eu ensinava à eles. E eles se lembravam disso, sempre que reparavam que, visto por dentro, nosso abrigo se parecia um castelo de vampiros como qualquer outro, nem abaixo nem acima da média. Nós também não tínhamos mascotes, brasões, hinos, lemas ou qualquer outro tipo de símbolos, pois precisávamos nos apegar à nossos ideiais, e não à desenhos inúteis ou qualquer coisa do tipo.

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