Meus olhos se abriram devagar. Meu corpo estava deitado sobre a grama verde e macia, eu podia sentir a brisa tocar meu corpo lentamente e o barulho de agua correndo. A luz incomodava meus olhos, mas pude ver a enorme copa da qual eu aproveitava a sombra. Mas havia mais, eu sentia o braço atrás de meu pescoço e logo em seguida o outro braço me puxar para cima.
Meus ouvidos foram de encontro ao seu corpo, eu podia ouvir os batimentos cardíacos em um ritmo calmo assim como sua respiração, suas mãos se entrelaçaram em volta de mim, como se protegesse. Fiquei parado ali por alguns instantes, estava confuso.
Não me lembrava do que havia acontecido antes e de como eu havia parado ali. Onde eu estava? E quem me segurava daquela forma? Tentei me levantar e as mãos me deixaram que eu erguesse meu corpo, quando pude ver seu rosto com os olhos fechados e o semblante tranquilo não pude acreditar no que estava vendo.
- Doug?
Ele abriu os olhos e me olhou com preocupação, suas mãos passaram pelo meu rosto e me puxou de volta para si me apertando contra o seu corpo.
- Esta tudo bem amor?
- Amor? – disse confuso.
- Esta tudo bem Doug? – era a voz de Aline.
Meus olhos a seguiram de imediato, ela estava de biquíni, usava uma tanga crochê e seus cabelos estavam soltos e pingavam, olhei para o fundo e percebi que estávamos em clareira, a alguns metros havia uma cachoeira.
- Sim, ele acordou assustado apenas isso.
- Estou sem entender o que esta acontecendo.
Aline ficou pensativa e olhou para Doug.
- Não. – ele disse a olhando de volta e me apertando contra o seu corpo.
- Doug pelo amor de Deus deixe que eu explique.
- Não. Você sabe muito bem o que aconteceu na última vez.
- Bem, foi um erro de percurso. – disse ela em um tom cômico.
- Explicar o que? – disse me levantando.
Só então percebi que estava de bermuda apenas, meus pés estavam descalços e minha pele estava bronzeada.
- Aline eu sei o que é melhor para meu marido!
- What? – dei um pulo para trás – Que brincadeira de mal gosto é essa? Como assim eu estou casado com você? – apontei para Doug – Eu terminei o médio pelo menos?
- Vocês não estão ajudando ele – a voz tranquila de Caio rompeu a discussão entre Aline e Doug. – Quer dar uma volta? – me estendeu a mão.
- Caio! – Doug se pôs de pé e o fuzilou. – Não faça o que estou pensando.
- Que seja! – disse ele me puxando para longe.
Caio caminhava devagar, usava apenas uma sunga e vestia uma camiseta branca e estava de chinelos. Ele não falou nada durante todo o caminho até uma rocha próxima do topo onde o rio descia e formava o lago natural abaixo de nós e que era usada como trampolim. Ele se sentou e eu me sentei ao lado dele.
- O que está havendo? – quebrei o silêncio.
Ele suspirou.
- Sabe quantas vezes Aline ou Doug tiveram essa conversa com você, com você fazendo essa mesma pergunta?
Neguei com a cabeça.
- Algumas vezes e em todas elas você não reagiu muito bem, mas espero que dessa vez seja diferente.
- Porque?
- Porque vai ser a primeira vez que eu vou contar a você.
- Me contar o que?
- Bem, de fato você e Doug são casados, isso faz uns quatro anos.
- Você não está zoando com a minha cara está? Porque está sendo uma péssima piada, já basta o que eu passo na...
Silencio. Seu rosto estava sério e perdido em pensamentos.
- Não é uma brincadeira? – o olhei suplicante.
- Não, infelizmente não é. Você sofreu um trauma a alguns anos e após o... Ocorrido você foi levado ao hospital e passou dois desacordado e quando acordou estava no estado que esta agora.
- E em que estado estou? – olhei para mim mesmo procurando um defeito.
Ele riu e segurou minhas mãos.
- Bem você foi diagnosticado com Amnésia psicogênica.
- Amnésia psicogênica?
- Bem ela é uma amnésia temporária que ocorre devido a traumas psicológicos e pode ser a dificuldade para se lembrar de fatos recentes quanto retrógrada dificuldade para se lembrar de fatos anteriores ao trauma, a memória quase sempre volta dias após do começo da amnésia, em raros casos, o paciente perde a memória de alguns "trechos" de sua vida permanentemente.
Ele me olhou com os olhos cheios de lagrimas.
- Infelizmente você é um dos casos raros. Sua mente apagou boa parte de sua vida depois do que ocorreu e todas as vezes que Doug ou Aline tentaram falar sobre o assunto você surtava...
- E porque não estou tendo um surto nesse momento? – disse irônico.
Ele riu.
- Senti falta disso em você, parece que voltei no tempo.
- O que é engraçado? Tenho cara de palhaço?
- Claro que não, você tem a cara de sempre Noac, só que eu queria poder...
- Poder?
- Esta tudo bem? – a voz de Doug se aproxima e ele me abraça.
Por instinto me afasto de seus braços e me aproximo de Caio.
- Você sabe que ele 'reiniciou' não pode forçar a barra assim? – retorquiu Caio.
- O que você falou a ele?
- A verdade Doug. Que vocês são casados e o que ele tem.
- Mas você...
- Não Doug, mas que merda. Não enche, não sou idiota como você.
- Quem você pensa que é.
- Os dois podem parar com isso! – gritei. – Vocês parecem dois animais, discutindo por um pedaço de osso.
- Me desculpe – disse Caio se levantando e descendo pela trilha que havíamos subido.
Fiquei de pé e Doug me olhou, ele abriu os braços, o olhei por alguns instantes e me aproximei dando-lhe o abraço. Era estranho estar ali com ele, não poderia negar que estava feliz de alguma forma por estra com ele, por ser casado com ele, mas um vazio em minha mente não me deixava confortável. Como se uma parte da minha vida tivesse sido tirada de mim.
- Agora pode tirar as mãos dele Doug. – disse Aline me puxando para ela.
- What?
- Noite das 'meninas' – disse ela rindo e olhei automaticamente para Doug que sorriu e sussurrou um 'eu te amo'.
- Vaca... – a chamei e ela riu de volta.
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Surreal | Romance BL
RomanceMe sento no final da sala pelo motivo mais obvio. Evito interação social. Gosto de ficar na minha e invisível a todos, inclusive Doug. Sempre estudei com ele, sempre observei ele de longe. Vi ele deixar de ser o garoto franzino, para se tornar o gar...