Morrendo Lentamente

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P.O.V Jessa

Viro meu rosto para a sala escura depois para Tristan, e simplesmente sei qual é a óbvia alternativa, viro-me e corro para dentro da sala ouvindo sua voz ecoar em minha cabeça, uma brisa gelada me causa um choque térmico, então paro de correr, e as luzes do lugar começam a se ligar uma a uma, como o celeiro de Adam na noite em que descobri sobre seus testes com zumbis, mas este lugar é tão frio e mórbido, por praticar tal crueldade com sua própria raça.

Com as luzes acesas minha visão fica embassada e minhas pupilas se dilatam, segundos depois me arrependo de ter aberto meus olhos para essa realidade, uma na qual sempre aceitei como inimigo apenas os zumbis, mas sempre soube que eu estava errada, e aceitar isso é concluir que nos criamos os monstros que tememos, e não estou me referindo aos necrófilos em nenhum momento, mesmo eu sabendo que foram nós que os criamos também.

Isso é um laboratório macabro, vejo mesas com todos os tipos de materiais cirúrgicos, pinças, serras, facas, bisturis, e muitas outras como ganjos nos quais alguns cadáveres estão pendurados, em uma lousa vejo todas técnicas de "tortura" usadas, todos os erros, consequências e causas, em uma prateleira, vejo bolsas de sangue de todos os tipos, e ao seu lado pedaços de órgãos e membros decepados, em outra tudo relacionado aos zumbis, seus sangues em fracos, sua pele, seus olhos e vários cérebros, alguns congelados. E o pior, vejo pessoas ainda vivas entubadas em máquinas com vidro transparente, várias pessoas, não só uma ou duas, talvez trinta.

-Não era para você ver isso - diz uma voz assustada atrás de mim.

-O que é isso, Tristan? - pergunto sem me virar.

-Paramos de realizar qualquer uma dessas técnicas quando meu pai morreu, esse é o motivo pelo qual não fiquei bravo com você quando o matou - diz ele, viro-me para encarar seus olhos cinzentos.

-Tudo isso tem a ver com o apodrecimento dos zumbis? - pergunto.

-Sim, quando o Apocalipse aconteceu muitos cientistas trabalharam nesse laboratório para tentar achar uma cura, muitos anos depois sem nenhum sucesso eles constataram que a melhor forma de sobreviver era levar o inimigo para o nosso lado - responde Tristan andando pela sala - Até que a uns 10 anos atrás um cientista do CCD, veio até nós com uma nova arma.

-Qual o nome dele? - pergunto dando um passo para frente.

-Joseph - responde Tristan, abaixo o olhar, Joseph é o cientista que nos ajudou a produzir frascos de cura quando as princesas ainda estavam aqui, o mesmo lugar onde o encontrei, o mesmo lugar onde vi Jack pela última vez, 17 anos atrás - Ele tinha vários frascos com antídotos, ele e meu pai viraram ótimos amigos.

-Espere - digo, fazendo um sinal de "pare" com a mão - Esta me dizendo que Joseph criou uma forma de regenerar a pele dos zumbis com o meu sangue?

- Não exatamente - responde Tristan com as mãos trêmulas.

-Como? - pergunto desesperada.

-Quando um exército de pessoas queriam tomar a base, dias depois infectamos todos frutos de árvores, todas as hortas que eles poderiam utilizar como fonte de alimento.

-Infectaram com o que?

-É uma fórmula do seu sangue de um tecido bacteriano utilizado como regeneramento, junto com o vírus Salanum no qual recriamos, como um osso, quando o osso se quebra o tecido se fortalece ficando mais forte que o anterior, acontecendo o mesmo efeito nos zumbis. Não usamos o seu sangue para criar uma nova fórmula de zumbis resistentes a deterioração, foi a partir do seu sangue que meu pai e Joseph tiveram a idéia, mas é tudo tão complicado. Anos depois eles pensaram mais além incluindo nos zumbis bombas de ácido, reconhecimento de temperatura e rastreadores - responde Tristan parando - A meses não usamos mais o laboratório, os cientistas precisaram de cobaias e algumas pessoas foram utilizadas de nossa base, mas eles foram voluntários.

-Joseph, onde ele está? Preciso falar com ele - digo indo em direção a saída, corro até a porta de aço e começo a andar pelo corredor até que a voz de Tristan me para novamente.

-Ele morreu, muito antes de meu pai, á anos  - responde ele, viro-me e volto a correr.

Piso firme pelos corredores, e corro refazendo todo o caminho, tento não desabar, mas tudo o que penso nesse momento é o quão envolvido Joseph está desse lugar, todos os projetos que ele realizou, nada disso parece ter feito pelo homem bondoso e desastrado que nos salvou no CCD. Finalmente consigo chegar ilesa aos portões, vejo vários guardas correndo de um lado para o outro guiando as pessoas, consigo sair de lá sem que ninguém me veja.

Corro por alguns quilômetros, e paro com a respiração ofegante, apoio meu corpo sobre o tronco retorcido de uma árvore, e sorrio, pela primeira vez em muitos dias, penso em minha filha, ela deve estar bem, Adam estará cuidando dela, confortando-a por ter perdido Pietro. Mas tudo bem! Minha filha me receberá com os braços abertos, um sorriso no rosto e os olhos úmidos, a réplica do rosto da mãe, e eu vou lhe dizer o quanto me deixou orgulhosa, por ter confiado em mim. Preciso estar perto dela, o quanto antes, continuo correndo, o mais rápido que posso, pulo alguns galhos, mas a roupa militar retarda meus movimentos e me deixa mais lerda, tudo parece estar indo bem, até que sinto uma pontada, ouço o barulho da pólvora e meu corpo cai desamparado no chão, e morro mais uma vez, ao som de risadas.

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