16 - Eu me enganei

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— Caralho, isso é sério?

Antes mesmo que Luke se afastasse, as risadas e as piadas já haviam começado. Ele se soltou do rosto de Michael, mas não conseguiu olhar para os lados.

Seu rosto pálido, mas o do ruivo estava ainda mais – se é que era possível.

— M-michael... – sussurrou sentindo-se miserável – Michael... Me desculpa eu...

— Qual é Clifford? Não vai beijar sua namoradinha, não?

— Cala boca, Philip – berrou, suas feições tornando-se algo próximo a um animal pronto para briga. As piadas continuavam – Vão se foder.

— Mi!...

— Agora não, Luke! – avisou sem olhá-lo de volta, em segundos o garoto já se dirigia aos seus pertences no canto do campo.

— Mas eu...

— Qual é Lukezinha, queria transar na quadra? – gritou um outro que ele se quer conhecia.

Com os olhos azuis cheios de lágrimas, já não podia definir bem imagens. Seus amigos estavam tão chocados quanto os outros. Tristeza, raiva, piadas, medo, desespero, gritos e risadas. Aquilo tudo era demais para ele. Seu corpo parecia não querer obedecer.

Ashton tentou se aproximar quando seu... Namorado? Bom, quando Michael já estava distante. Foi quando suas pernas finalmente obedeceram e conseguiu correr para seu carro. Não sem antes perceber que os garotos da escola tentavam alcança-lo.

— Vai fugir princesa? Sem seu Romeu?

Com as mãos tremulas, o loiro usou suas últimas forças para dar partida. Tremia tanto que não conseguiria chegar em casa. Virou na primeira rua que podia e foi o mais longe que conseguiu antes de se debulhar em lágrimas; estacionando de qualquer jeito num lugar qualquer.

O que tinha feito? O que diabos tinha feito com sua relação? O que diabos tinha feito com a vida de Michael?

Luke não saberia dizer quanto tempo ficou ali, apenas deixando que os sentimentos viessem. Se fosse forte, se fosse mais corajoso... Merda! Foi sua estúpida coragem que os ferrou. Mas que merda! Os socos no volante começaram junto com seus grunhidos frustrados.

Mesmo quando se acalmava, logo sua mente trapaceira o lembrava de que não tinha jeito. Tinha estragado tudo. As ligações não cessavam em seu celular, mas como atenderia alguém agora? Como poderia se desculpar? Aquela cidade era pequena, preconceituosa.

Mais uma ligação. Ashton.

Precisava de alguém. Precisava que alguém lhe ajudasse:

— Luke! Finalmente me atendeu! Eu 'tô te procu-

— O que foi que eu fiz Ash? – choramingou não o deixando falar – Eu estraguei a vida dele, porra!

— Você não est-

— Eu achei que só os dois iam treinar! Eu não pensei qu!... Eu não pensei em porra nenhuma! Por que eu tenho que ser tão idiota? QUE MERDA!

— Luke! Me escuta! Onde você 'tá? Me fala!

—E-eu vou pra casa... Eu... Que merda, Ash. O que eu faço agora?

— Luke, eu sei que parece mentira, mas vai ficar tudo bem eu juro.

O loiro não esperou, apenas desligou o celular e saiu do carro. Vômito. Foi involuntário, apenas saiu e parecia que viria mais, assim como suas malditas lágrimas. Sentado na calçada, quase arrancando seus cabelos, pensou o inevitável: Eu deveria ter obedecido meus pais. Eu deveria ter passado minha vida escondido em casa.

Algum tempo depois – minutos para ele, uma hora para os outros – agarrou uma garrafa de água que sua mãe sempre deixava no carro e lavou sua boca como pôde. Não pararia de chorar tão cedo, mas não poderia ficar ali para sempre.

Luke foi para casa passando pelas ruas menos movimentadas da cidade. Sua mãe já o esperava desesperada do lado de fora.

— Ash passou aqui, ele queria te ver... – murmurou em seu ouvido, segurando-o com cuidado enquanto o levava para dentro.

Não adiantava nada querer conversar agora. Luke só conseguiu escovar os dentes antes de se deitar. O sono vencendo a dor por todo o cansaço.

Sua mente permaneceu vazia o tempo todo, era tudo preto debaixo dos seus olhos e mente, assim como em seu coração. Burro, burro... Repetia como um mantra. Despertou com os olhos marejados, seu novo mantra ainda ecoava. Burro, burro, burro.

Pensou que nada poderia fazê-lo levantar. Engano seu. A voz gritada de seus pais e os barulhos estridentes que se seguiram o fizeram correr escada à baixo. Com o coração na boca e os olhos arregalados, deparou-se com Calum e Michael sentados à mesa da sala. Entre broncas e cuidados, os dois sangravam com um sorriso nos lábios cortados.

Os olhos de Michael logo o localizaram, o sorriso ficando ainda maior:

— Você perdeu, Luke – disse contente, recebendo um tapa da senhora loira que não parecia nem um pouco animada – Eles estão bem piores do que nós.

Can You Love Me Again? [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora