O vento balançava devagar a copa das arvores. O cheiro do campo impregnava o interior do quarto, havia uma pequena movimentação de pessoas na lateral da casa, quando a porta do quarto se abre e vejo Aline com um vestido branco que ia até o seu joelho, seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo, e usava uma rasteira gladiadora que se emaranhava em suas pernas.
- Como se sente? – dizia ela sorrindo.
- Nervoso. – disse envergonhado – Foi tudo tão rápido.
- Eu imagino, mas nós sabemos que não temos muito tempo para...
Suspiro e me sento cama.
- Como ele quer casar com alguém que pode esquece-lo assim que dormi?
- Ele te ama Noac, e sempre vai amar. Você não sabe o quanto o faz feliz se casando com ele.
- Mas eu tenho medo – meus olhos se enchem de lagrimas.
- Não tenha medo e não chore... – disse ela me reconfortando – independente do que aconteça amanhã, ele estará lá para você. Ele vai esperar o tempo que for.
- Esta bem. – disse dando um pequeno sorriso. – Aqui não é um lugar lindo?
- Sim. Eu sempre venho aqui com o Doug.
- E onde ele esta?
- Sendo um pai coruja e com o noivo. – disse ela dando um sorriso.
- Alguém falou meu nome? – disse Doug com um sorriso.
Ele entrou no quarto, carregava Lucas no colo, seus olhos estavam fechados e dormia tranquilamente. Aline se aproximou dele e pegou o pequeno Lucas em seus braços e beijou o marido.
- Não morrerá tão cedo – disse brincando.
- Está quase na hora, você não quer se atrasar no seu casamento – disse Doug com um sorriso.
- Não... Doug.
- Sim. – ele me olhou atentamente.
- Me desculpe por todo o trabalho que dou a você, na verdade a vocês dois. Eu não tenho o direito de atrapalhar vocês. Me prometam que se amanhã as coisas não forem as mesmas, vocês ficaram juntos.
Ele não respondeu, apenas se aproximou e me abraçou. Seus músculos me apertaram e ouvi o estalar de minhas costas, seguido por um pequeno "ai".
- Desculpe. – disse ele sorrindo e saindo do quarto junto com Aline.
Minha mãe entrou no quarto, usava um vestido azul, tomara que caia, seus cabelos curtos estavam soltos e balançavam com o seu andar levemente. Ela se aproximou e parou na minha frente, seu rosto esboçou um sorriso e seus braços me envolveram.
- Estou com tanto medo... – minha voz saia embargada.
- Não tenha. Eu sempre estarei aqui.
- Porque isso tinha que acontecer comigo? Porque minha cabeça tinha que dar defeito? – eu me segurava para não deixar que as lagrimas caíssem.
- Não se culpe meu filho, algumas coisas acontecem para nos fortalecer. Eu sei que parece... – ela me puxou e segurou meu rosto para que eu olhasse em seus olhos – Que tudo está perdido e que não tem porque lutar. – disse ela tocando meus pulsos cortados – Mas eu deixei que ele tirasse você da minha proteção, cuidasse de você por um único motivo.
- Qual?
- Eu vi que assim como eu, ele não suportaria perder você e que faria qualquer coisa para te manter bem e seguro, mesmo que isso destruísse o seu coração. Amar é estar preparado para deixar a pessoa amada ir, deixa-la ser feliz, mesmo que isso nos deixe em pedaços. Porque no final das contas, ver você feliz é o que importa e nada mais.
As lagrimas rolavam pelo rosto enquanto eu abraçava minha mãe com todas as forças que eu tinha.
- Vamos... – disse ela levantando o rosto e secando as lagrimas que tentaram escapar – Não está na hora de chorar ainda... – disse ela enxugando meu rosto. – Hoje é um dia muito especial.
Quando coloquei o pé no tapete vermelho, os violinos começaram a tocar uma música lenta e singela. Os convidados estavam sentados em bancos brancos, enfeitados com seda azul celeste e arranjos de copos de leite. Sob a nossas cabeças foi montado vários arcos com flores vermelhas. No altar se encontrava Caio. Ele estava com um terno preto, em sua boca havia um sorriso.
Caminhei devagar em sua direção enquanto todos se levantavam e me olhavam, eu não carregava nenhum boque de flores como toda "noiva", mas minha mãe estava lá servindo de apoio a mim, já que minhas pernas estavam tremulas e eu poderia cair a qualquer momento. Minha amada mãe comprimento Caio que a abraçou rapidamente e sorriu quando finalmente segurou minha mãe e a entrelaçou com a sua.
Seus olhos estavam presos nos meus e os meus nos dele, nossas mãos durante todo o casamento, ate que ele a soltou e tirou do bolso uma pequena caixa azul aveludada e a abriu. Em seu interior havia duas alianças, elas eram de prata e possuíam duas linhas de ouro que se cruzavam em toda a sua extensão. Ele segurou minha mão e olhou nos meus olhos com o anel pronto para ser encaixado.
- Não sou muito bom com as palavras e as poucas que consigo usar não são suficientes para dizer o quanto meu amor por você é grande. Prometo abraça-lo quando estiver triste e se sentir perdido, te fazer sorrir quando menos esperar. Abraça-lo nas noites de frio, e não me mover quando dormir vendo televisão em meu colo – alguns risos – Prometo te amar mesmo que se esqueça e por toda a minha vida. – finalizou colocando o anel em meu dedo.
As lagrimas caiam, minha visão estava embasada quando sinto seu abraço me puxar para si, suas mãos puxam meu rosto para que ele pudesse me olhar nos olhos, seus dedos secam as lagrimas que estão em meu rosto e então sua boca encontra a minha em um beijo tranquilo, rápido, mas que me fez sorrir. Ele estendeu a mão e me entregou a caixinha, retirei o anel e segurei sua mão.
- Alguém está gravando isso? – perguntei em meio a um sorriso.
- Sim! – todos responderam e depois riram.
- Sei que não posso prometer muitas coisas, mas prometo lutar todos os dias, prometo não desistir e encontrar uma saída. Prometo reconhecer o seu esforço e seu amor. E o mais importante prometo voltar a você sempre que eu me sentir perdido, porque de alguma forma eu saberei que você é o meu lar e por último e não menos importante, obrigado por me amar. Eu te amo nessa vida e além dela.
Houve uma salva de palmas e Caio me puxou para o beijo final antes que eu colocasse a aliança em seu dedo. Então tudo se foi em um piscar de olhos, meu corpo estava no chão e ele estava molhado, eu sentia o cheiro de sangue. Havia gritos abafados e um som oco de algo sendo socado.
Meu campo de visão era limitado, mas era Caio que estava em cima de alguém, eu via fúria em seu rosto, seus punhos fechados indo em direção a cara de Alex, mas ele não parecia o Caio. O rosto de Alex havia inchado e ele não estava lucido. Porque ele estava fazendo aquilo?
Ele iria mata-lo se ninguém fizesse algo, porque ninguém fazia nada para impedi-lo. Eu estava cansado e não tinha muitas forças, mas eu poderia juntar o que podia para impedir que houvesse algo que ele jamais se perdoaria. Então levantei meu rosto devagar.
- Noac – Aline parecia aliviado enquanto segurava meu rosto.
- Caio! – gritei.
Ele parou. Seus olhos foram de encontro aos meus, ele parecia ter voltado a si. Ele se levantou e caminhou até mim, seus olhos estavam encharcados, seu corpo fedia a ferrugem.
- Me ajude... – disse enquanto mais uma vez caia na escuridão.
- Não! – eu gritei, e levei um susto ao perceber o lugar em que eu estava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Surreal | Romance BL
RomanceMe sento no final da sala pelo motivo mais obvio. Evito interação social. Gosto de ficar na minha e invisível a todos, inclusive Doug. Sempre estudei com ele, sempre observei ele de longe. Vi ele deixar de ser o garoto franzino, para se tornar o gar...