Alvejados

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Felicity's Pov

Abri a porta, larguei a mochila no chão, fechei os olhos, escancarei os braços e gritei:

― FAMÍLIA, CHEGUEI!!!!!!!

Devo ter ficado naquela pose durante uns bons dois minutos e quando notei que ninguém estava em casa - única explicação para tamanho silêncio e falta de ação -, abri um olho, começando a escanear todo o apartamento. E em questões de segundos, enxerguei Curtis sentado no sofá, lendo um livro.

Clareei a garganta e tentei novamente com mais entonação e entusiasmo:

― FAMÍLIA, CHEGUEEEEEEEI! ― Abri os braços, esperando Curtis vir correndo em minha direção, falando que quase morreu de saudades da minha digníssima pessoa. Mas tudo que ele fez foi abaixar o livro e me olhar com a sua melhor cara de merda.

― Tá bom, Felicity, já ouvi. Agora tem como abaixar a voz? Tô tentando ler!

Senti o meu rosto esquentar, custando à acreditar no que eu havia acabado de ouvir. Curtis Holt havia perdido a noção do perigo?

― SEU VIADO MAL COMIDO! ― Gritei irada, pegando a minha mochila do chão e mirando nele. Era desconcertante sua total falta de interesse pela a amiga que havia retornado de viagem.

Esperava por muito mais. Quem sabe uma festinha de boas vindas? Fogos de artifício? Um tapinha na costas por ter sobrevivido uma viagem - uma não, duas - com o sádico? Aquela não era a realidade que eu esperava. Definitivamente não.

― Pelo seu tom e desespero, a única que pareceu mal comida aqui, é você. ― Acusou, analisando-me de cima à baixo, enquanto curvava os lábios num sorriso zombeteiro.

Aquilo me fez lembrar Oliver. E involuntariamente, estremeci. Curtis não fazia ideia do quão verdadeira era a sua frase.

Suspirei, jogando a mochila novamente no chão.

― Cadê os Barry's? ― Perguntei, vasculhando mais uma vez o apartamento com o olhar. Quem sabe eles não tivessem passado desapercebidos por mim? Não custava sonhar, né?!

Curtis fechou o seu livro, colocando-o sobre o seu colo.

― Até onde eu sei, foram dar uma caminhada matinal. ― Informou com um ar desinteressado e eu franzi o cenho, estranhando aquela informação. Desde quando aquele cão fazia alguma caminhada? Pior, uma caminhada matinal? Barry-cão chegava a ser tão ou mais sedentário do que eu. Por isso, era espantoso saber que Barry-Jack havia conseguido aquela proeza de o levar para "caminhar". Comprovadamente, eu tinha um traidor vivendo sob o meu teto.

― Esse cão é um traidor. ― Dei voz aos meus pensamentos e Curtis anuiu, concordando.

― Definitivamente.

Estreitei os olhos. Curtis ainda não havia me perguntado como foi minha viagem com meu chefinho, portanto, teria que me aproveitar logo para vazar dali.

Não estava disposta a compartilhar a minha grave...descoberta com ele. Ou com ninguém. Ninguém mesmo.

Digerir para mim mesma tinha sido suficientemente difícil. Falar em voz alta aquela minha...descoberta, iria me traumatizar pelo o resto da vida.

Ninguém precisava saber daquela minha humilhação. Ninguém. Porém, contrariando todos os meus instintos de autopreservação, me vi puxando assunto com aquele ingrato.

― Que livro é esse?

Pela a distância que eu estava, não conseguia enxergar o título. Com uma calma incomum, Curtis levantou o livro para que eu pudesse ler o seu título.

100 Dias com Oliver QueenOnde histórias criam vida. Descubra agora