II

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  Acordo no meio da noite com muito frio, pelo visto esqueci de ligar o aquecedor, levanto e me sobressalto com o contato dos meus pés com o chão gelado. Vou até o interruptor na parede e ligo a luz, levei um susto com o que vi: o menino do sonho da noite anterior estava parado na minha janela.

- O que você está fazendo aqui? - é a única coisa que eu consigo pensar em dizer. Hoje ele está diferente, é como se uma luz estranha o cercasse, seus olhos azul esverdeados estão com um brilho diferenciado e seu rosto parece que foi milimetricamente desenhado e esculpido, isso só pode ser um sonho.

- Vim te fazer companhia, Carlos - diz esse ser com um sorrisinho no rosto.

- Além de suicida, to ficando louco - digo sacudindo minha cabeça.

- Você não está louco, tampouco está sonhando, você só é especial o bastante para poder me enxergar- ele diz com a maior naturalidade possível.

- Então quer dizer que só eu posso te ver? E você ainda diz que não estou louco? Cara, eu acho que todos aqueles remédios me chaparam - digo, tentando entender essa alucinação bizarra.

- Quantas vezes vou ter que dizer que sou real? - ele me pergunta um pouco alterado.

- Olha, é difícil acreditar, sendo que só eu posso te ver, como você pode me provar que é real?- desafio-o.

  Ele vai se aproximando de mim a passos lentos, para na minha frente com o rosto bem próximo ao meu, pega na minha mão e me dá um daqueles beliscões bem fortes e eu dou um grito. Ele começa a rir sem parar e acabo rindo também. O barulho de nossas risadas se torna alto e eu escuto passos no corredor, até a porta ser aberta por minha mãe.

- Querido, você está bem? - pergunta minha mãe em relação às risadas.

- Estou sim, só lembrando de algumas coisas engraçadas - minto.

- Tudo bem, boa noite - ela diz e me dá um beijo na testa, logo em seguida sai do quarto.

- Eu disse, só você pode me ver - Thales fala do nada.

- Tudo bem, você tem razão - decido não contrariá-lo, certamente amanhã ele não me perturbará mais.

- Aliás, queria te fazer uma pergunta. Porquê só eu posso vê-lo?

- Digamos que eu queira que você me veja, respondido? - ele responde desinteressado.

- Não, por que eu?

- Não sei, você parece ser alguém especial, vejo isso em você.

- O que posso ter de especial? sou só mais um adolescente deprimido que perdeu o melhor amigo e não é forte o suficiente para superar isso.

- Não fale assim, há muito mais em você, acredite, sei das coisas - ele diz de uma forma esperançosa.

- Não vou discutir com um ser imaginário que a minha mente criou para fazer companhia - digo tentando deixá-lo irritado.

- É isso que pensa que sou?

- Talvez.

- Talvez você esteja enganado, eu ainda vou provar que existo e que não sou fruto da sua imaginação.

- Se você está falando quem sou eu pra duvidar?

- Ha!Ha!Ha!, você é muito engraçado sabia?

- Não, você está rindo por nada e é a primeira e única pessoa a falar isso.

- Sei lá, eu te acho engraçado.

- Eu sou é louco por estar falando com você.

- Talvez Ha!Ha!Ha!

  Começo a reparar um pouco na fisionomia dele, ele aparenta ser bem forte, tem cerca de 1,85, olhos claros, cabelos pretos e um sorriso perfeito, ele é o tipo de homem que faz as meninas suspirarem e alguns rapazes terem inveja, o sorriso dele é algo contagiante, e mesmo sendo irritante, não consigo ficar bravo com ele, ele seria o amigo perfeito se não fosse um delírio causado pelos meus remédios.

- Acho que vou deixar você dormir, prometo que não vou puxar seu pé - ele diz e logo em seguida desaparece.

  Acho que finalmente me livrei dele, quando o efeito do remédio passar amanhã de manhã nunca mais o verei, e talvez voltarei a minha solitária rotina...

Acredito em Você (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora