SEIS - Parte Dois

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  Abrir a porta ou ver o que tinha dentro da caixa

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  Abrir a porta ou ver o que tinha dentro da caixa. Eu só precisava escolher o que fazer primeiro.

  Corri até a janela do corredor antes da escada, onde pude ver que era a Eloise chamando. Devia ser algo realmente importante.

  Abrir a porta. Decidi.

  Meu pai se arrastou até a cama e acabou dormindo enquanto eu limpava a bagunça no quarto. Ficaria bem ali sozinho.

  Desci correndo as escadas, ainda não totalmente seguro sobre a escolha de ter deixado a caixa para depois.

  No lado de fora, encontrei uma Eloise visivelmente perturbada. Me deu um abraço apertado, desesperado, medroso.

  - Oli, o número. No velório - ela sussurrou, chorando.

  - Você está tremendo! Calma, calma... Senta aqui - sugeri, a conduzindo até a cadeira de balanço no canto da varanda. - Vou pegar um pouco de água. Fica calma, eu já volto.

  - O.K. - Ela disse, forçando uma respiração profunda.

  O número. No velório.

  As palavras martelavam em minha cabeça.

  Também havia acontecido com ela, então. Claro!

  O número agora não estava apenas em nossos sonhos, tinham atravessado a barreira do nosso inconsciente. Invadiram nossa vida real. Isso é realmente assustador!

  Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava a porta aberta da geladeira. Minha mente tentava lembrar o que eu tinha ido fazer ali. O que eu precisava fazer agora.

  Primeiro a mensagem anônima com o número repetido por vinte e três vezes. Ainda a pouco a caixa com o número entalhado no quarto do meu pai. Ainda não havia contado nenhum dos dois fatos à Eloise. Não queria assustá-la, mas se tivesse pensando bem, claro que teria percebido que o mesmo logo também aconteceria com ela...

  Água. Eu vim pegar água para ela.

  E se eu tivesse contado antes, de alguma forma a teria preparado para esse momento.

   - Aqui - estendi o copo para ela, ainda tremendo mas com os olhos já secos. - Respira e me conta o que aconteceu.

  Enquanto ela segurava o copo com as duas mãos e eu esperava que se acalmasse, ouvi meu celular tocar em algum lugar dentro de casa. Imaginei que seria o Jotapê com alguma notícia sobre o número privado e decidi que quando voltasse contaria à ela sobre a mensagem. Quanto a caixa, eu precisava entender o que ela significava primeiro.

***

  - Péssima notícia - disse quando ele, enfim, atendeu. - Não consegui rastrear a mensagem. O endereço tá protegido por um puta Cavalo de Tróia que tentou invadir meu sistema em minhas três tentativas de conseguir o número.

  - Você não tem proteção contra vírus no PC?

  - Claro que sim! Como falei, foi um puta Trojan. Não sei como conseguiu invadir o sistema como se o caminho estivesse completamente livre.

  - Bom, de qualquer forma, agradeço pela tentativa e peço desculpas pelo transtorno.

  - Tá brincando? O cara que inventou esse vírus foi um gênio! Ter meu sistema infectado por essa obra de arte é o mesmo que receber uma mensagem do seu criador me dizendo: Um dia, você conseguirá ser igual a mim, meu pupilo.

  Ouvi uma quase risada no outro lado da ligação.

  - Você é bem doido, Sr. Harcker. Então, preciso desligar agora, Jotapê. Depois a gente se fala.

  - Até mais, Oli - disse, mas ele já havia desligado.

  - João Pedro? - Meu pai chamou depois das três batidas na porta trancada do quarto. - Tem um garoto na sala te esperando. Christian, o nome dele.

  Deixei o último copo de refrigerante cair sobre o teclado o computador. O monitor piscava em vermelho, alertando sobre as consequências de mais uma infecção.

***

  - Melhor? - Perguntei quando voltei para fora, ainda pensando sobre o mistério da mensagem, mas nada que superasse a surpresa e susto da caixa no andar de cima.

  - Sim - ela respondeu, me entregando o copo vazio e se colocando de pé. Estava visivelmente mais tranquila.

  - Vamos. Eu te levo em casa e no caminho você me conta o que aconteceu no velório. Também preciso contar uma coisa.

_

  Eu não conhecia os pais da Eloise. Segundo ela, a hora certa para o momento ainda não havia chegado. Não entendia ao certo o motivo nem havia insistido no assunto. A família era dela, e se ela dizia algo sobre o que era melhor ou não, só me restava acreditar e esperar. Depois de ter contado sobre sua ligação pessoal com o salmo vinte e três da Bíblia e de como a situação a atingiu naquele momento na igreja, e eu ter lhe falado sobre como aquilo era esperado e pedir desculpas por não ter contado sobre a mensagem antes, eu a deixei à um quarteirão de casa, o que foi extremamente conveniente. Quando ela foi engolida pela esquina, eu corri.

  No quarto do meu pai, aranhei propositalmente com o tênis alguns cacos de vidro que haviam sobrado no chão. Se ele acordasse com o barulho, acharia que eu ainda estava limpando.

  Não acordou.

  Fui direto e o mais rápido possível com as mãos em direção ao lugar onde vira a caixa antes da Eloise chegar.

  Antes, pois agora, o escuro debaixo da cama estava completamente vazio.


CONTINUA...

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