A porta foi aberta com pouca delicadeza e com a mesma intensidade fechou-se fazendo ressoar um baque pelo ambiente central da casa. O rosto de Travis se contorceu em uma expressão de dor, aflito por talvez ter acordado Diana e com as costas apoiadas sobre a porta ofegou algumas vezes, tentando se recompor do que havia experienciado com Vincent. Cerrou as pálpebras e a mandíbula ainda sentindo aquele cheiro que emanava do quarto onde estava minutos atrás, sentia suas roupas impregnadas com o perfume.
- Travis? – Ouviu o seu nome e estranhou a voz feminina tão vívida repercutir pela sala àquela hora, com isso logo deu alguns passos a fazendo entrar em seu campo de visão, constatando sua presença. Estava sentada no sofá, seu rosto corado denunciava sua melhora; Young sorriu instantaneamente aliviado em vê-la bem.
- Você está bem? – Quis saber.
- Estou – Respondeu com um simples sorriso. – E você?
- Também. – Notava-se uma expressão transtornada começar a aparecer no rosto delicado do rapaz – Fiquei preocupado, achei que...
- Eu sei, desculpe. – Interrompeu, abaixando o olhar.
Young sabia bem como Diana odiava ser motivo de seus sofrimentos, colocava-se em segundo plano se fosse preciso, só para não presenciar os demônios alvoroçados do amigo torturá-lo com preocupações ao seu respeito. Vê-la assim, fazia Travis desmoronar. Wood não tinha que fazer absolutamente nada por ele, pelo contrário, o rapaz sentia-se merecedor de cada dor aguda que despontava em seu peito e também sabia que tinha uma dívida insolúvel com a jovem.
- Não tem nada para desculpar, Diana. Eu... estou aliviado.
- Não quero mais remoer as coisas, Travis.
O rapaz engoliu em seco sem dar uma resposta de prontidão para a fala da amiga.
O problema de se sentir culpado é que não adianta o perdão daquele que se prejudicou – o que Travis tinha certeza de que nunca o teria – ou talvez o perdão de Deus, que dizem vir com o verdadeiro arrependimento e, se fosse o caso, Young já o havia conquistado. Esses talvez fossem os obstáculos mais simples. O maior e pior julgamento é o de si próprio, o rapaz sabia que nunca se seria capaz de perdoar-se, nunca se julgaria inocente, livre do que fez à Andy. Sabia que o sentimento que nutria a cada dia por Miller seria a ferramenta principal de sua tortura particular; o amor que o havia feito um monstro era o mesmo que o ajudaria a puní-lo, relembrando-o de hora em hora, minuto em minuto, de que não era correspondido, das cenas e falas falsas, das conversas, do tempo desperdiçado, dos seus toques, de como lhe chamava.
Diana não teria de remoer nada, Travis não queria isso de maneira alguma. Pegaria tudo para si, remoeria cada momento do passado pelos dois e assim, tentava ignorar o sentimento de que tudo o que mais queria era sentir nada.
- Fico feliz de que não queira.
- O que achou da festa? – Indagou mudando de assunto com um sorriso no canto da boca, maliciosa.
- Que lugar era aquele?
Ambos riram ao mesmo tempo
- Você gostou que eu sei. – Trocaram olhares – Vi você com a garota. – Contou como se fosse um segredo.
Travis sorriu sem jeito desviando as íris dos olhos inquisidores da jovem.
- Achei que... - Procurou as palavras voltando a curvar os lábios – Achei que tinha me perdido de você.
- Foi só por um momento, vi vocês de relance. Depois você não estava mais lá e...
- Vamos esquecer isso. – Interrompeu sentando-se no sofá ao lado da amiga.
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No Escuro || (Romance Gay)
RomanceDe repente, por mais que estivesse em frente a um espelho, fitando-se por minutos em silêncio, não se reconhecia. Nos traços faciais refletidos, não havia sequer um ínfimo resquício do temido líder dos Leviathans e, sim, uma trilha de ruína e devast...