Acredito em Você (Romance Gay)

XIX

 E naquele momento, depois de tudo que aconteceu, depois de tudo que passamos juntos, eu não o via mais como apenas um ser em minha mente, no fundo eu sempre soube que ele existia, mesmo que só pra mim. Todas aquelas conversas, nossos momentos de descontração, toda a alegria que ele me permitia sentir era tão grande e arrebatadora que eu soube que não poderia mais viver sem ele, aliás, nunca pude viver sem Thales desde o momento em que eu o conheci. E então eu disse:

- Eu acredito em você

 Parece estranho eu ter dito isso naquele momento, mas não há nada que demonstre melhor o meu amor por ele do que essa frase. Ele sempre me perguntou se eu acreditava nele e nesse momento eu sabia que ele não existia, mas isso não me impedia de acreditar nele. Então ele sorriu. O sorriso mais sincero e alegre que eu já vi em toda minha vida, e como eu amava aquele sorriso e ainda mais o dono dele.

- Eu sempre soube

 Foram as palavras que ele disse, que provaram minha teoria de que ele sempre teve esperanças em mim, mesmo quando nem mesmo eu tive. Ele não precisava dizer que me amava, naquele momentos as palavras eram as que menos importavam, porque eu sabia o quão eu era especial e amado por ele.

 O sol estava nascendo. Eu não tinha me dado conta do quanto o tempo passou rápido, não digo só nesse momento, mas desde que eu conheci Thales. Parece que minha vida entrou em um turbilhão de emoções, acontecimentos e ela finalmente seguiu para frente. Não sabia o que seria de nós daqui pra frente. Eu era um fugitivo louco de uma clínica psiquiátrica e ele um ser que não existia, pelo menos para as outras pessoas.

 Eu só sabia que seria complicada minha vida daqui em diante, mas tendo Thales ao meu lado, eu tinha tudo. Não me impressionei quando vi que os guardas nos alcançaram novamente. Todo final feliz exige obstáculos ao longo do caminho, e os nossos ainda não acabaram.

 Thales sai em disparada mar a dentro, agora está mais difícil despistar os guardas pelo dia estar claro e também por estarmos em mar aberto. Thales está muito rápido. É como se estivéssemos voando sobre as águas.

 Os guardas se aproximam cada vez mais e a gente se vê encurralados, indo em direção a um paredão de pedras. Thales não diminui a velocidade da lancha, o que me deixa preocupado por estarmos de frente para aquele paredão.

- Eu não consigo parar!

-O que? Como assim?

- O freio não está funcionando Carlos

- Meu Deus!

 Parece que o mundo não conspira a nosso favor não é mesmo? Essa deve ser uma daquelas histórias onde os mocinhos não tem o final feliz esperado. A cada momento em que estou aqui pensando nisso, lembro daqueles pesadelos que eu tive, e da contagem regressiva que a morte fazia e que tornava tudo aquilo muito mais assustador e real. A única diferença é que isso não é um sonho e a morte dessa vez está se fazendo mais presente do que nunca. Thales está desesperado ao volante tentando de qualquer maneira nos salvar, mas eu sei o que esperar desse momento.

 Lembro do último livro de Harry Potter nesse momento, quando um dos irmãos das relíquias da morte aceita a morte como uma velha amiga, é isso que pretendo fazer. Desde a morte de Marcos eu sempre soube que quando a morte chegasse para mim, eu não fugiria dela, eu a aceitaria como ninguém jamais aceitou.

- Eu te amo Carlos!

 Thales fala isso, dando uma chance a si mesmo de dar adeus, e de aceitar a morte assim como eu. Ele percebeu que lutar contra ela é uma luta em vão e que o melhor era estar comigo nesse momento. Porque assim como eu, ele não escolheria nenhuma outra pessoa para passar seus últimos momentos.

-Eu te amo Thales!

 Nesse momento essas palavras tão marcantes se fizeram presentes de uma forma tão definitiva quanto a morte. Assim que a lancha se aproximava mais e mais das rochas, Thales sorria mais e mais para mim, como se ele soubesse que o que fosse que acontecesse daqui pra frente, nós estaríamos juntos para sempre.

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