Capítulo 6

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Sabia que estava brincando com fogo, desde o primeiro momento em que permitiu que suas íris esverdeadas se mantivessem atentas por tempo demais sobre o rapaz. Não deveria ter sido irresponsável a tal nível de cair nas armadilhas de sua própria carne sedenta. Agora as células vociferavam com aquela vontade imoral que emergia quente e ludibriante, uma sensação tão devoradora e dominante que soube assim que o primeiro calafrio lhe acometeu: havia voltado.

Contudo não queria admitir que o desejo era puramente físico, White gostou da teoria instantânea que criou, acreditando que realmente poderia ajudar Young em sua libertação. A mente do rapaz tão confusa, necessitando de alguém para guiá-lo e, ainda que se julgasse forte o suficiente, Vincent via em suas feições alguém prestes à ruir.

Esfregou a palma abrasada pela nuca, desconfortável com a súbita excitação e pensamentos por ela proporcionados. Não poderia fazer nada ao jovem arisco, a menos que ele quisesse ser... domado.

- Travis – Chamou em um tom de voz suave. O rapaz direcionou seu olhar ao homem, saindo do transe de suas próprias reflexões; no entanto, Vincent não manteve o contato visual, perpassou os olhos sobre o corpo do outro, sem qualquer receio de parecer inconveniente, um agrado à sua imaginação. As tatuagens contrastavam na pele clara destacando-se também graças ao tecido escuro da camiseta, talvez houvessem mais escondidas pela peça. – Quer testar uma coisa? – Propôs. 

Por mais que ainda fosse jovem, a inocência a muito havia lhe deixado. Young não sabia do que a proposta de White se tratava, mas via em seus orbes segundas intenções e, mais uma vez, sentiu-se intrigado. O que havia causado esse efeito? Por que, então, de uma hora para a outra, parecia tão visivelmente alterado? Ainda que não houvesse qualquer pista em sua expressão séria, a ansiedade emitida pelo homem era quase palpável.

- Testar? – Indagou juntando as sobrancelhas e sorrindo minimamente.

- É uma espécie de jogo. – Explicou, agora mantendo os olhos flamejantes em Young, enquanto passava o indicador ao redor da borda do copo de vidro.

- E qual é o objetivo? – Quis saber.

- Sentir. – Sorriu pela primeira vez abertamente, de um jeito que Young considerou perigoso.

- Não me parece muito seguro. – Riu, desconfiado.

- Vai ter que confiar em mim.

A sala para qual foi conduzido apresentava uma iluminação mais baixa, não era muito amplo e os móveis escuros contribuíam com a sensação de um ambiente mais fechado e sombrio. Young prestava atenção em como Vincent se portava, parecendo observar tudo em seus mais ínfimos detalhes, como se estivesse se preparando para um ritual.

O homem caminhou até uma pequena mesa encostada na parede, em cima de sua superfície uma vela branca que foi acesa sem grandes cerimônias. Não demorou para que o aroma tomasse conta de todo o espaço, atingindo Young e suas percepções pessoais. Em sua essência havia um toque que remetia o rapaz à ideia que tinha de "passado", cheiro de móveis antigos, tecidos, alfombra, ainda que, também fosse sentido elementos mais pesados, algumas notas mais picantes, ardentes. Era agradável ainda que causasse, em seu âmago, um efeito um tanto desconcertante.

- Quero que se sente. – Pediu, correndo o olhar sobre o sofá vermelho ao centro. Travis não questionou, somente atendeu acomodando-se no local sugerido, então o homem aproximou-se devagar, como se saboreasse cada centímetro de distância que se encurtava entre ele o menor. – Tente controlar a respiração.

Os olhos verdes percebiam o peito de Travis subir e descer de forma tranquila e assim, conforme se aproximava, deixava sua própria respiração em sincronia com o outro.

No Escuro || (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora