Um mundo sem zumbis - Capítulo Final

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Meus olhos estão fechados, meu corpo treme quando ouço o barulho da buzina dos carros, do trânsito. Meus sentidos se tornam mais aguçados e sinto o cheiro dos ovos queimadas de minha mãe, não me sinto preparada para abrir os olhos, mas se não agora, então nunca, e assim o faço. Demoro algum tempo para tomar coragem, e quando finalmente a tomo, abro os olhos com tudo, sem hesitação ou arrependimento. A luz me cega, e minhas pupilas ficam sensíveis, demora um tempo até que o branqueado do meu olho se apague e eu perceba que o ambiente onde estou na verdade está escuro, começo mexendo os dedos e em segundos já estou prestes a me levantar, meus membros estão dormentes, e de repente eu paraliso, lembro - me de tudo o que aconteceu, do Apocalipse,  da pedra, e dos zumbis, assim como prometido não perdi a memória e espero que Jessa não tenha pedido a sua.

Levanto-me da cama onde estava, olho em volta e encontro - me num quarto, vou em direção às fotos coladas na parede, e a maioria delas, estou ao lado de outras meninas, mas não encontro nenhuma foto com minha família. Dou passos lentos e pequenos, coloco a mão na maçaneta, sofro com um choque térmico e recuo a mão instantaneamente, mas tento novamente e dessa vez abro a porta. Vejo uma cozinha e uma sala de jantar e começo a andar por ela, tentando reconhecer qualquer coisa. Vejo uma garotinha de 10 anos talvez, deitada no sofá, ouvindo música, olho para ela com os olhos arregalados e ela percebe que a observo paralisada.

-Quem é você? - pergunto, ela me olha em deboche, bufa e vira os olhos.

-Mãe! - grita a garota - A Jenny está fazendo aquilo de novo!

Ouço o barulho do salto alto ecoando pelo recinto, e em seguida Jessa sai se seu quarto, com um vestido preto e maquiagem, completamente diferente de qualquer versão que eu já vi, ela me olha com um sorriso no rosto e coloca a mão na cintura.

-Jennifer eu já disse para você parar com esses joguinhos, você e sua irmã precisam parar com isso - diz ela de modo autoritário, mas não reajo apenas continuo olhando para ela.

-Foi ela que começou - grita a garota do sofá. Jessa me olha com novos olhos, preocupada comigo, ela vai até mim e coloca as mãos em minha testa.

-Filha, você está bem?

-Jessa, você se lembra? - pergunto colocando a mão em seu ombro.

-Do que, Jenny? E porque está me chamando pelo nome?

Antes que eu pudesse responder a porta da casa se abre, e pulo de susto com um barulho, percebo o olhar desconfiado de Jessa sobre mim, mas logo ela olha para a porta e vejo Adam e Pietro, os dois de blusa social, e sorrindo.

-Amor, que cheiro de queimado é esse? - pergunta Adam, sorridente.

-Aí meu Deus, os ovos! - grita Jessa correndo pela cozinha.

Pietro e Adam começam a conversar com minha suposta irmã, o barulho toma conta do local, todos falando ao mesmo tempo e começo a enlouquecer, as lembranças junto com as imagens que vejo de minha família agora distorcem minha mente, e tudo o que tenho a fazer é descobrir se sou realmente louca.

-PAREM!!!! - grito de repente, todos me olham assustados, minha irmã tira os fones e Jessa tira os olhos dos ovos.

-Você! - grito apontando para a garota no sofá - Seja lá quem você for ou como você se chama, apenas saia daqui!

A garota sai do sofá, e corre para outro quarto da casa, logo depois fecha a porta com toda a força, meus pais e Pietro trocam olhares e se reúnem a minha volta.

-Que tipo de comportamento é esse filha? Esta passando dos limites! - briga Adam com o rosto sério.

-Aí meu Deus! Onde estou? - digo com as mãos na testa - Nunca houve limite entre nós Adam, você nunca me pediria para ser doce e sentimental. Quem são vocês?

-Do que você está falando filha? E porque está nos chamando pelo primeiro nome? - pergunta Adam.

-Eu sempre chamei vocês assim. Eu vou explicar, pode haver um jeito de suas memórias voltarem - digo para eles, parecendo uma louca, vou na direção de Jessa e pego sua mão - Jess, quando você tinha 13 anos o Apocalipse zumbi aconteceu, sua irmã Dorothy morreu e você sofreu muito, até que três anos depois conheceu as princesas, elas foram mandadas para Terra com o propósito de descobrir a cura, quando na verdade ela estava no seu sangue, você mentiu para ela e conheceu o Jack, o filho do Isako, um ma....

-Do que você está falando? - pergunta Pietro me interrompendo, viro-me para ele e vejo uma cicatriz em sua testa.

-Eu vou te provar que estou certa. Como fez a cicatriz? - pergunto para Pietro.

-No trabalho, já te contei essa...

-Não - intervenho - Essa cicatriz é uma marca de tiro, você morreu com uma bala no cérebro que eu usei para atirar em você.

-Você não sabe usar armas, filha - responde Adam rindo em deboche.

-Sim eu sei, você me ensinou, seu pai era policial e você morava no campo, onde tinha uma arsenal de armas no porão - digo, faço uma pausa para respirar e só então percebo que estou suando.

-Rapazes, levem a Dorothy para tomar um sorvete, vou conversar com  Jennifer - diz Jessa seriamente.

Minha irmã abre a porta correndo e vai até os braços de Adam, enquanto eles e Pietro saem pela porta do apartamento,  observo - os atenta, até que a porta se fecha e volto meu olhar para Jessa.

-Eu sei que parece loucura mãe - digo chamando sua atenção - Mas...

Paro de falar após ver os olhos de Jessa molhados, e seu nariz vermelho, ela tampa a boca com as mãos enquanto soluça e chora desesperadamente, deixo ela em sua bolha e apenas a observo, até que Jessa para de chorar e limpa as lágrimas, ela entra em seu quarto e percebo o quão desapontada ela está, minutos depois ela volta com uma caixa nas mãos, e senta aos meus pés, Jessa me olha nos olhos e entrega a caixa.

Pego a caixa vermelha e a abro devagar, tiro a tampa e vejo dentro dela um tubo de transfusão de sangue, sinto algo a mais na caixa e em seguida vejo minha pistola, a mesma pistola que escolhi da bolsa de armas de Seiva e a mesma que matei Pietro, meus olhos se enchem de lágrimas e olho para Jessa.

-Esperei tanto tempo para ter minha filha de volta - responde Jessa. Mas em vez de um abraço, pego a pistola e passo a mão no cabo enquanto a admiro, depois olho para a Jessa com um sorriso no rosto.

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