Decomposição Zumbiresca

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Fico agachada atrás das latas de lixo ao lado de meu tio, Pietro, a noite está escura e estrelada, graças a pouca queima de combustível fossil à 21 anos.

Minha mãe contava histórias para mim, sobre o mundo antes do Apocalipse, pobreza, tecnologia avançada, maldade, falta de água, desmatamento, poucas estrelas no céu e de como a beleza se tornou a doença das mulheres. Isso é difícil de imaginar, eu não consigo visualizar uma rua lotada de pessoas, se elas não estiverem todas mortas, e sinceramente gosto do mundo onde vivo, um lugar onde tenha apenas eu, meu pai, minha mãe, meu tio, e um feiticeiro velho, e sem utilidade, que se diz ser importante. E por sorte, todos nós somos imunes.

Monterey não se tornou mais um lugar seguro, o risco de contaminação é alto por causa do apodrecimento acelerado da carnificina dos zumbis, por isso, nessa linda noite, estamos fugindo, deixando para trás 13 anos da minha vida e nos mudando para um lugar longe do cheiro podre da carne dos mortos vivos.

Além disso, não foram só os anos que se passaram, as mudanças começaram nas ruas que ficaram lotadas de água, as casas de madeira localizadas em lugares secos virando facilmente alvo do fogo, e os animais selvagens como vira - latas, tigres e lobos agora são encontrados nas ruas junto com seus bandos, a única notícia boa é que os animais não podem ser infectados pelo vírus zumbi, mas eles são portadores de outras doenças, nas quais não somos imunes. E a notícia a ruim, além das já citadas, é que os animais têm como principal prato, nós humanos, muitas vezes eles se tornam mais perigosos que os zumbis.

Obviamente não sou como uma garota normal, meu nome é Jennifer, e até hoje vi poucos seres humanos na minha vida, eu nunca estudei em uma escola, fiz compras em shoppings ou fui a uma festa do pijama, na verdade desconfio que tenha algum sobrevivente de 13 anos, além de mim. Eu cresci de frente à praia, lendo livros e estudando matemática com meus pais, aos 7 anos eles me ensinaram a empunhar uma faca e aos 9, uma arma de fogo. E Agora sou uma caçadora, meu pai, Adam, costuma dizer que se eu fosse criada nos tempos dele eu seria uma assassina de aluguel, e minha mãe diz que eu seria escritora, porque adoro ler os livros que ela rouba da livraria no centro da cidade.

3..2..1

Corro das latas de lixo até a escada de incêndio da casa a frente, tento não pensar muito sobre fracassar, porque o que estou fazendo agora é muito mais que uma missão é um passaporte para ganhar a confiança de Jessa e ir com ela em outras missões mais arriscadas.

Subo a escada, e com cuidado e silêncio chego ao terraço, pego o rifle das costas e posiciono no parapeito, pelo binóculo com visão noturna, visualizo onde devo jogar o sinalizador. Na casa a minha frente, Pietro assobia, e agora é a minha vez, tiro o sinalizador do bolso da enorme jacketa que estou usando, acendo o, e jogo na rua o mais longe que posso, vários zumbis podrificados, começam a se reunir em volta da luz. Desço correndo pela escada repleta de ferrugem.

-Acelere Jeny, logo os cães estarão por essa área - sussura Pietro, desço as escadas mais rápido, e quando chego ao chão, começamos a correr entre a viela. Corro na frente, com a lanterna iluminando o caminho onde passo, paro abruptamente, quando vejo uns 15 zumbis em volta do lixo comendo o resto de algum animal.

-Pietro - chamo seu nome, assustada.

-Isso é impossível - sussura ele, Pietro vira a lanterna para os zumbis que vem logo atrás dele e fica assustado. Pego sua mão e continuamos a correr pelo meio da rua, miro a lanterna para todos os zumbis que passo, e vejo exatamente o que não quero ver, algo assustador . Estamos passando em frente a um poste de luz, até que Pietro me para.

- Você viu isso também, Jeny? - pergunta ele de olhos arregalados.

-Vi Tio. Isso é impossível, são vários zumbis, eles têm a aparência de uma pessoa que acabou de ser mordida. Se fossem só aqueles do beco, tudo bem. Mas todos os zumbis, como se eles não fossem afetados pelo decomposição desses últimos 21 anos - respondo assustada.

-Exato, Adam vai gostar desse mistério. Mas algo mudou.

-Do que você está falando? - pergunto observando a rua.

-É impossível um zumbi voltar a primeira etapa de decomposição, semana passada quando vim para cá os zumbis estavam podres, quase como barro sobre osso - responde Pietro passando a mão de modo violento no cabelo.

-Isso não é bom, né? - pergunto.

-Não, se os zumbis continuassem naquele processo, em alguns meses eles reduziriam, como aconteceu nos últimos 21 anos. Mas agora, é impossível lutar contra zumbis com cérebros intactos, e animais predadores nas ruas.

Ouço um ruído vindo ao longe, e estremeço.

-Preciso contar para Jessa - digo.

-Apenas corra! - sussura Pietro, enquanto pega minha mão. Minha bota bate no asfalto lamacento enquanto corremos. Deslizo no chão, quando um bando de zumbis aparece na nossa única rota de fuga. Caio, enquanto vários zumbis se aproximam de mim, Pietro me pega pela jacketa, e quando levanto, volto a correr, ele tira a pistola do coldre e atira na vidraça intacta de uma loja de perfume.

Corro para dentro, chuto a porta já desgastada por cupim, saio da loja, pulo a grade do beco e continuo correndo sem olhar para trás. Ouço o grito de Pietro, viro - me para ver se ele esta me acompanhado, e vejo meu tio com a camisa rasgada, e com a pele cheia de arranhões, mas o importante é que ele está bem e vivo, lanço um sorriso para acalma - lo enquanto pego sua mão.

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