Capítulo 1 - Gay

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Dedicado ao seu e ao meu primeiro amor.

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O sol tocava brevemente em meu rosto enquanto eu pedalava pelas ruas da pequena cidade de Waterfalls ao norte do estado, conhecida pelas torrenciais chuvas e céu nublado, então acredite quando o sol aparecia toda a cultuava com tamanha grandeza que era difícil de ver um carro nas ruas durante essa raridade.

Eu estava com os fones de ouvido escutando uma de minhas músicas favoritas e provavelmente eu estaria cantando para qualquer pessoa ouvir, eu não diria que sou uma pessoa extrovertida e muito menos tímida. Sou uma junção mal planejada dos dois o que poderia me deixar anormal, mas eu não ligava.

Então mesmo com a possibilidade de estar cantando para qualquer um ouvir, eu realmente não me importava e aumentava mais o volume do meu Iphone. E não. Eu não sou rico, este pequeno Iphone 4 de 16G foi um verdadeiro esforço de cinco meses para compra-lo guardando do pouco que eu ganho na loja de animais da cidade para comprar um de segunda mão, mas que me era muito útil.

Atravesso a avenida principal que corta a cidade toda em direção a uma pequena rua em uma das ruas paralelas a ela, ficava um enorme terreno onde ficava a minha escola. O sol estava mais forte, mas ninguém se importava, todos estavam com roupas leves e o time de futebol que geralmente usa a quadra já estavam sem camisa e jogavam no gramado da entrada do campus.

Coloquei minha bicicleta no bicicletário, arrumei os fones nos meus ouvidos e a mochila em minhas costas e sai caminhando em direção a uma mesa que ficava em baixo de uma enorme arvore que dava sombra a alguns estudantes que estavam deitados no chão. Jogo minha mochila em cima da mesa e a abro pegando minha última aquisição de leitura "Will e Will". Agora vem a pergunta mais banal que qualquer um que me vera com esse livro me perguntara:

- Não sabia que você era gay. - Aline diz sem se importar muito com o fato.

- Só porque estou lendo esse livro?

- Obviamente garotos normais não leriam, nós mulheres até achamos fofo dois homens juntos e algumas até querem trepar com um casal gay, mas somente gays, explicito, do sexo masculino, leem esses livros, você por acaso já viu o Doug lendo um livro na sua vida?

- Não. - digo em meio a um sorriso.

- Agora me responda o obvio. O que os homens leem? Nem a bula de um remédio meu caro.

- Mas eu leio. - disse ultrajado.

- A questão é que você não gosta de pepeca, a não ser que ela tenha um pau entre as pernas Noac.

- Rum - suspiro irritado.

- Eu ganhei como sempre. E por falar no diabo...

- Que?

Aline aponta para Doug que está chegando a escola nesse momento. Ele estava com uma calça jeans escura, uma camisa preta, seus braços haviam pulseiras em couro e com pingentes. Ele usava um tênis bege amarronzado. Seu cabelo era preto e liso e tinha leve topete, ele possuía uma barba media avermelhada que me deixava vidrado em olhar para ele. Seus olhos eram castanhos claros que ficavam âmbar na luz do sol. Ele era alvo e estava com fones de ouvido preso aos mesmos. Ele tinha uma vibe mais roqueiro.

- Te preserva mana. - disse Aline me cutucando.

- O que foi? - disse saindo do transe.

- Se não quiser que ela te mate - ela pontou com o biquinho da boca para Amanda, a namorada de Doug que me se pudesse estaria me estrangulando só com aquele olhar.

- Porque não fez nada para me impedir? - retruquei.

- Não queria atrapalhar seu momento gay.

- Porque não conta para a escola toda?

- Não precisa esse livrinho aí vai fazer todo o trabalho duro.

Nós rimos.

- Vaca.

- Também te amo Noac. Já decidiu parar de agir como uma bichinha?

- Me respeita Aline.

- Ou o que? Vai usar o ataque da "bambi" que por falar é deprimente até para crianças verem. Sou mais ver os Power Rangers com as Rangers rosa e amarela gritando "Hey, Hou" não parece mais o Papai Noel fora de época?

O sinal soa.

- Vamos Ranger Rosa... - digo a puxando.

- Eeeepa! Rosa não meu bem, sou quase o Ranger Vermelho.

Gargalhamos alto enquanto o amontoado de alunos se encaminhavam para os seus respectivos blocos. O colégio Elite era divido em blocos, havia o bloco A ao qual pertencia ao primeiro ano que ficava ao norte do terreno, era próximo a quadra poliesportiva. O bloco B era do segundo ano ficava ao oeste, próximo ao teatro e a biblioteca e o terceiro ano que era o meu bloco, ele ficava a leste do terreno, próximo as piscinas, campo de futebol e ao refeitório. Imponente e no centro do terreno ficava a sede administrativa da escola.

Entre as várias salas a minha ficava no segundo andar. Meu primeiro horário era biologia, me sentei em minha cadeira e joguei a mochila no chão e olhei pela janela afim de ver o movimento entre os estudantes, quando Aline finalmente se senta na minha frente. Logo em seguida Doug que se senta do meu lado esquerdo.

Doug é um garoto inteligente, apesar de ser do time de futebol e de natação ele consegue ser ter uma média intelectual bem maior do que a maioria dos brutamontes de ambas as equipes. Ele é o tipo de garoto que se mistura em meio aos nerds e é popular ao mesmo tempo. O oposto de mim.

Bem. Eu não sou o maior exemplo de popularidade. Não tenho muitos amigos, fora Aline não tenho mais ninguém nessa escola. Nunca fui totalmente comunicativo. Aline me ajudou muito a me soltar mais, mas quando nos conhecemos eu parecia um filhote assustado e ainda sou.

Me sento no final da sala pelo motivo mais obvio. Evito interação social. Gosto de ficar na minha e invisível a todos, inclusive Doug. Sempre estudei com ele, sempre observei ele de longe. Vi ele deixar de ser o garoto franzino, para se tornar o garoto forte e popular. No final das contas sou aquele garoto que só pode olhar para o cara que ama.

Sim, eu amo ele, mas sei que caras como ele nunca me olhariam. Nunca me veriam como alguém namorável. Quem namoraria um garoto magro e feio como eu? E em meio a esses pensamentos o sinal toca, assustado deixo meus livros caírem no chão aos pés de Doug. Ele olha para eles e me olha, da um sorriso e pega meus livros e coloca em cima da minha carteira. Abri minha boca pensando em dizer uma única palavra, mas não houve som.

- De nada Noac. - disse ele sorrindo e recolhendo seus livros.

Ele se levantou e não pude deixar de acompanha-lo ate a porta quando vejo Amanda. Ela me fuzila com os olhos enquanto Doug a aperta e beija seu pescoço, então se volta para ele sorrindo.

-To fudido. - suspiro por fim.

- Não sabia que atendia antes das aulas... - disse Aline sorrindo.

- Teu cú.

- Não fale do meu chip dois meu amor.

Revirei os olhos e rimos. Aline estava do meu lado enquanto nos dirigíamos até a porta da sala, quando uma garota entra na sala e pergunta algo a ela, eu continuo caminhando indo em direção as escadas quando sou surpreendido por Amanda.

- Ele é meu.

- Do que você esta falando?

- Doug.

- Não sabia que ele havia virado um objeto e de sua propriedade.

- Olha como fala comigo seu viado.

- E você vai fazer o que sobre isso?

- Isso!

A gravidade é cruel, sinto meu corpo cair devagar, mas as imagens estavam tão rápidas que eu não conseguia acompanha-las, e no instante seguinte minha cabeça se choca com um dos degraus. Houve um grito. Aline? Meus olhos ficam pesados e logo em seguida tudo...

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