O corpo todo vibrava com a energia que havia transpassado do homem para si. Uma espécie de força que agia comprimindo-o, trazendo consigo também um pouco de ansiedade, consternação e desasossego. Imaginava o motivo para todos aqueles sentimentos lhe acometerem com tanta fúria, bem quando estava sozinho, vendo-se parcamente refletido no vidro da janela.
A camisa amassada aberta, sem botões suficientes, contrastavam aos olhos claros, quase fazendo passarem despercebidas as marcas na pele alva, onde o escorpião tatuado residia. Levantou levemente o queixo, aproximando-se do vidro na tentativa de ver com maior clareza; o pescoço estava um caos em uma tonalidade vermelho-arroxeado que tomava boa parte do lado direito.
"Bata de novo... Por favor"
As pálpebras pressionaram-se fechando os olhos ao mesmo tempo em que as mãos cobriram a pele marcada. Imaginou se sumiriam como em uma realidade alternativa, quando se expusesse novamente para o reflexo. Será que era isso que queria? Que tudo não passasse apenas de um sonho? Uma alucinação?
Talvez fosse um aviso, porque, de repente, sabia que nada estava certo. Não era certo como se sentia em relação à Andy, assim como não era certo ter se aproximado de Vincent por não conseguir lidar com esse sentimento. Sofrimentos não eram certos, os sentia fundindo seus pensamentos, obrigando-o a se degradar mais e mais em busca de alívio. White não era certo e tampouco era Travis.
Mas apesar de tudo o que julgava estar errado, não era capaz, nem por um segundo, de acreditar no próprio discurso de sua mente repressora. O que nutria por Andy era tão certo quanto o que sentia por Diana, porque era puro; as consequências disso eram única e exclusivamente culpa sua. Sabia disso mais do que ninguém. O rapaz nunca antes havia lhe dado esperanças e no primeiro vislumbre de oportunidade, Travis o agarrou sem questionamentos. Procurar alívio não era um erro, não estava enganando ninguém sobre isso e tampouco lhe fora prometido qualquer coisa.
Curvou os lábios em um sorriso desaprovador para sua própria imagem, voltando a ver os hematomas assim que os descobriu. Apesar de não terem sumido, sentia, de alguma forma, alívio. Era como se pertencesse à algo, desta vez. A alguém, por mais ilusório ou ficticio que pudesse ser. Tamanha era sua insanidade que acreditava piamente ser White sua única saída. E por mais controversas que fossem as sensações agora, em seu íntimo, se sentia inteiro.
Digiriu-se à cozinha, onde abriu a geladeira e serviu-se do conteúdo alaranjado dentro da jarra de vidro. A boca estava seca, então bebeu o líquido todo de uma vez e suas feições contorceram-se em uma careta. O gosto era péssimo.
- Travis? Já acordado? – Ouviu a voz feminina atrás de si e virou-se. – Oh. – Aproximou-se assim que viu o estado do amigo. – Você está péssimo.
- É... – Respondeu reticente – Esse suco é do que?
- Manga, meu preferido. – Disse sem de fato se importar com o que lhe era questionado; analisava Young de cima a baixo. – Travis... Não me diga que não dormiu em casa. – Seus lábios estavam minimamente curvados.
- Então não vou dizer.
Diana semicerrou os olhos.
- Cínico.
Soltou um riso divertido, empurrando Travis levemente com o punho fechado. Se o amigo não queria comentar, não iria insistir – entendia que qualquer insinuação poderia lembrá-lo das coisas que mais precisava esquecer. Envolveu-o em um abraço forte sendo tomada por um súbito alívio e logo foi correspondida; sentiu que se o tempo parasse naquele momento, tudo estaria bem. Talvez se Young estivesse se encontrando com alguém, as feridas tão profundas que tinha se curassem.
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No Escuro || (Romance Gay)
RomanceDe repente, por mais que estivesse em frente a um espelho, fitando-se por minutos em silêncio, não se reconhecia. Nos traços faciais refletidos, não havia sequer um ínfimo resquício do temido líder dos Leviathans e, sim, uma trilha de ruína e devast...