Capítulo 11

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Young sequer havia parado para pensar direito no que fazia quando simplesmente tocou a campainha da casa vizinha. O coração martelava contra o peito, a revolta fazia seus flúidos vitais entrarem em ebulição e os pés se agitarem sobre o capacho. Impaciente, aguardou poucos segundos e não notando a movimentação que esperava, levou o dedo indicador mais duas vezes ao botão, fazendo ressoar novamente o som típico. Rangeu os dentes. O pensamento do que White estaria fazendo junto de sua visita masculina o deixava insano; apertou os dedos e com o punho cerrado, bateu fortemente contra a porta, descontando toda a energia acumulada.

Então passou a ouvir alguns passos vindo do interior da casa; com uma das mãos apoiadas sobre o batente, esperou que lhe atendesse. A maçaneta girou de uma só vez revelando o homem sem camisa que foi medido de cima à baixo com certa censura pelas íris carameladas. O silêncio imperou enquanto ambos se encaravam por um momento até que Vincent enfim se pronunciasse.

- Então era você que estava esmurrando a minha porta. – Concluiu, recuperando-se da súbita surpresa.

As pálpebras de Travis se semicerraram pouco contente pela forma como White se apresentava tão à vontade sem a peça superior de sua roupa.

- Quero que o mande embora.

A sobrancelha esquerda de White arqueou-se e os lábios se entreabriram ainda que minimamente com a ousadia do rapaz. Já havia tido um vislumbre de sua personalidade impulsiva, mas não pôde evitar surpreender-se com sua atitude naquele momento.

- Como é que é? – Indagou descrente do que havia acabado de ouvir.

- Quero que o mande embora – Repetiu de uma maneira ainda mais autoritária e aproximou-se encostando no batente. – Será que pode fazer isso ou eu mesmo vou ter que arrancá-lo daí?

Os orbes encontraram-se faiscantes. Young nada sabia sobre limites, tampouco tinha controle sobre as próprias atitudes e palavras que cuspia sem filtro e comedimento. O homem levou os dedos à boca, perpassando-os pelos lábios, pensativo. Disciplina era o que faltava ao rapaz e com urgência; Vincent sentia uma irritação aprazível agitar-se em seu âmago.

- Certo... – Respondeu reticente, notando as feições de Travis se suavizarem dando lugar à estupefação. O comportamento típico esperado pelo jovem era uma certa resistência por parte do homem, justamente por conta de sua personalidade.

White lentamente virou-se, quebrando o contato visual só quando foi impossível mantê-lo e, no rosto, a mesma expressão de descontentamento. Então passou a caminhar à passos largos para dentro da casa, sumindo logo em seguida em seu interior. Travis enfim lembrou-se de respirar, fazendo o peito subir e descer algumas vezes antes de ouvir o homem aproximando-se, desta vez, acompanhado. Uma das mãos de Vincent estava sob o ombro do outro, este que possuía as feições marcadas pela frustração quase palpável que exalava enquanto era conduzido até a saída. Young sorriu com o canto da boca, ultrajante; assim que os orbes da visita recaíram sobre si, o rosto adquiriu um tom avermelhado ante a provocação.

O jovem caminhou em direção ao exterior encarando Travis como se o incentivasse à iniciar uma briga. Mas Young não tinha motivos para cair em seu jogo barato, havia conseguido o que queria, então assim que o outro estava ao seu lado, esticou um de seus pés sorrateiramente fazendo-o tropeçar.

- Deveria olhar por onde anda. – Aconselhou sarcástico.

E foi quando White percebeu que, logo após endireitar-se, o rapaz revidaria, que resolveu pronunciar-se:

- Young, entre. Agora. – Ordenou e o menor sentiu-se tentado a contestá-lo, mas somente dirigiu-se para dentro.

Era possível ouvir da sala principal, as vozes de ambos no jardim. Travis sorriu divertindo-se com a situação, mas concentrou-se em parecer sério quando Vincent adentrou o cômodo. Ao ser acometido pela visão do homem, pela primeira vez em sua mente lhe veio a manchete do jornal local que lera mais cedo; então de repente foi impossível não analisá-lo por outro ângulo, pela mais perigosa das perspectivas. A postura de White o denunciava; seu controle e calma quase inumanos contrastavam com a tonalidade verde dos olhos que relampeavam seus ímpetos mais selvagens.

No Escuro || (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora