Sweet Child O'Mine (Rose e Scorpius)

XVIII - Solo Tu

Eres luz que puede tocar este corazón

No hay nadie mas que tu

Que enciendes estrellas en mi interior

Yo iré a donde vallas tu

Y es que nadie mas me mira como tu

Sólo tu

A dor era tão dilacerante que ele sentia as feridas abertas na pele em carne viva, assim como o sangue que jorrava de vários pontos do seu corpo. Sentia-se queimar, arder, o que impedia as acusações diárias de virem à tona para o torturarem. Tinha valido a pena, no final das contas. Nunca imaginou que a dor física elevada a exponenciais altíssimos seria capaz de sufocar o sentimento que vinha o sufocando e o matando aos pouco todos os dias: a culpa.

– Astoria, preste atenção, sim? – Ele ouviu ao longe a voz de um homem. Seus olhos entreabertos, hipnotizados pela dor, viram o seu vulto junto ao borrão de uma mulher de longos cabelos. – É um encantamento extremamente difícil e que precisa ser executado de forma correta.

Draco, então, sentiu a pele se fechando na medida em que a voz do homem era convertida em sussurros de contrafeitiços. Quis se debater, fazer com que parassem, mas não tinha forças.

– Foi mesmo um Sectumsempra. – Sussurrou a garota, talvez surpresa, mas não apavorada. – Ouvi dizer que foi um feitiço bastante usado por Comensais da Morte.

Draco sorriu antes de adormecer, um sorriso debochado. O que aquela garota diria se ele contasse que não tinha aprendido aquele feitiço com Comensais, e, sim, com o Santo Potter, que agora estampava todas as edições de jornais do país com a sua benevolência?

**

Astoria era estagiária no St. Mungus há pouco mais de um ano. Apesar de vir de uma família tradicional, envolvida com magia das trevas até o pescoço e de ter sido preparada para um bom casamento desde que tinha doze anos, Astoria não conseguia se ver fazendo parte daquele mundo. Não estudou em Hogwarts como a irmã, Dafne. Por desde criança ter mostrado traços mais rebeldes do que os esperados para ela, o pai optou por matriculá-la em Beauxbatons. Boatos diziam que a escola francesa estava tratando suas alunas com maior rigorosidade – não apenas ensinando magia, mas bons modos e etiqueta – enquanto Albus Dumbledore estaria levando a escola ao colapso com sua constante falta de pulso.

Realmente, Beauxbatons foi muito rígida com ela. Astoria aprendeu na marra a forma correta de se sentar, de comer. E teve aulas particulares, a pedido do pai extremamente influente na época, que tinham como foco principal a tornar uma verdadeira dama, assim como a irmã. Mas Beauxbatons também era excelente em ensino de magia, o que acendeu os olhos de Astoria desde muito jovem para a carreira de medibruxa.

Aprendeu a mascarar seu espírito rebelde, fazendo-o vir a tona apenas no leito de morte do pai, que teve como último pedido que ela se casasse com alguém decente.

– Estou terminando o curso de curandeira. – Ela informou calmamente.

Astoria ainda podia se lembrar do sorriso do pai.

– Eu sei e, acredite, foi um ótimo investimento. Os homens de hoje em dia parecem gostar que as mulheres não apenas cuidem da casa, mas que também sejam letradas e bem informadas. Deixei com a sua mãe uma boa lista de nomes pra você. Dafne vai se casar com o filho dos Nott no fim do ano.

– Acho que o senhor não entendeu. – Astoria teve o prazer de ouvir as palavras saindo de sua boca. – Estou terminando o meu curso de curandeira. E não pretendo me casar.

Ela não odiava o pai, odiava as tradições, as regras e toda aquela coisa de século 19 que sua família era obrigada a carregar consigo. Porém, não conseguiu chorar quando recebeu a notícia, dois dias depois, de que o pai tinha falecido. Dafne, a partir de então, deixou de chama-la de esquisita, para acusa-la de ter matado o pai. A mãe, bem mais paciente e sem nunca demonstrar sentimento algum, parecia, em silencio, de alguma maneira, agradecê-la. Apesar do negro que vestiu até o final dos seus dias, os olhos e as risadas de Ariana após a morte do marido jamais fizeram sentindo com o seu luto.