Capítulo 2 - Sorriso

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Quando meus olhos se abriram eu estava deitado na minha cama, as janelas estavam abertas e as cortinas balançavam suavemente, me virei na cama e senti que minha cabeça latejava, minhas mãos foram em direção a mesma e sinto as faixas amarradas.

- É melhor não mexer aí... – disse ele calmamente.

Me virei abruptamente olhando para o dono da voz que estava sentado na cadeira próximo a minha escrivaninha, ele tinha um sorriso tímido, olhei para sua camisa que estava manchada em um tom vermelho. Ele olhou para a mesma e coçou a cabeça envergonhado.

- Não foi nada.

- Eu não entendo porque você está aqui.

- Bem, eu pensei que fosse obvio. – disse ele se levantando e vindo em minha direção se sentado ao meu lado na cama.

- Acho que o golpe foi muito forte porque não sei do que se trata.

- Eu sinto muito pelo comportamento de Amanda. Ela exagerou e foi desesperador ver você jogado no final da escada com a cabeça cheia de...

Carmesim.

- Eu só queria ter certeza de que você estava bem. – continuou ele. – Até porque não sei o que deu na cabeça da Amanda para te empurrar da escada. Sei que você é um cara diferente...

- Diferente?

Eu sabia o que a expressão significava. Mas queria evitar pensar no que Aline havia me dito mais cedo.

- Se não quiser que ela te mate – ela pontou com o biquinho da boca para Amanda, a namorada de Doug que me se pudesse estaria me estrangulando só com aquele olhar.

- Porque não fez nada para me impedir? – retruquei.

- Não queria atrapalhar seu momento gay.

- Porque não conta para a escola toda?

- Não precisa esse livrinho aí vai fazer todo o trabalho duro.

- É você sabe... – disse ele de maneira desconfortável. – Você não joga bola, não costuma sair com a galera para beber e muito menos vi você pegando qualquer garota. A proposito Aline também é... diferente?

Ele me olhou e fiquei preso nos olhos dele, ate que ele moveu sua mão na frente da minha face e sai do meu transe.

- Que?! Claro que não.

- Ah beleza. Caio parece estar afim dela, vive olhando para ela quando vocês estão juntos. Mas enfim, parece que você esta bem.

Ele sabia que eu era gay, mas mesmo assim ainda estava tão próximo. Só um idiota não perceberia que eu gosto dele, mas talvez ele soubesse só não se interessasse por mim. Mas o que poderia ganhar de um par de peitos e uma buceta? Com certeza meu cuzinho não seria de grande ajuda.

- Bem estou indo e se cuida. – ele me abraçou me apertando contra o seu corpo. Pude sentir seu cheiro novamente e o desenho do seu corpo me abraçando. – Até amanhã. – disse ele por fim se levantando e saindo do meu quarto.

Por um instante eu pensei que as coisas pudessem ser como nos livros que leio, que fossem tão simples assim, mas elas não são. Me viro novamente na cama e puxo o cobertor para servir de apoio a minha cabeça. Suspiro pesadamente e fecho os meus esperando que o dia seguinte fosse melhor.

O sol adentrava devagar a janela do meu quarto, a brisa matinal e o canto dos pássaros me acordaram. Abri meus olhos devagar e olhei para o mesmo lugar onde Doug havia ficado sentando na última noite. Havia uma folha de caderno que balançava sobre o estofado azul da cadeira. Uma brisa mais forte adentrou o quarto derrubando a folha e o levando para próximo da minha cama.

Levanto-me e coloco meus pés no chão, sentindo o friozinho inundar a sola dos meus pés, me agacho e pego o pedaço de papel, ele estava dobrado e parecia ter sido amassado. O abri devagar e olhei para o conteúdo, me sentei no chão e comecei a ler o que estava escrito.

Noac.

Eu não sei como começar a falar sobre isso, até porque não é comum que eu me sinta tão desconfortável sobre um assunto. Mas eu preciso de alguma forma colocá-lo para fora. Então eu queria poder coragem para poder falar a você algum dia o que escreverei aqui.

Queria poder sentar ao seu lado, mesmo que não gostasse de mim, mas apenas para ver você sorrindo. Para ver sua cara de vergonha quando alguém te deixa desconcertado. Poder protege-lo de tudo e todos. Queria poder te abraçar quando se encolhe na cadeira toda vez que zombam de você. Ou até mesmo partir a cara de qualquer um que ouse machuca-lo.

Quantas vezes me peguei olhando para você enquanto lia um livro ou apenas conversava com sua amiga. Eu faria qualquer coisa para te ver feliz, mas sei que jamais vai me olhar como eu te olho e nunca terei a chance de dizer que eu gosto de você.

As lagrimas desciam pelo meu rosto e tocavam o papel. Eu não podia estar acreditando no que estava acontecendo, seria isso mesmo possível? Doug gostava de mim? Me levanto e vou até o banheiro, olho para a minha face e vejo a bandagem que cobria a minha cabeça, começo a retira-la com cuidado e vejo a mancha roxa que domina o lado direito do meu rosto, onde havia alguns pontos.

Meus olhos castanhos escuros pareciam estar mais profundos, meus cabelos negros e lisos estavam desgrenhados e alguns fios estavam presos aos pontos em minha cabeça. Sou moreno e sou magro, fujo do tipo atlético, não porque não quero ter esse corpo, mas porque queria ter um, mas acabaria sendo como todos os outros, guiados pela motivação de ser atraente a alguém. Beleza chama beleza.

Retiro todas as ataduras e sigo para o chuveiro, deixo que a agua quente desça pelo meu corpo quando ouço a mochila de Aline ser jogada no chão e as molas da minha cama fazerem ruídos proporcionados apenas por ela.

- Ainda ta no banho? Fala sério.

- Eu sofri um acidente ontem não sei se lembra?

- Okey. Não seja tão dramático.

- Eu não sou. – saiu do banheiro enxugando o meu rosto.

- Mas que pouca vergonha! – diz ela me lançando uma almofada.

Começo a rir.

- Até parece que nunca me viu sem roupa.

- Não precisa me lembrar o desperdício que você é diariamente.

- Cala a boca!

Rimos e jogo a toalha em sua cara.

- Mas porque esse sorriso de orelha a orelha mana?

- Doug. – digo em meio a um sorriso

- E...

- Ele gosta de mim. – disse com um sorriso largo no rosto.

Aline me olha com o semblante sério e após pensar por um instante começa a gargalhar.

- Acho que bateu a cabeça com muita força mana.

Meu sorriso some e a olho indignado. Me viro e procuro algo para vestir enquanto ela rola de ri na cama.

- Ah, não fica zangado Noac, mas é que é hilário a ideia do Doug querer algo com você, tendo a Amanda? Ele por acaso deu a entender isso?

- Muito mais que isso. – joguei em cima da cama o pedaço de papel que achara mais cedo.

Surreal | Romance BLOnde histórias criam vida. Descubra agora