Depois da briga que tive com o Rafael eu me joguei na cama e me obriguei a dormir. Infelizmente sonhei com a briga que tive com o Rafael. Quando acordei por causa do barulho do que parecia ser um liquidificador, o amaldiçoei por ter entrado na minha vida e em meus sonhos.
Despluguei meu celular do carregador e guardei o carregador na minha mala. Liguei o celular e percebi que eram seis horas da manhã. Parece que nem aqui posso dormir até tarde. Levantei irritada e separei minha escova de dente. Sai do quarto e entrei no banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto. Depois de tudo feito sai do banheiro e andei em direção a cozinha.
Para minha tristeza, o causador de todo barulho era Rafael. Ele estava de costas para mim e de frente para a bancada da cozinha. Pelo o que vestia parecia que iria correr. Como não queria ter dor de cabeça já pela manhã, dei meia volta para voltar para o quarto e esperar ele sair para poder tomar meu café da manhã em paz.
Ao passar pela sala percebi um quadrinho com a senha do wi-fi. Como não percebi isso ontem? Voltei para o quarto troquei de roupa e peguei meu celular. Percebi que Kátrina estava online no Whatsapp e resolvi chama lá para conversar. Enquanto conversávamos contei da briga que tive com Rafael e do meu sonho. Ela riu da situação e disse que queria ter estado aqui para ver. Depois de um bom tempo de conversa constatei que a área já estava limpa para que eu pudesse tomar café e me despedi de minha amiga.
Entrei devagar na cozinha e encontrei minha vó passando café. Estava tão serena e tranquila que não quis a interromper. Encostei no batente e fiquei observando ela. Acabei assustando ela quando ela virou e deu de cara comigo. Foi impossível não rir.
— Que isso menina! Resolveu assustar sua avó logo pela manhã? — disse colocando a mão no coração.
— Desculpa vó. É que vi a senhora passando café e não quis interromper.
— Você nunca interrompe filha. Quer café? Ta fresquinho.
— Quero sim, obrigada.
Ela colocou café em uma caneca e depois de me entregar, sentou comigo para tomar café. Comemos torradas com geleia e ficamos conversando.
***
Tia Inês e seu marido chegaram em casa antes do almoço. E quando ela me viu me abraçou tanto que chegou a me sufocar. Sério. Ela chegou á me deixar vermelha. Mas de todo modo foi bom. Estava com saudades de Titia.
Depois que ela tomou um banho nos ajudou a terminar de preparar o almoço. Almoçamos todos juntos, incluindo o Rafael, infelizmente.
A tarde por insistência de vovó e tia Inês, ficamos vendo minhas fotos de infância. E se me é permitido dizer, aquelo ali não era de Deus não. Em cada foto eu estava fazendo careta ou uma cara de extremo nojo. Eu devia ter algum tipo de demência na infância. Em outras fotos eu estava junto com meu primo Henrique. São pouquíssimas em que estou sozinha e sorrindo. Porquê outra vez eu estava fazendo alguma cara estranha. Sério, qual era o meu problema? Mas, nossa, é tanta foto que o prêmio de família coruja vai para a minha com toda certeza.
Vovó a cada instante aparecia com um álbum de foto à mais. Nas fotos eu aparentava ter por volta dos nove anos. E minhas feições faciais estavam mais normais. Esse álbum tinha mais fotos com meus pais.
E... Caramba! Ela trouxe outro álbum. Mas, nesse, tinha uma foto em particular. Uma foto minha ao lado de Rafael. Estávamos um pouco afastados um do outro. Pelo nosso sorriso forçado dava para perceber a relutância em estarmos perto um do outro. Eu não me lembro de ter conhecido ele. E que meu cabelo estava curtíssimo!
E é só falar ( ou ver ) da peste que ele aparece.
Rafael apareceu para infernizar minha vida. E se já não bastasse tomou o controle da minha mão e trocou o canal da TV. Ficou gozando comigo ao ver minhas fotos de criança. Tentei recolher tudo e guarda, mas vovó ficou exibindo minha fotos para ele. E tinha foto pelada minha ali! Lógico que eu tinha de zero à três anos nas fotos em que estou nua. Mas mesmo assim não deixava de ser constrangedor.
— Você tinha alguma paralisia facial por acaso? — Falou enquanto ria. — Parece um porco em todas as fotos. Haha ha. — Ele ria como se fosse engraçado.
— Você não tem direito de ver minhas fotos. — Arranquei as fotos que estavam nas mãos dele.
— Deixa de ser mal educada menina. Deixa o rapaz ver ele não está fazendo nada de mais.
Fechei a cara e cruzei os braços. Encarando Rafael vendo as fotos. Claro que ele tinha mais o que fazer do que ficar vendo minhas fotos, mas aposto que ele só está fazendo isso por pura diversão. Para me irritar e rir as minhas custas. Mas ficou sério derepente.
— O que eu estou fazendo nessa foto.. Com ela? — Ele apontou para mim e ergueu a fotografia, para vovó e titia. — Não me lembro de ter conhecido ela.
— Ah, você não conhecia. Foi quando eu e seu pai nos casamos. Minha irmã, Clarissa, veio para o casamento e trouxe Olivia e o Marido junto. — Explicou. — Na verdade, pelo que me lembro vocês brigaram por uma semana inteira. Não paravam um do lado do outro um segundo sequer. Foi um milagre mamãe ter feito vocês pararem um do lado do outro para essa foto e ainda sorrirem.
— Foi porque eu disse que se não me deixassem tirar a foto os colocaria de castigo. Tentei até tirar mais, mas eles correram logo que bati a foto.
— Então era você! — Disse num rompante como se algo estalasse em sua mente. — Eu fiquei anos sem vir para casa do meu pai nas férias por sua culpa.
— Minha culpa? — eu falei ofendida. — Qual o seu problema garoto?!? Eu mal cheguei e você quer ficar me acusando. Você devia ser tão insuportável que nem seu pai lhe quis por perto.
— Não acredito que depois de anos vocês vão voltar com essa birra. — Titia disse.
— Ah, vai dizer que não lembra? — Fiz uma cara de , Do que você está falando. — Você quebrou toda uma coleção de carrinhos que eu tinha. Toda vez que ficava em um comodo comigo dizia que eu havia lhe beliscado ou algo do tipo.
Eu ia rebater que tudo que ele dizia era um completo absurdo e que ele não tinha o direito de ficar me acusando. Que ele, talvez tenha quebrado sozinho e quis por a culpa em mim. E que algo ele fazia para que eu disse se tal coisas. ( Eu não o conhecia bem, mas ele não me parece que era um grande santo quando mais novo.) Mas ai eu me lembrei do que ele estava falando. Me lembrei perfeitamente do que ele estava falando.
— Você! — Apontei para ele com a cara ficando vermelha de raiva. Ou talvez até roxa. — Você cortou o meu cabelo! Foi por isso que eu quebrei a droga dos seus carrinhos seu idiota. Não acredito que eu fui educada com você ontem.
— Você mereceu ter o cabelo cortado.
— Você mereceu ter ficado anos sem passar as férias com seu pai.
— Você sempre tão mimada. Queria que eu lhe desse os meus brinquedos e como eu não atendia aos seus pedidos inventada que eu lhe batia.
— Eu não era e nem sou mimada. Seu..
— Nem termine essa frase mocinha. — Vovó disse. — Já chega dessa briga. Vocês não são mais crianças e isso tudo é coisa do passado.
— Vó mais foi ele que cortou meu cabelo. A senhora sabe como eu amo meu cabelo! — Disse. Ok. Talvez agora eu esteja sendo mimada.
— Sua reação é clássica de uma menininha mimada. — Rafael disse me provocando. Vovó e tia olharam feio para ele. — Não 'ta' mais aqui quem falou. Tô saindo. Vou voltar tarde.
Se levantou e saiu porta a fora. Uma noite de paz. É tudo que eu peço.
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Eu, você e o cão que nos seguiu.
Genç KurguDepois de tanta relutância Olivia aceita ir passar um tempo na casa da sua avó materna. Porém ao chegar conhece Rafael, o enteado de sua tia Inês. O que ela não esperava era que teria que passar todo o tempo no Brasil dividindo o mesmo teto que Rafa...