O hospital de Hill Course é o único prédio da cidade que perdeu a aparência gótica com uma recente reforma a fim de modernizá-lo, o que não foi suficiente para tornar o ambiente menos sombrio e um tanto mais confortável.
Depois de passar na recepção e fazer meu crachá de identificação, eu corri pelo corredor branco e gelado até a última porta. As lágrimas, que até então não existiam mais, voltaram a cair. A chuva, que aumentou durante minha vinda em desespero, agora se fazia presente ao escorrer pelo meu cabelo encharcado.
Nada me incomodava mais do que o quanto eu me sentia inútil. Nem mesmo o Oliver ter me deixado em frente a porta da minha casa, quando todas as outras vezes eu pedi que ele voltasse de alguns quarteirões antes. Dessa vez o silêncio da voz nos acompanhou, tão presente como se fosse outra pessoa, enquanto minha mente gritava para dentro tudo que eu deveria ter feito e o que queria fazer. Mas eu também não me importei em beijá-lo e passar alguns segundos em seu abraço, até que uma chuva fina começasse a cair. Então ele foi embora e o silêncio se dividiu em dois. Uma parte o acompanhou de volta para casa, a outra ficou comigo. E nada além do fato de minha melhor amiga estar em um hospital e eu nem se quer ter mais lágrimas para chorar me incomodava tanto. Não até que eu abrisse a porta e encontrasse meus pais na sala, encarando meu celular na mesa de centro; o havia esquecido quando fui até a casa do Oli. Ver meu pai ao lado da minha mãe me fez ter a certeza de que algo muito sério estava acontecendo.
- Eloise! - Minha mãe gritou, vindo até mim e me abraçando, nervosa. - Onde você estava, minha filha?
Por cima do ombro, vi meu pai levantar, colocando as mãos nos bolsos da calça e encarando qualquer coisa, menos o que quer que fosse que estivesse acontecendo.
- O que foi, mãe? - Perguntei lentamente, ignorando a pergunta de antes. Um choro enxuto quase tapando minha garganta.
- A mãe da Alexandra ligou - ela começou, e eu lutei contra todos os instintos para poder esperar que acabasse. - Sua amiga não está nada bem, filha. - E sem pensar duas vezes, eu atravessei a porta que ainda estava aberta atrás de mim.
Corri debaixo da chuva, com a vontade do choro falsificada pelas gotas de água que me escorriam no rosto. Corri querendo chegar ao hospital. Eu corri até Alexandra.
***
Quase uma hora sem resposta para a primeira mensagem.
A cada passo do andar em círculo no quarto, a hipótese ganhava mais força em meus pensamentos.
A chuva aumentou junto com a raiva de querer a verdade definitiva sobre a tal possibilidade. Verdade que eu não precisaria fazer tanto para tê-la.
Comecei a digitar uma segunda mensagem, mas parei ao perceber que poderia fazer melhor.
Com tudo mais importante que estava acontecendo, talvez não houvesse um problema maior se eu fosse até sua casa. Eloise veio aqui mais cedo, coisa que nunca fizera antes; sem falar que não se importou de eu ter a deixado em casa, literalmente dessa vez. Eu precisava de respostas para questões que não podiam esperar.
Vesti um casaco escuro, peguei o guarda-chuva e dei mais uma olhada em meu pai, que continuava dormindo, antes de sair.
CONTINUA...
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Conectados
Mystery / ThrillerOs namorados Oliver e Eloise se encontram no meio de uma trama de misteriosos sonhos envolvendo o número vinte e três. Ao tentarem descobrir o motivo pelo qual os sonhos, aparentemente desconexos e inexplicáveis, estão os perturbando, eles descobrem...