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    Uma bomba explodindo

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    Uma bomba explodindo. Eu sabendo da explosão e todas as consequências dela antes mesmo de tudo acontecer. E parada, sem poder fazer nada. Inútil, vendo e esperando pelo pior. Foi assim que me senti enquanto toda a confusão com Alexandra acontecia no pátio da Broken. Tudo sobre o peso macabro e desafiador daquele desenho na parede e os olhares de cada pessoa que apenas observavam, tão nulas quanto eu. E mais uma vez, o número lá, presente fora do inconsciente. Real e de verdade enquanto eu via minha melhor amiga suja de um vermelho escuro, sendo levada por uma imensidão de branco, que caia sobre mim com todo o horror denso do clichê que é saber o significado das coisas em nossas vidas, apenas segundos antes de pensar em perdê-las. Porque passar a viver sem algo ou alguém, que até então esteve o tempo todo ali, significa mudar. E mudanças, de um jeito ou de outro, são assustadoras.


  - Você e o John até que são fofinhos como um casal

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  - Você e o John até que são fofinhos como um casal. Mas relacionamentos é bem mais do que só parecer. É sentir, de verdade. E se o "sentir" não existe mais, eu acho que vocês deveriam conversar e ver se vale a pena continuarem juntos.

  Ouvir cada palavra pareceu ter tirado toda a culpa ilusória das minhas costas. A solução de repente pareceu mais simples como nunca antes desde que as coisas começaram a azedar entre John e eu.

  - Eu acho que você se sairia muito bem em um relacionamento - eu disse, sinceramente, segurando a mão dela dentro da minha. - Muito sortudo, o cara que conseguir seu coração, Alexandra.

  - Olhe para mim - começou, num tom dramático, levando as costas da mão à testa - e tenha certeza de estar vendo a injustiça do mundo em pessoa, minha amiga. Eu, aqui, disposta, sabendo sobre e querendo alguém que me queira, e olha só o que a vida me dá: uma amiga que usurpa toda a sabedoria que eu quero tanto por em prática!

  Rimos. Eu ri, porque era bom quando estávamos juntas. Quando ela provocava graças em mim.

  - Mas sério, você tem razão. Eu vou falar com o John sobre isso, enquanto uma conversa ainda pode, talvez, resolver as coisas. Eu ainda gosto dele e acho que sempre vou gostar, de alguma forma. Mas gostar não tá sendo mais suficiente. Qualquer atrito bobo se transforma em discussões maiores, e o jeito que ele se comporta nesses momentos tá começando a me assustar. Ele tá diferente. Os olhos, com uma raiva exagerada pra situação. Ciúmes. É como se a normalidade de nós dois juntos tivesse começando a se perder. E claro que eu preciso fazer algo antes que as coisas fujam do controle. Obrigada por me ouvir, amiga.

  Ela se inclinou sobre a mesa e os livros, e sussurrou em meu ouvido:

  - A verdade é que tudo parece mais fácil aos olhos de quem tá longe.

  Eu quase me perdi nas palavras enquanto encarava a mancha escura em seu pescoço.

  - O que aconteceu com seu pescoço? - Perguntei.

  Ela voltou para a cadeira, tirando o espelho da maquiagem da bolsa e o apontando para o pescoço; tive a impressão da mão estar um pouco trêmula.

  - Eu não sei. Não tinha notado isso aqui antes - disse, encarando a macha.


  - Ele me pediu em namoro - revelei, contendo a empolgação que existia em mim

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  - Ele me pediu em namoro - revelei, contendo a empolgação que existia em mim. Eu simplesmente passei a me sentir genuinamente feliz desde que o pedido fora feito.

  - Ele? O...

  - Sim, o Oliver!

  - Ah, legal...

  - Nossa, nem se importou em fingir uma empolgação. Tá tudo bem, Alexandra? Você parece um pouco pálida.

  - Sim, tudo bem. Eu só acordei um pouco enjoada hoje, desculpa - ela disse, tapando a boca com os dedos suados enquanto corria até o banheiro, me deixando sozinha. Eu e toda felicidade que sentia.  

_

  Enquanto estava envolvida pelos braços do Oli e via Alexandra ser levada para o hospital, eu lembrei de tudo que já tínhamos feito juntas. Todas as conversas, cada risada e todos os momentos. Aquela velha história do filme de todas as coisas passando diante dos nossos olhos; e saber que de fato é essa a sensação que nos abate em instantes como esse dói tanto. Doeu tanto. Principalmente porque no final desse filme não existia mais eu e ela juntas. Apenas ela, sozinha. Eu, completamente ausente, sugada por todos os números vinte e três, e achando, absurdamente, que a companhia dela não estava me fazendo bem. Os pensamentos me fizeram sentir nojo de mim mesma. Não consegui ficar por muito mais tempo no colégio e voltei para casa. Vomitei.

  Alexandra sempre fora minha melhor amiga, eu via sua relação conturbada com a mãe. Os problemas do irmão que o levaram à morte. Os visíveis sinais de que sua saúde precisava de atenção e eu, eu, deveria ter ajudado. Ela foi minha melhor amiga, mas eu não fui o melhor para ela.

  Encontrá-la, pedir desculpas e dizer que tudo ficaria bem outra vez. Era o que eu precisava fazer.

  Então meu celular tocou.

  Eu levantei da cama, enxuguei as lágrimas e atendi.

  Era Fábia, a mãe da Alexandra.

  Eu não falei nada, só esperei pelo pior que senti estar por vim.

  Ela entendeu. Acionou a bomba do outro lado. Ao fundo da ligação, ouvi o grito de alguém no hospital.

  E foi então que as chamas de culpa e arrependimento caíram sobre mim. Me queimando em insignificância e arrependimento.

  O que aconteceu com seu pescoço?

  O nariz sangrando, de novo.  

***

  Suspenso por duas semanas por algo que eu não fiz, mas que o mundo parecia gritar: A CULPA É TODA SUA! Eu estava no quarto pensando como ou se deveria contar o que aconteceu ao meu pai, e qual diferença isso faria, quando ouvi algumas batidas apressadas e mais fortes do que o necessário na porta.

  Achei ser algum estranho, que não sabia sobre a existência da campainha, mas me deparei com o extremo oposto.

  Era Eloise.

  Desesperada.

  Me abraçou como se o fim de tudo que lhe afligia dependesse disso.

  - O que aconteceu? - Perguntei, um tanto assustado.

  - Alexandra... A Alexandra tem câncer.

  E só então eu a abracei de volta.


CONTINUA...

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