Travis Young tinha alguém no mundo, apesar de tudo. O nome dela era Veridiana Wood, mas não havia um motivo certo pelo qual a jovem de lindos e longos cabelos acobreados tomara tal posto. Não cresceram juntos, não estudaram no mesmo colégio, não escolheram o mesmo curso na faculdade e tampouco compartilhavam da mesma visão sobre a sociedade
Eram diferentes nos mais complexos sentidos da palavra – talvez esse o motivo pelo qual haviam se aproximado tanto; era como se um sempre agregasse algo ao outro.
E ela o conhecia tão bem! Só olhar para a expressão em seu rosto era capaz de fazer uma análise minusciosa de como o amigo estava se sentindo, assim como seu provável motivo. Sabia com frequencia o que ele estava pensando, como iria reagir a determinados assuntos, o que queria fazer, suas tarefas, obrigações, promessas... Sabia quando estava mentindo, dizia a verdade mesmo quando era difícil e facilitava quando tinha plena consciência de que não deveria fazê-lo.
O fato é que por muito tempo foi essa amizade que o manteve são. Diana, como a chamava com carinho, era o tipo de pessoa que podia enxergar quem Travis era de verdade, por trás de todas as sujeiras que falavam à seu respeito. Ainda que o rapaz acreditasse que não havia nada de realmente bom a ser destacado em sua personalidade, ela tinha o dom de descobrir e manifestar suas qualidades.
Por Diana (e somente por ela) andava na linha. Não tinha coragem de decepcioná-la, mesmo que quase não pudesse controlar o desejo desconcertante de causar algum problema. E tinha certeza que a amiga podia ler claramente suas intenções escritas em letras garrafais em sua testa, porque ela se aproximava e lhe dava o mesmo velho conselho de sempre: "Verbalize na frente do espelho e pronto, a raiva passa!". O rapaz lhe respondia com um sorriso sabendo que, não, não passava. Que graça havia em ofender o próprio reflexo? Ainda assim, era obrigado a admitir que havia se valido da técnica infindáveis vezes como desabafo.
Principalmente quando Veridiana se mudou.
Foi como se o peso do mundo lhe recaísse sobre as costas e, pela primeira vez, lhe deu o devido valor. Sua presença clareava os caminhos pelos quais seguia, não permitindo jamais que se perdesse.
Sem ela ficava no escuro.
Breu.
De repente não existia mais ninguém com quem pudesse se preocupar ou quem se preocupasse com qualquer coisa relacionada a si. A única diferença era a estranha e incômoda liberdade que lhe acometera (já que não mais tinha a quem prestar contas ou decepcionar), o que lhe pareceu extremamente conveniente para a situação. Fez alguns amigos – obviamente todos tão mal afamados quanto si – e, assim, sobreviveu divertindo-se às custas dos outros.
*
"Do lado oposto ao estabelecimento Travis Young esperava em sua moto debaixo do poste sem luz. Estava entediado e começava a acreditar que Peter Moore estava demorando demais para cumprir aquela simples tarefa. Tragou uma última vez o cigarro que tinha entre os dedos e arremessou-o na calçada; então tirou o celular do bolso para conferir; duas e meia.
Quinze minutos para roubar a loja de conveniências do Joe era muito amadorismo. Desde que colocara os olhos no rapaz soube, não prestava para entrar na equipe; deveria ouvir mais seu sexto sentido ao invés de dar atenção às besteiras de Savage.
Era o líder, afinal!
A única coisa que faltava para ficar pior era se... Um sorriso largo estampou seu rosto assim que o som do alarme chegou ao seus ouvidos. Moore era uma piada, como um dia pôde cogitar se juntar aos Leviathans? Meneou a cabeça negativamente e colocou o capacete, arrancando com sua moto para longe dali.
VOCÊ ESTÁ LENDO
No Escuro || (Romance Gay)
RomanceDe repente, por mais que estivesse em frente a um espelho, fitando-se por minutos em silêncio, não se reconhecia. Nos traços faciais refletidos, não havia sequer um ínfimo resquício do temido líder dos Leviathans e, sim, uma trilha de ruína e devast...