Capítulo Final - Última chamada

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Hemmings segurava sua jaqueta entre os braços cruzados. Eram tantas pessoas pulando e dançando que teve medo de perder a cabeça, quem dirá a jaqueta que era mais fácil.

Aguentou assistir o primeiro tempo completo, mas com um placar acerado, as torcidas não conseguiam conter os berros. A situação toda – principalmente a forma pequenina de Michael em meio a tanta grama e jogadores – não compensava sua quase crise de ansiedade.

Precisava sair dali o mais rápido possível.

— Péssima ideia. Péssima ideia, Luke – repetia desviando dos movimentos bruscos dos homens bêbados e pintados ao seu lado.

Deixou a arquibancada com os pulmões desacostumados a respirar; quase esquecendo o quanto aquilo era bom. Seus ouvidos zuniam nos corredores vazios e terrivelmente iluminados.

Ainda não era suficiente.

Suas longas pernas o ajudaram a sair do estádio como um todo, o vento frio que começava a soprar nas árvores ao redor o fizeram vestir a jaqueta. Carros e pessoas para todos os lados, alguns telões para os que não podiam pagar pelo ingresso.

Perto demais. Ainda não era o suficiente.

Hemmings correu até seu velho carro e não pensou duas vezes antes de arrancá-lo. Afastando-se daquela barulheira, daquela emoção que não lhe cabia no peito.

Michael, por outro lado, conversava rapidamente com seu técnico antes de correr para o centro do campo. Estava cansado, mas preparado para aquela partida. Os gritos e hinos soavam distantes quando se concentrava demais. Seus olhos verdes focavam bem os parceiros, mas melhor ainda os adversários. E ainda mais a bola.

Lambeu seus lábios trocando rápidos sinais com seus colegas. O apito soou mais uma vez. Correu sentindo o impacto de seus passos em cada músculo. Não sentia dor, mas sim a força dos mesmos; de suas pernas ágeis. Fred pegou a bola! Michael desviou da marcação e correu em direção ao gol, concentrado demais, seus instintos gritando. Minha vez, pensou disparando por entre a defesa de seus inimigos. Estava com a bola! Foram alguns segundos decisivos: driblou um, dois, três jogadores. Teve de voltar alguns passos para trás, driblou mais um e viu Fred acenando do outro lado. Usou de todo seu treino para passar a bola perfeita. E passou. Não precisou mais que um toque para o parceiro a colocar no gol. Isso!

Comemoraram como se aquele fosse o gol da vitória. Não sabendo que, minutos depois, ele realmente o seria. Quatro a três para seu time. Um jogo lindo, digno de grandes campeonatos. Clifford marcou apenas um gol, mas foi o responsável por tornar dois outros perfeitamente impossíveis de errar. Saiu brincando com os colegas, um sorriso gigantesco nos lábios fartos por saber que tinha feito um bom trabalho. Definitivamente teria a atenção dos times que queria.

—Porra, você viu a cara do goleiro quando tomou gol de toquinho? Duas vezes, cara! – gritava Richard, o uniforme jogado pelo chão perto de outros tantos – Vou encher a cara hoje, quem 'tá comigo?

Michael balançava a cabeça negativamente, mas tão animado quanto os demais – que continuavam a caçoar dos perdedores e comemorar. Espírito esportivo uma ova! Só existia na frente das câmeras.

— 'Cê vai, né, mané? – perguntou o capitão lhe batendo no braço com a toalha, a pele pálida avermelhando na mesma hora.

— 'Tava pensando numa passada rápida, se é que vou...

— Larga de ser cuzão, Clifford! Vai 'tá todo mundo lá, um monte de mina gostosa querendo dá pra gente – riu junto aos outros, que logo começaram a discutir peitos e bundas.

Can You Love Me Again? [muke]Onde histórias criam vida. Descubra agora