26- Primeiros passos

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— Eu te amo demais. Eu se quer consigo acreditar no quanto.

Luke o encarava com uma calma inexistente, tinha medo de acordar, tinha medo de ser outra ilusão. Estava sonhando? Estava vivendo?

— Você não está pronto para isso, nunca esteve – murmurou contra sua própria vontade.

— Eu nunca estive, mas agora estou. As coisas mudaram e agora eu sei o que é amar. Pode ter sido numa ilusão, mas eu te beijei – sussurrou olhando para os lábios rosados do outro – eu te toquei, eu vivi como seu namorado... Eu escolhi você.

— Eu sempre escolhi você, esse foi meu erro.

— Então me deixe transformá-lo em acerto, assim podemos parar de errar.

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— Querido, pode vir até a cozinha?

Enquanto a esposa terminava de enxugar suas mãos enrugadas, Andrew analisava a situação de seu filho. Sapatos em mãos, pele pálida, calça erguida e cheia de areia. Luke se jogou em uma cadeira e praticamente se deitou na parede; as costas parcialmente apoiadas.

— Sim, eu sai com o Michael – começou tendo plena certeza de que esse seria o assunto investigado. Não os culpava; estava ali há um dia e já tinha feito muitas decisões estranhas.

— E foi tudo bem? – questionou-o com cuidado, a voz tranquila como a esposa tinha recomendado.

Bem é um conceito difícil para mim. Faz tanto tempo que não o vivo que não sei dizer como é – brincou; gostava de pensar que era exagerado, mas o tanto de verdade naquela frase o machucava na alma.

— Quer nos contar o que está acontecendo? Não vamos te julgar.

Hemmings sabia que não poderia guardar tudo aquilo entre os dois. Precisava de mentes esclarecidas, mentes menos envolvidas. Gritava por socorro e não poderia se decidir sozinho.

Deixou o azulado sem resposta no cais – pela manhã, pediu para dar-lhe um tempo. Se quer aceitou carona para voltar.

No táxi que pegou, se beliscou severas vezes tentando despertar. Pulou de cima do pequeno muro da vizinha tentando simular uma queda para sair de uma outra possível ilusão. Estava tão fora de si que, antes de entrar em casa, gargalhou de si mesmo; lembrando-se do pai alugando os filmes sobre troca de corpos para ajudá-lo. Estava tão louco quanto seu velho.

Venceu o cansaço e lhes contou tudo o que aconteceu depois de sua mudança relâmpago para a capital. Contou-lhes da briga que teve com Gregório logo que anoiteceu, como brigaram a madrugada toda, contou-lhes sobre a vida paralela e quão rápida ela foi no tempo real. Disse-lhes tudo que Michael afirmou; deixou claro o motivo de cada briga e cada semelhança incentivando-o a amar.

Seus pais não o interromperam em momento algum.

Estavam assustados demais e com muitas questões para terem o tempo de formular uma pergunta. Tentavam digerir as novas informações o mais rápido que podiam. Era complicado. Era estranho. Era mágico demais para um mundo tão acinzentado; para uma cidade tão podre quanto Hiwt.

— Eu não sei o que lhe dizer, filho. Vocês andaram fumando algo estranho? – brincou o senhor recebendo um tapa estalado no braço.

— Tão inconveniente, Andrew! – reclamou a esposa, vendo o filho bufar nervosamente, retirando-se em descrença – Seu filho te conta absurdos e você resolve brincar com a sanidade dele?

— O moleque 'tá quase virando pedra de tão tenso, achei que ia ajuda-lo a rir um pouco, Deus.

— Vá chamar o Irwin e deixe o Luke comigo.

Ao subir as escadas com um pouco de dificuldade, a senhora não se preocupou em bater na porta; entrou com um sorriso de desculpas nos lábios e se sentou próxima ao corpo estirado do filho, que encarava o teto pensativo.

— Eu sei que ele estava brincando, mas não 'tô com paciência...

— Eu sei, querido. Eu sei.

— Mãe? – murmurou quebrando o silêncio que se instalou por alguns minutos – O que eu faço?

— Eu não posso lhe dizer. Isso está parecendo tão louco para nós quanto para vocês. – com um suspiro pesado, Liz segurou-lhe as mãos antes de continuar – Só posso lhe aconselhar: Independente de ser verdade ou mentira, o que está dentro é que importa. Resolvendo nosso coração, temos coragem e vontade de fazer o resto.

— O que quer dizer com isso?

— Você quer dar uma chance ao Michael? Você acredita no amor de vocês?

Ainda era estranho escutar aquilo. Era tão óbvio que o azulado correspondia seus sentimentos, mas ao mesmo tempo, sentia-se ridículo quando afirmava aquilo. Ele não tinha o direito de se achar amado. Ele não tinha o direito de se sentir assim... Ou tinha?

— Eu tenho medo.

— Todos nós temos.

— Eu não sei se ele tem coragem... Digo, ele teve para finalmente se declarar. Não em sonho, mas aqui, hoje – murmurou corando violentamente; seu coração demoraria para acostumar com a sensação de derreter.

— É muito mais do que amor, como ficaria a vida de vocês? Ele é jogador do time da cidade, não mora com os pais, mas a relação deles continua a mesma. A cidade continua igual. Como você entraria na vida dele? Agora não é mais mulher; agora não está na mesma página em que pararam nessa "segunda chance". E agora, Luke? Como seria a vida real de vocês juntos?


Can You Love Me Again? [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora