7 - Red.

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 ''Nunca é tarde para se arrepender, nunca é tarde para tentar de novo.''

As semanas se passavam e Harry se fechava cada vez mais em sua própria discussão interna pelos princípios que ele tinha e os que não tinha. Seu pai o rondava tentando entender o motivo de sua pequena mudança e parecia bem irritado com a falta de resposta. 

- Senhor, chegou um novo carregamento. - Disse um dos soldados entrando e Harry abaixou o jornal que lia enquanto eu continuava a passar a flanela na pequena mesa. 

- O quê? - Perguntou. 

- As pessoas ainda não têm cores denominadas, mas o senhor precisa decidir para qual povoado elas vão. - Esclareceu. Todos nós éramos tirados de nossas casas e colocados em caminhões, assim depois de receber nossas cores nos levavam até um dos povoados, norte, sul, leste ou oeste e então passávamos a viver ali, esquecidos e isolados. 

Harry assentiu levantando-se e caminhou para fora com o soldado enquanto permaneci limpado a mesa. 

- Red, pegue o pequeno caderno embaixo da estante. - Mandou do lado de fora e deixei a flanela na mesa caminhando até a estante e retirando de lá o caderno. Segui para fora e vi as pessoas sendo retiradas dos caminhões. Crianças pequenas agarradas aos seus irmãos mais velhos ou aos pais, mulheres, homens, idosos, todos tratados como mercadoria, todos usavam uma roupa branca e logo mudariam para uma com a sua determinada cor e todos estavam acorrentados uns aos outros formando uma grande corrente. 

- Aqui esta. - Murmurei pronta para voltar, mas Harry fez sinal para que eu ficasse caso ele precisasse. As pessoas me olhavam, pareciam analisar as pequenas cicatrizes ainda presentes em minhas pernas, pareciam saber que eu era um deles e pareciam sentir por mim assim como eu senti por eles.

Harry se manteve concentrado no caderno onde anotava alguma coisa enquanto os soldados rodeavam as mulheres, passavam as mãos pelas suas pernas como se avaliassem o material e logo depois riam das reações de medo e repulsa. 

Meu estomago embrulhava mais a cada minuto que passava ali. Olhava para as crianças que perdiam o brilho da esperança do olhar, que perdiam a vida que conheciam e que em alguns casos se perderam dos próprios pais. 

- Harry, você precisa mesmo de mim aqui? - Perguntei e o mesmo ergueu os olhos do caderno me encarando. 

- Preciso. - Afirmou. 

- É que eu...

- Se você continuar eu serei obrigado a reforçar minha marca em você. - Murmurou entredentes, perto demais para me amedrontar. 

- Desculpe. - Murmurei encolhendo-me e Harry voltou-se para o caderno.

O que ele havia aprendido com a visita ao povoado? O que ele havia aprendido com o que conversamos? Seria tão difícil assim mudar? 

- Pronto, separem o grupo em três e leve um para cada povoado exceto para o leste. - Mandou fechando o caderno. 

- Sim senhor. - Disse um dos soldados e as pessoas começaram a se agitar conforme eles se aproximavam para separa-las. 

- E as crianças senhor? 

- Deixem com os seus respectivos familiares. - Disse e o mesmo assentiu. Os três grupos entraram para caminhões diferentes e eu ainda podia ouvir os gritos, pedidos e implorações quando se afastaram.

- Eu vou terminar de arrumar a sala. - Avisei e Harry assentiu seguindo atrás de mim. 

+++

Limpei toda a sala em silêncio sentindo meu corpo tenso e meu estomago dolorido. Quando tudo começou a mudar não imaginávamos que acabaria assim. Mas então as pessoas começaram a sumir de suas casas e aceitamos a realidade de que algo estava errado. 

- Acabei aqui, se me permite eu--

- Estive pensando em passar um tempo na sala de piano, você gostaria de me fazer companhia? - Perguntou. 

- Eu preferia ir para o quarto. 

- Por quê?

- Eu estou cansada. 

- O que você tem? Foi pela forma que te tratei? Red eu não posso deixar que você me questione na frente dos meus homens. - Afirmou se aproximando e dei um passo para trás.

- Eu estou cansada. 

- Foi por conta daquelas pessoas? O que você queria que eu fizesse? Abrigasse-as na minha casa? - Perguntou mais próximo e voltei a me afastar me encostando na parede. É estávamos realmente no meio dessa cena ridícula, mas ele não me beijaria agora ao contrario dos filmes.

- Harry...

- Não se engane Red, eu sou o que sou. 

- Mas você pode mudar. - Afirmei. 

- Para! - Gritou acertando o punho fechado na parede bem próximo ao meu rosto e fechei os olhos. - Vá para o seu maldito quarto e não saia de lá. - Mandou e passei rapidamente por baixo do seu braço correndo para fora da sala. Nunca era tarde demais para mudar, mas certas mudanças podem ser mais difíceis do que eu imaginava. 

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Mais um, espero que gostem, votem e comentem. Beijinhos :)

The Other Side. H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora