XIII

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 Depois de intermináveis horas da aula de física, finalmente é intervalo, meu cérebro não estava acostumado a trabalhar tão cedo. Eu e Anna viemos a cantina com o Léo, que também estuda aqui, eles que tiveram a ideia de criar o grupo de leitores de fanfic. Léo está no segundo ano, na turma SC3. 

 A escola é enorme, tem cerca de 100 salas de aula e cerca de 2.000 alunos em cada turno, além de ter um ginásio esportivo e um anfiteatro. Aquele gordo bigodudo que falou com meus pais é o diretor da escola, o nome dele é: Valmir Pentacross. Ele tem fama de desviar merenda da cantina, não sei se acredito nisso. Acabei sabendo de tudo isso por Anna e Léo, que sempre estão por dentro de tudo que acontece na escola, eles falaram pra mim que esse é o mundinho deles.

- Cara no que você tanto pensa? - me pergunta Léo de supetão 

-Nem eu mesmo sei 

- você é estranho, gosto de você

 Depois que bate o sinal que encerra o recreio as aulas passam rápido, os últimos períodos do dia são um de Filosofia e um de Literatura, duas das minhas matérias favoritas. 

- Hey Carlinhos, vou sair com o Léo, quer ir com a gente?

- Acho que hoje não, preciso encontrar alguém, mas amanhã quem sabe?

- Tudo bem, aposto que tem menina envolvida nisso. Tchau chuchu

- Tchau Anninha

...

 Chegando em casa encontro um bilhete da minha mãe: 

''filho, sai para resolver alguns problemas, volto para o jantar''

 Parece que as coisas finalmente estão se acertando, eu esperava que Thales aparecesse essa tarde, mas ele não apareceu, então decido dormir.

...

- Thales? - pergunto a mim mesmo abrindo os olhos e percebendo que ele está sentado na minha poltrona

-shh, não fale nada - ele tornou sua feição preocupada - tem alguma coisa acontecendo lá embaixo.

- O que? Como assim?

- Não sei, mas algo muito ruim vai acontecer.

-Como você sabe disso?

- Não importa, mas preste atenção em mim Carlos. Eu gosto muito de você, talvez até ame e preciso que tenha fé em mim, eu preciso que acredite, preciso que você apenas acredite por mais impossível e irracional que seja tudo isso. Eu sempre estarei com você, não importa se você me enxergar ou não, talvez você esteja mesmo louco e eu seja apenas um fantasma da sua mente, mas agora tudo que eu preciso é que você acredite.

-Thales o que ta acontecendo?

- Você já vai saber -eu não estava entendendo nada e Thales parecia estar completamente transtornado caminhando de um lado para o outro - E uma última coisa

 Thales me encarou de uma forma fixa como se estivesse gravando cada detalhe do meu rosto e então grudou seus lábios aos meus, como se fosse a primeira e a última vez. Antes que eu pudesse reagir Thales some ao som de um adeus sussurrado ao pé do meu ouvido, enquanto a porta do meu quarto se escancara e mostra meu pai, minha mãe e o homem que eu havia visto na confeitaria ontem.

- Precisamos conversar filho- meu pai fala em um tom nada simpático 

- Carlos, você não está bem meu filho - minha mãe fala quase chorando - eu pensei que você havia melhorado, que estava voltando ao normal, mas vejo que eu estava enganada. Eu sinto muito meu filho, por não ter percebido antes, mas agora eu vou cuidar de você.

- O que? Do que a senhora está falando?

- Carlos você não precisa negar, nós sabemos de tudo. Esse homem e praticamente todos os clientes e funcionários daquela confeitaria viram você falar sozinho, rir do nada, fazer gestos para o ar e até afastar a cadeira sendo que você estava sozinho, Carlos aquelas pessoas viram até você pedir dois lanches e sair sem pagar. Meu amor você está doente, precisa se cuidar.

 Naquele momento meu mundo caiu, eu não sabia como reagir, todas minhas defesas se foram. Era como se em determinado momento tudo estivesse dando certo e de repente vem uma avalanche gigantesca e acaba com tudo. Era exatamente como eu me sentia, soterrado por essa avalanche de mal entendidos e loucuras reais ou não.

-O que?

 Minha voz não conseguia formar frases mais complexas, e eu tentava a todo custo sair daquela situação. Eu sabia que eles estavam tentando ajudar, sabia que eu não estava bem, sabia que essa historia não fazia sentido mesmo que eu quisesse que ela fizesse, e então foi ai que eu entendi que eu realmente estava louco.

 E não, eu não queria ficar bem ou melhorar, eu queria continuar do mesmo jeito, sem saber o que é verdade e o que só faz parte da minha mente. Eu estava completamente louco. Louco da cabeça. E louco de amor por ele.

- Nós ligamos para uma clínica psiquiátrica e eles já estão ai embaixo esperando por você - meu pai fala, com um desolamento perfeitamente compreensível.

- O que? Não! Não! Não! Eu não sou louco. Eu não posso ir pra lá.

- Meu amor, isso é para o seu bem.

- EU NÃO QUERO FICAR BEM!

 Eu precisava fugir dali o mais rápido possível, e foi o que eu tentei fazer, eu corri, corri o mais rápido que eu pude, desci as escadas e dei de cara com os funcionários da clínica. Eles me agarraram pelos braços e pernas, eu esperneei, gritei, implorei, chutei, chorei, mas eu vi que meus pais não iriam fazer nada, eles não podiam porque ninguém deixa um filho doente. E ninguém quer ter um filho louco...

Acredito em Você (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora