6 - Harry.

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 ''A sensação de estar sozinho não aparece apenas quando você realmente esta, mas sim quando percebe que esta vazio por dentro.''

Olhava para Red que tentava conter sua respiração ofegante e se encolhia sobre a minha presença. Por que eu me importava tanto com ela? Por que importava tanto o que ela achava? 

- Vá limpar o meu quarto, você tem uma hora. - Avisei e a mesma assentiu correndo para longe. Ela tinha medo de mim, eu plantei nela o medo assim como plantei em diversas outras pessoas. 

- Eu sou infeliz. - Murmurei para o vazio. Eu nunca tive um vislumbre do que seria ou não felicidade, e talvez por isso sabia apenas essa forma de viver. 

Peguei meu casaco e um outro para Red subindo escada acima e a mesma começava a passar vassoura no quarto. 

- Deixe isso ai, venha. - Chamei. 

- O quê? 

- Vamos a um lugar, anda logo. - Disse lhe estendendo o casaco e a mesma deixou a vassoura no chão agarrando no mesmo. 

- Aonde vamos? - Perguntou me seguindo protegida pelo meu casaco grande. 

- Onde você morava? - Perguntei. 

- O quê? 

- Apenas responda Red. 

- No povoado do sul. - Murmurou. 

- Vamos até lá. - Afirmei abrindo a porta do carro e Julian se aproximou entrando no lugar de motorista. Dei a volta no carro e entrei pelo outro lado. - Pode ir. - Mandei.

- Você vai me mandar de volta? - Red perguntou pousando as mãos sobre as pernas brancas. 

- Devia ter lhe dado uma calça, esta com frio nas pernas? - Desviei o assunto. 

- Um pouco, mas é suportável. - Murmurou.

- Tudo bem. - Disse virando-me para frente. 

- O que vamos fazer? 

- Eu só preciso ver umas coisas. - Disse olhando pela janela. - Não faça mais perguntas. 

Assim que o carro parou uma rua antes da entrada do povoado desci e mesmo confusa Red fez o mesmo. Coloquei a touca e o capuz do casaco seguindo com as mãos nos bolsos. Red fechou o casaco e abrigou as mãos nos bolsos sem dizer nada. 

Os portões velhos e enferrujados que separavam aqueles mais pobres da elite estava aberto, seguimos em silêncio. Logo se percebia que tudo era sujo. As ruas mal tinham iluminação e o mau cheiro era predominante. Mas para a minha surpresa, eles não estavam tristes, não pareciam. 

Havia uma fogueira e enquanto um velho senhor tocava violão algumas crianças cantavam, pulavam e dançavam. Enquanto tudo ao redor desmoronava eles estavam curtindo um pouco de felicidade. 

- Amor. - Red murmurou e olhei para ela. 

- O quê? 

- Eles têm amor, família, união e gratidão. Eles têm a felicidade mesmo que o seu povo tenha tentando tirá-la. 

- Como?

- Aprendemos a ver as coisas boas até nas piores situações, aprendemos a dar mais valor à vida do que ao dinheiro. - Respondeu e desviei meus olhos dos dela voltando a ver as pessoas a minha frente. Pessoas. Eles pareciam pessoas para mim agora. 

- Vamos embora. - Afirmei e Red não disse nada apenas seguiu em direção à saída. Olhei mais uma vez para eles e nessa hora uma criança se virou me olhando e sorriu. Um simples, mas sincero sorriso. Um sorriso de alegria em meio a tanta dor.

+++

Sentei-me em frente ao grande piano que havia na sala e pousei meu copo de uísque ao lado respirando fundo. Eu nunca apreciei as pequenas coisas, nunca parei apenas para sentir a brisa, para ver as estrelas ou admirar o por do sol. 

Em algum momento eu havia me tornado uma pessoa amarga e agora não me vejo de outro jeito se não esse. 

Abri a tampa que protegia as teclas do piano e deslizei meus dedos sobre elas causando uma melodia desorganizada. Eu estava com raiva, mas não era de ninguém além de mim mesmo.

Bati os punhos fechados sobre as teclas do piano tentando descontar minha enorme frustração. 

- O piano não tem culpa. - Olhei para cima e vi Red encostada ao batente da porta. - Eu acabei de arrumar seu quarto. - Informou. 

- Venha aqui. - Pedi e Red deixou a vassoura e o balde no canto da sala se aproximando. - Sente-se. - Murmurei lhe dando espaço no banco do piano. 

- Você esta bem? - Perguntou e olhei para ela. Ela estava sendo gentil? - Sabe meu pai sempre me disse que música ajuda em tudo, nelas estão às respostas das suas frustrações e decepções. 

- E você acredita nisso? - Perguntei debochado e Red posicionou seus dedos sobre algumas teclas.

- Sempre acreditei. - Murmurou com um pequeno sorriso antes de começar a deslizar seus dedos pelo piano começando a dar forma a uma melodia bonita. - Sinta a música e encontre a sua resposta. - Sussurrou e olhei para ela. 

Seus dedos deslizavam com habilidade pelo piano produzindo notas suaves e afinadas, e foi ali ouvindo a melodia por mim desconhecida e olhando para ela que eu encontrei a minha resposta.

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Mais um, espero que gostem, votem e comentem. Beijinhos :)

The Other Side. H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora