27- Covarde

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Prontas para a despedida? O capítulo final é o próximo, garotos (as) verdes!

Boa leitura!

O telefone tocava, mas ninguém atendia. Luke já estava perdendo a coragem quando a voz grossa de Michael soou do outro lado:

— Oi, desculpa a demora, 'tá tudo bem? Você precisa de algo?

O loiro estava sem reação. Esperava palavras envergonhadas ou verdades constrangidas, mas não preocupação e solidariedade. Não depois de tê-lo deixado sozinho no cais; não depois de perceber o quanto foi hipócrita durante suas vidas reais.

— Luke, ainda está na linha? Luke?

— Eu 'tô – afirmou voltando ao seu silêncio por alguns segundos, sentia-se ridículo – Eu queria te ver mais uma vez. Conversar algumas coisas que pensei.

Tudo bem, posso te buscar amanhã? – a animação na voz do azulado era nítida, assim como seu nervosismo.

— Por que? – reclamou assustando a si mesmo – Quero dizer, ainda não são nem seis horas. Não pode ser hoje?

Eu tenho jogo dentro de uma hora, já estava saindo pro estádio.

—Ah, claro. Claro, desculpa, eu... Eu entendo. Amanhã então. Desculpa. Até.

— Luk!...

Clifford não teve a chance de terminar, o barulho irritante já soava deixando-o sabe que falava sozinho. Hoje teria um jogo importante para definir qual dos times iriam disputar o campeonato internacional.

— Você consegue... – encorajou-se ao entrar no carro.

Aquela era a chance que tanto esperou. Poderia ser notado por times maiores. Já haviam alguns tentando negocia-lo. Talvez, em um time maior, pudesse ter uma carreira mais curta e investir logo em sua música. Precisava disso. Precisava dessa vitória.

Deixou sua garagem cantando junto aos seus CDs de rock; precisava fazê-lo para que sua mente trapaceira não voltasse à Luke.

Não era hora de pensar no loiro. Hoje seria apenas um atleta profissional.

Chegou ao estádio vendo alguns repórteres locais espalhados pelo estacionamento privado. Não precisou gastar muito tempo por ali, logo estava numa coletiva onde os que realmente importavam – aqueles para os quais foram treinados a responder – se encontravam. Cumprimentou outros dois jogadores e o técnico. Vestiu o moletom com os patrocinadores e sentou-se à mesa retangular; odiando todas aquelas luzes na sua cara. Realmente odiava coletivas, mas eram multados se recusassem participar.

Estava quase dormindo em pé quando finalmente acusaram um repórter para lhe fazer alguma pergunta:

— Você está pronto para hoje, Clifford? Sabemos que têm times grandes te assistindo.

Da televisão dos Hemmings, a resposta foi ouvida.

— Vou dar o meu melhor, como sempre faço. Enquanto estiver nesse time eu jogo com a cabeça e coração nele. O futuro será consequência do meu esforço.

—Francamente, até parece que ele não 'tá louco pra ir pra algum time maior – murmurou Andrew rindo para si mesmo – Quando ele sair o time vai ficar na merda.

— Podemos ver outra coisa? – pediu sua esposa da poltrona ao lado, fazendo sinais com a cabeça e arregalando os olhos para o marido. Luke estava ao lado do pai, decepcionado com a sutileza da mãe.

—Deixa o pai ver o jogo, mãe. Eu não me importo.

Mentira. Ver Michael na televisão só o deixava ainda mais ansioso. Não conseguia desgrudar seus olhos da pele pálida, do rosto cansado – e bonito. Seu coração acelerava e então parava por quase cinco segundos. Suas mãos e pés suavam tanto que não conseguia parar de esfrega-los nas calças e sofá. Estava quase morrendo, tinha certeza. O que seus pais fariam se tivesse uma parada agora?, deixou seus pensamentos macabros de lado.

Quando as entrevistas acabaram foi ainda pior. Ainda faltava meia hora para o jogo começar e não conseguia parar de pensar no que – exatamente – o outro estava fazendo. Se estava pensando nele e em tudo que aconteceu no vestiário, nos corredores... Se estava!...

— Querido, você está bem mesmo? – perguntou a senhora encarando os olhos perdidos do filho.

Ele assentiu sem se quer se dar o trabalho de olhá-la duas vezes. Levantou-se desengonçadamente, dirigindo-se a pia para um copo de água gelada. Logo ouviu os sapatos da mãe trilhando até sua direção.

— Querido, o que está passando nessa sua cabecinha?

— Lembra as perguntas que me fez? – sussurrou como se fosse algum segredo – Sobre como seriam nossas vidas?

— Claro que sim – concordou passando as mãos calejadas pelos braços despidos do homem. Não estava frio, mas queria de alguma forma sentir que podia protege-lo.

— O mundo dele está grande demais pra mim. Eu duvido que ele dê conta – riu de si mesmo – Duvido que eu dê conta.

Um silêncio incômodo se instalou na cozinha, os dois encavam o chão branco com um pesar. A mulher era simples demais para aconselha-lo sobre aquele tipo de vida. Assim como seu marido, assim como sua família toda. Assim como quase todos que nasciam em Hiwt.

— Acho que vou dar uma volta. Esfriar a cabeça.

— Tome cuidado no trânsito. Por favor.

Luke lhe beijou a cabeça antes de pegar a chave e o documento do carro, partindo para lugar nenhum; cortando o céu que começava a se pintar de azul escuro. Escuro como partes do cabelo de Michael. Escuro como seus olhos podiam ser.

Acabou estacionado de frente para o mar, quase não podendo perceber quais eram seus limites e do céu. Se identificou mais do que gostaria com a paisagem. Michael era o céu e ele era o mar. Era difícil definir os limites de ambos, mas os de Luke existiam e foram comprovados. Os de Michael ainda estavam em questionamento.

— Eu não dou conta, eu não aguento mais... – confessou suspirando fortemente antes de deixar as lágrimas pularem para fora de seus olhos – Merda...

Não gostava do rumo que sua vida estava tomando, mas aprenderia a lidar. Talvez devesse morar sozinho, ir para capital sozinho. Esquecer seu coração e pensar apenas no profissional. Deveria fazer isso. Ser apenas profissional. Começando por hoje:

Seria apenas um profissional. Porém... Talvez pudesse...

Engoliu seus próprios lábios antes de morder o inferior com força; agarrado ao volante.

— Uma última vez? – perguntou para si mesmo, sabendo a resposta no minuto em que acelerou para sair dali.

Iria ao jogo. Os ingressos não estavam esgotados. Iria ao jogo e torceria para Michael. Aquele seria seu Adeus. Sua despedida. Não tinha mal nenhum em querer vê-lo uma última vez, certo? Mal nenhum em querer acabar tudo em paz, em segredo, covardemente.

Sentou-se distante na arquibancada por falta de opção. Não reclamaria, estava apenas dizendo Adeus.

Pedindo desculpas por não conseguir amá-lo novamente.


Can You Love Me Again? [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora