25 - Em qualquer lugar

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Na manhã que se seguiu Luke acordou todo torto. Seus músculos estavam doloridos e necessitando de um repouso melhor. Por isso, não pensou duas vezes antes de engolir um pedaço de pão, tomar um banho e voltar a dormir; dessa vez em sua confortável cama.

Acordou com seu celular tocando meia hora mais tarde. Era Michael. Não tinha mais seu número, mas sabia que só poderia ser ele.

— Te acordei? – murmurou o azulado do outro lado.

— Sim, mas tudo bem.

— Podemos nos ver?

— Passa aqui daqui dez minutos e vamos pra algum lugar.

Assim foi feito. Dez minutos mais tarde estava na frente de sua casa, entrando no carro esportivo de Clifford. Pelo visto ele tinha melhorado seu padrão de vida. Talvez fosse por causa da banda em que tocava, talvez no time de futebol. Bom, não iria saber, estava envergonhado demais para mostrar algum tipo de interesse na vida do outro.

— Sério? – reclamou assim que percebeu que Michael estava seguindo o caminho para o cais.

— Se quiser eu posso...

— Não. Deixa pra lá, só segue em frente.

Quanto mais próximo do mar, mais seu estômago se contorcia. Agora tinha que lidar com memórias de sua vida e da ilusão que tiveram. Muitos momentos em um só lugar.

Deixaram o carro e, com os sapatos em mãos, dirigiram-se até a velha madeira do cais. Sentaram-se lado a lado, um pouco distantes. Michael não sabia como começar essa conversa, e agradeceu mentalmente quando o loiro abriu os lábios para suspirar e dizer o que pensava.

— Eu fiquei lembrando de tudo ontem... De cada momento. Não entendo de onde você tirou que a culpa é sua. Também não me sinto culpado. Eu só acho tudo isso muito doido – ficaram em silêncio por um minuto ou dois – Michael, pode me explicar a sua versão?

— Eu... Lembra quando, na ilusão, vocês me disseram que toda aquela magia aconteceu porque você implorou a Deus em desespero?

O loiro acenou positivamente, seus olhos azuis procurando os verdes que estavam ocupados com o mar.

— Você implorar daquele jeito... Isso aconteceu na vida real? Quando você teve que sair da escola?

— Sim, mas... Eu não queria realmente ser outra pessoa... Eu só estava triste e precisando colocar tudo aquilo pra fora – respondeu sem graça; podia sentir suas bochechas corando.

— Meu ponto é esse. Você não estava sendo totalmente sincero. Era um desabafo. Se isso fosse a causa dessa imaginação ou como quiser chamar, eu acho que teria acontecido muito antes.

— O que quer dizer? Não sei se estou acompanhando...

— Eu quero dizer que: bom, foi um evento estranho, mas aconteceu. Nós dois vimos uma segunda chance, uma outra vida. Vimos ao mesmo tempo e em questão de segundos, mas sentimos tudo e fizemos nossas próprias escolhas. Poderia ter dado errado, mas...

— Michael, por favor, explica.

— Eu implorei, Luke. Eu implorei de verdade aos céus e a tudo que conheço. Eu supliquei para que tivesse um jeito de te provar que eu faria tudo diferente. Quando vi você partindo pra morar com aquele babaca!...

— Michael!

— Eu entrei em desespero e supliquei tanto ou mais que você – continuou pouco se importando com a repressão do loiro – Eu não me envergonho de dizer que chorei como um recém-nascido ao voltar pra casa. Eu gritava em desespero e eu pedi por coisas que eu realmente queria dizer. Nada que falei foi da boca pra fora, eu estava certo de cada sílaba que saía.

Apesar de dizer não se envergonhar, as bochechas do azulado estavam para lá de vermelhas. Agora os dois homens se encaravam com as guardas baixas, a mente concentrada em cada detalhe da história enquanto os olhos estavam magnetizados.

— Você acha que foi por sua causa que...

— Eu dormi de cansaço e mesmo nos meus sonhos eu implorava por você. Acordei chorando e continuei a pedir. Rezei preces que se quer lembrava que sabia. Eu pensei milhões de vezes o quanto não podia e não queria desistir de você. – com um suspiro pesado, confessou – Foi quando tudo aconteceu. Em questão de segundos eu vi toda aquela vida, uma história onde pude te conhecer como amante antes de lidar com o preconceito e com os meus pais. Eu descobri o que era amar e finalmente pude lutar da forma que quero fazer agora...

— Michael...

— Eu não sei o que ou quem nos fez passar por aquilo. Posso estar enganado que meus pedidos tiveram alguma importância pra isso – continuou vendo lágrimas nas bochechas do loirinho, sentindo seus próprios olhos arderem – Eu posso estar errado sobre tudo, mas isso não muda o fato de que aconteceu algo com nós dois. E não muda o fato de que eu... Eu te amo, Hemmings.

Ele disse.

Ele finalmente disse. Não mais em universos paralelos ou sonhos. Clifford confessou seus sentimentos em palavras na vida real. Pela primeira vez sua voz deixou que Luke aproveitasse a melodia daquela frase. Todas as letras, todos os tons.

— Eu te amo demais. Eu se quer consigo acreditar no quanto.


Can You Love Me Again? [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora