29 - Red & Harry.

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“Toda luta um dia chega ao fim com um ato de bravura e coragem.”


Harry

Aquilo estava sendo uma tortura, não havia um consenso enquanto James continuasse dificultando a minha posição. Ele estava testando minha paciência, esperando para saber até onde eu poderia chegar.

- Acho que as palavras de James são muito graves, se uma cor ousou te questionar em frente aos seus homens, senhor Styles isso pode enfraquece-lo, e se for enfraquecido o sistema também será. – Edmundo pontuou tentando afrouxar sua gravata para impedir que seu colarinho continuasse apertando sua papada.

- Isso foi resolvido assim que James saiu da minha casa. Não há motivo nenhum para alarde. – afirmei.

- Eu penso ser o contrário. Devo dizer que é perceptível o quanto é paciente demais com essa cor, o quanto é brando. – acusou James. – Por isso o mais indicado é levá-la para uma execução pública.

- Nós não vamos. – afirmei me levantando e James fez o mesmo.

- Vamos votar. – decidiu Arthur. – Sabemos que a votação está acima de qualquer decisão, quem acha que Red deve ser levada para a execução em público levante a mão.

Meus olhos vagaram pela sala e apenas dois pares de braços se mantiveram abaixados, os meus e os de outro nobre.

- Então está decidido, a cor deve ser mandada para praça amanhã. – concluiu Arthur se sentando novamente e vi o sorriso se formar no rosto de James.

Após decidir o horário para a execução James deixou a reunião e corri para casa, eu tinha catorze horas antes de tudo acabasse.

Meus pensamentos trabalhavam em um ritmo frenético enquanto eu entrava em casa e Red me encarou se levantando do tapete que limpava.

Meu coração se apertou ao ver seus olhos inchados, seu semblante triste em meio a casa vazia. Mas eu não podia parar, eu havia tomado uma decisão no momento em que deixei aquela reunião.

E catorze horas nunca me pareceu tão pouco em toda a minha vida.

Seus passos me seguiram até o quarto e seus olhos me observavam atentamente da porta enquanto eu jogava a mochila na cama.

Tudo estava aqui previamente preparado para o pior cenário possível, eu sabia que chegaria, eu só não sabia que seria tão rapidamente.

- O que está acontecendo? – sua voz soou incerta e com medo.

- Você precisa ir Red. – afirmei arrumando o dinheiro no fundo da mochila.

- Ir? Como assim?

- Eu não consegui evitar. – suspirei. – Não consegui.

- Harry o que vai acontecer? Por favor, me diz. – pediu se aproximando da cama e me virei para ela sentindo o nó se fechar em minha garganta.

- Por conta da sua conduta ontem James exigiu sua execução. Todos votaram a favor, e eu não pude impedir.

- Eu vou morrer? – seu olhar me atingiu em cheio e soltei a mochila segurando em sua mão.

- Não, você vai fugir Red.


Red

- Se eu fugir você morre Harry. – afirmei balançando a cabeça em negação e Harry acariciou meu rosto.

- Eu estou disposto a correr esse risco Red, é o mínimo que eu posso fazer. – sussurrou enquanto seus olhos se tornavam mais brilhantes pelas lágrimas contidas e senti meu coração se afundar em meu peito.

- Você não pode simplesmente ir comigo? – supliquei assustada.

- Se eu for, James vai nos caçar em cada lugar que ele puder Red, você não merece isso, você merece ser livre, ser feliz.

- Harry...

- Eu te causei muita dor Red, eu te fiz chorar, sofrer, sorrir e sentir. Você acompanhou cada momento de mim, chorou quando eu chorei, sofreu quando eu sofri, eu te amei e te odiei de formas intensas e indescritíveis Red, e você merece mais do que ninguém ser livre.

- Eu sinto muito que tenha que ser assim, sinto por termos nos machucado tanto aponto de não podermos existir juntos. Eu sinto muito pelo momento que nos encontramos, sinto por quem eu sou e por quem você é Harry.

- Eu estou colhendo aquilo que plantei, e a partir de agora eu quero fazer a única coisa que posso fazer de bom para você. – afirmou raspando seus lábios nos meus e as lágrimas desceram pelo meu rosto.

- Eu te amei Harry. – sussurrei.

- Eu te amo Red.

Às dez e quarenta daquela noite Harry me mandou partir com um soldado que me levaria até o trem que sairia as onze. Em seu olhar havia calma pela primeira vez em meses.

Ele sorriu em meio ao beijo e acariciou meu rosto uma última vez antes de soltar minha mão, em lágrimas eu me afastei daquele que havia me mantido presa a ele por tanto tempo.

Às onze em ponto escondida no vagão de carga agarrada a minha mochila eu ouvi o barulho das rodas contra os trilhos depois da última vistoria eu senti o trem pegar sua velocidade e me levar para longe do meu inferno.

E as oito horas da manhã quando meu corpo dolorido tentou se esticar no vagão e chegamos a parada de East Sussex para pegar o barco que deixaria Londres eu ouvi a notícia.

Às oito horas da manhã daquele dia Harry Styles havia sido levado para execução em meu lugar, acusado de trair a nobreza ele foi apedrejado.

Esse foi o dia que Harry Styles deixou de existir, meu corpo se tornou frio como o dele, meu peito se tornou estreito demais para o meu coração e eu amargurei por dez dias naquele quarto gelado e solitário em um mundo que ele não existia mais.

Haviam muitas marcas em meu corpo, em minha alma, marcas que seriam eternas em minha vida, marcas que não se apagariam nunca, marcas que apenas aqueles que estiveram do outro lado poderiam carregar.

Marcas que eu levaria comigo para recomeçar a minha vida.

Eu sobrevivi ao final, eu lutei até o último momento e agora eu estava livre.

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E chegamos ao fim, eu avisei para não me odiarem muito, mas esse foi o fim mais digno que imaginei.
Harry fez muita coisa, fez muitas pessoas sofrerem para estar onde ele gostava de estar.
Acho que esse fim foi uma forma do personagem se redimir e arcar com as consequências dos seus atos e foi o que mais gostei.
Espero que tenham gostado da história, desse amor sofrido e impossível de ser vivido.
Obrigada por acompanharem até aqui ❤❤❤

The Other Side. H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora