Tronos sem tronos

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April abriu os olhos e ainda estava no seu quarto. Ela nunca pensou que dormiria tão mal naquela noite, mas pelo que tinha visto no espelho. Samuel ficou ao lado dela enquanto dormia, ela podia sentir.

Ela levantou da cama e notou Samuel ao seu lado. O peito exposto com as rendas de cor vermelhas como sangue. Os cabelos castanhos estavam brilhosos devido ao brilho das asas com renda.

- Bom dia flor do dia – ela ouviu Samuel dizer. - Você está bem? – perguntou.

- Sim, acho que estou – disse meio zonza. – O que aconteceu comigo?

- A influência de Estrelas das Estrelas atacou sua mente e você não suportou – explicou. – Do que você se lembra?

- De ver você com asas de anjo, e você estava lindo...- e April viu que era verdade. April ficou sem fôlego ao ver aquilo. – E onde estamos? – E olhou em volta e não estava em seu quarto, parecia uma cabine de navio bem apertada com uma cama e uma janela redonda que dava vista para o mar. – Estou sentindo uma maresia.

- Estamos indo para Portugal – contou a se sentar na cama. – Temos que encontrar uns velhos amigos.

- Eles são como vocês? – perguntou sem mesmo saber o que perguntar, era muita coisa para assimilar. – Eu não estou muito bem.

-Querida, você me disse que estava bem – disse se aproximando abraçando April com conforto, mas April se sentiu desconfortável como se algo ruim dentro de Samuel existisse.

- Não toque em mim – disse. – Isso tudo é muito estranho. Eu até poucos dias era uma pessoa normal. E não me chame assim, você mentiu para mim.

- Todos nós mentimos, precisávamos fazer isso – disse em voz calma. – April, eu sou seu anjo protetor. E preciso proteger você, nós precisávamos proteger vocês. Nós fomos criados para isso.

- Não importa – disse. – O que eu vi naquele espelho não era uma coisa boa. – Eu me vi com olhos fundos e negros. Aquilo foi real.

- Isso você que você foi tão real, igual meu amor por você – afirmou com firmeza na voz dando mais um passo à frente.

- O que você disse? – April ficou horrorizada. – Não. Não é possível. Porque tudo isso está acontecendo tão rápido?! – April tampou os ouvidos, correu e abriu a porta e correu pelo corredor.

***

O navio não era nada chique ou luxuoso como April imaginou. Era de metal enferrujado e parecia que ia se desmontar a qualquer momento. April andava pelo convés com muita rapidez, fugindo de Samuel. Ela não estava entendo nada do que estava acontecendo ali. O navio estava vazio, o vento soprava forte e April começou a ver pessoas com asas andando pelo navio do nada sendo que antes estava vazio. Anjos, April pensou.

- Vejamos o que temos aqui – disse uma voz masculina que April não quis virar parar ver de onde vinha. – Nossa razão de viver, nós os Ranjos não devemos rejeitar essa convidada.

Logo voz foi abafada por um engasgo e afogamento, April se virou, olhou para cima, e viu o corpo de um anjo desabando. Morto. A linha na garganta era de puro sangue. Lá em cima encontrava-se Samuel com uma olhar demoníaco, e uma faca cheia de sangue na mão. Ele olhava fixamente para o corpo do anjo no chão.

Aquele era o dono da voz. O corpo estava se tornando algo branco, sem vida, as asas se desconectaram das costas deixando linhas prateadas, como cicatrizes de aberturas. O corpo entrou em combustão. As chamas eram douradas e com um tom verde em certos momentos.

Ranjos?

- Isto irá acontecer com cada que provocar April! – anunciou Samuel para todos que estavam olhando para ele. – Vocês têm que entender uma coisa, ela não é o motivo de estarmos aqui. Os Filhos de Elohim devem ser gentis.

Alguns deram risadinhas abafadas com as cabeças baixas. April achou estranho. E viu que a expressão de Samuel não tinha mudado. O sol estava dificultando um pouco a sua visão.

Samuel saltou de onde estava e foi parar ao lado de abriu, a velocidade dela impressionou um pouco April, ela não devia se impressionar com isso, Samuel tinha sido estranho com ela.

- Você está bem? – perguntou ao levar April para longe dali. – Me desculpa pelo que eu disse, mas não deixo de sentir o que sinto por você.

- Você sempre foi meu melhor amigo – disse April engolindo seco. – E eu não quero perder isso, não agora que descobri que você é um anjo.

- Sou um anjo em certa parte – disse. – Eu não devia contar isso para você, mas vai me poupar tempo. Estes anjos que você está vendo são os Ranjos. Ranjos são anjos que perderam seu lugar no Céu, resumidamente, caíram.

April sabia um pouco sobre anjos: sabia que eles tinham as classificações, ou trindades como Querubins, Serafins, Tronos, Principados entre outros. Ela não sabia dizer qual Samuel pertencia, mas de pensar nisso assustava ela um pouco.

- Eu te conheço – disse ao começarem andar pelo navio, - sei que você quer saber qual trindade eu pertencia. Eu era Anjo, terceira trindade. Vamos poupar detalhes. Você tem algo que me lembra meu amigo celeste. O nome dele era Gabriel.

- O Arcanjo Gabriel?

- Sim – disse. – Digamos que você e mais quatro jovens têm as almas de cinco Arcanjos: Miguel, Rafael, Gabriel, Uriel e Jofiel. Os Arcanjos de Deus. Quando os Arcanjos caíram levaram seus mensageiros celestes, transformando alguns em demônios, outros em mortais comuns.

- Que isso não foi o seu caso pelo que posso perceber.

- Sim. Os anjos são como irmãos, mesmo que você seja um anjo de trindade menor, o de trindade superior sempre o tratará como um irmão. Com os Arcanjos não é diferente, eles foram os primeiro filhos de Deus, então eles têm um laço familiar. E só posso dizer isso.

April não tinha dito nada até aquele momento. Ela não entendia o motivo pelo qual Samuel estava junto dela, ela precisava saber. Ela nunca quis tanto saber sobre algo.

Eles entraram novamente no corredor da cabine onde April tinha saído as pressas.

- Notei que alguns deram risadas ao você dizer "Filhos de Elohim".

- E?

- O que é um Filho de Elohim?

- Filho de Deus é o significado – disse ao se sentar na cama, mas April permaneceu em pé. 

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