XIV

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''tic tac'' ''tic tac''

 Meus olhos vão se abrindo devagar enquanto eu escuto o fúnebre som desse relógio. O quarto que eu estou tem um tom creme nas paredes, alguns armários ao lado da porta e uma janela com grades de aço. A noite passada aparece como uma vaga lembrança em minha memórias, e nas correntes que prendem meu corpo a essa cama. Espero que alguém me solte, é meio tedioso ficar aqui parado sem fazer nada. Acho que me doparam ontem a noite, minha cabeça está martelando e eu estou meio tonto.

 Agora estou lembrando do que aquele senhor disse para mim quando eu estava na confeitaria, ele disse:'' Sua mente é como o maior dos universos, ela está cheia de verdade, ilusão e sentimentos, assim como você pode estar errado, eles também podem''. Ainda não entendi o que ele quis dizer com isso, mas certamente tem algo a ver com o que aconteceu. Eu simplesmente não consigo acreditar que eu fui tão burro e que tudo que eu havia feito ontem teria resultado nessa ''prisão''. É assim que eu me sinto, preso nesse lugar e sem poder fazer nada para mudar isso.

 O pior de tudo é saber que estava indo tudo tão bem, as coisas finalmente estavam caminhando para algo bom, era como se eu finalmente pudesse ser feliz. E do nada tudo que eu achava que estava indo bem, desmorona em cima de mim e aqui estou eu esmagado por todos esses problemas, erros, desentendimentos, acidentes, falhas e sentimentos, esperando que algo aconteça mesmo que eu saiba que ficarei aqui por um bom tempo.

 Minha cabeça está lotada de pensamentos e de teorias do que pode acontecer daqui pra frente, mas mesmo com tudo isso, o que mais me preocupa é ele, ou melhor, a falta dele. Como eu imaginava ele não apareceu, e provavelmente nem vai. Acho que o efeito dos remédios bloqueia a aparição dele. É como se ele já soubesse que isso fosse acontecer.

 Depois de um tempo entra uma enfermeira no quarto, no seu crachá diz: Elizabeth Ramos. Ela me encara como se estivesse me examinando e provavelmente está, então decido só ficar em silêncio enquanto ela anota varias coisas em sua prancheta.

- Carlos, tudo bem?

- Claro que está tudo bem, eu estou super feliz por estar aqui e ainda mais por estar amarrado a está cama 

-Hum... Sarcasmo não vai te ajudar aqui dentro. Você é só mais um dos louquinhos desse lugar, então ponha-se no seu lugar.

-Que? 

- Chega de brincadeiras e de conversa fiada, daqui alguns minutos você será levado ao consultório do d.r Maurício

-Ok  

 Aquela enfermeira certamente será um problema pra mim, eu simplesmente não entendia o porquê dela ser tão rude comigo e confesso que doeu um pouco ser chamado de louco. Depois de alguns minutos, como ela havia dito, dois enfermeiros me desacorrentam e me acompanham até a sala desse tal d.r Maurício. Quando  entro na sala, ele acena para eu sentar na cadeira em frente a sua mesa e para os enfermeiros saírem.

-Carlos Levtski então... - ele começa a falar folheando o que eu acho ser minha ficha médica - seu pai e sua mãe estavam bem preocupados com você, eles ouviram relatos de que você esteja ouvindo e vendo coisas que não existem, pelo menos não para nós. Meu filho, quero que você entenda que a partir de agora você poderá me contar tudo que está acontecendo com você, tudo bem?

- Não há nada acontecendo comigo, isso é tudo mentira, eu não estou ouvindo ou vendo nada. Eu não estou louco, vocês é que estão.

- Carlos eu entendo que para você não há nada de errado, mas assim não tem como eu te ajudar, você só vai tornar as coisas mais difíceis para si mesmo.

- Eu não quero ficar aqui, por favor, diga aos meus pais que eu estou bem, que eu não estou louco, por favor, vocês precisam acreditar em mim!

- Eu acredito em você, acredito no que diz, só que há provas que eu quero te mostrar, para que você mesmo entenda o que está acontecendo

Acredito em Você (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora