Flashback 2 - Amelia

477 33 2
                                    

"Logo que Vincent caiu no sono no sofá, Amelia viu-se sozinha na enorme sala, fitando cada objeto deixado sobre o carpete escuro. Suspirou voltando sua atenção para o seu próprio corpo exausto, analisando os estragos que a sessão havia causado em sua pele clara; marcas tão veneradas pelo homem ao seu lado. Sorriu por um momento com o pensamento que lhe acometeu: a expressão deleitosa de White ao se demorar com o olhar em cada parte maculada de seu corpo.

Mas a realidade fora daquela casa era outra.

Fechou os olhos e franziu o cenho levando as mãos ao rosto enquanto o ar escapava por entre seus lábios. Não sabia como conciliar a vida que levava ao lado de Vincent com todo o resto. Não importava o quanto tentasse mudar as peças de lugar, elas não pareciam se encaixar de maneira alguma. 

Levantou-se cuidadosamente do lado de White para não acordá-lo; sentia dores específicas despontando de seu quadril e costelas, as quais ignorou junto com todas as outras bem menos dolentes. Então dirigiu-se ao quarto onde estava a mala que havia trazido mais cedo; sabia das intenções de Vincent e que provavelmente dormiria em sua casa. Ele era perfeccionista com seus jogos, não poupava tempo com cada detalhe que julgava essencial.

Antes de preocupar-se com qualquer outra coisa, retirou um pequeno espelho e uma pomada de um dos bolsos laterais. Assim como temia, as partes mais expostas de seu corpo estavam um caos, seus braços e pescoço com hematomas visíveis ainda com o cabelo solto. Puxou o oxigênio devagar pelas narinas fechando as pálpebras, não podia se desesperar; então, passou a massagear as áreas marcadas com o creme, rezando mentalmente para que quando acordasse, fosse possível esconder qualquer contusão com facilidade.

Assim que terminou de cobrir cada marca, voltou-se às roupas que havia trazido. Se White estivesse em casa, teria de colocar uma blusa sem mangas, mas levaria outra para assim que colocasse os pés para fora; se não estivesse, tudo seria mais simples, não teria de impressioná-lo, mostrando que não se preocupava em deixar seus machucados expostos. Era assim, não havia outro modo de conduzir a situação. Escolheu cada peça de dentro da mala, as deixando separadas para o dia seguinte e, assim que a missão havia sido cumprida e as preocupações desanuviaram sua mente, deitou-se no chão, o corpo cansado, sem forças para voltar à sala ou sequer chegar à cama. No rosto, um sorriso simples.

Tinha uma certeza crescente dentro de si. Depois daquela noite, ele seria seu.

*

    O sol era, sem sombra de dúvidas, uma encomenda de White especialmente para Amelia. O astro brilhava altivo no céu garantindo que a jovem se arrependesse caso ousasse esconder mais uma vez as marcas tão bem infligidas à si. Vincent havia saído mais cedo, então Hale arriscou-se um pouco mais, colocando o casaco oculto no fundo da mala, uma peça muito imprópria para o clima e que causaria o descontentamento de seu...

    Sorriu, enquanto ajeitava-se frente ao espelho, certificando-se de que parecia uma mulher em um relacionamento comum; sabia que estava muito próxima de atingir seu maior objetivo, o único em sua vida desde o primeiro dia em que seus olhos se focaram em Vincent. Segurança. Nada mais importava, contanto que tivesse uma garantia de que o teria para si e somente para si. 

    Haviam quebrado juntos todos e quaisquer limites que antes Hale lhe impunha. Se queria atá-lo à si, como poderia restringir seus acessos? Um homem como White não se comprometeria com uma moça qualquer. Não, quando poderia ter quem bem entendesse em um estalar de dedos; uma para satisfazer os desejos que outras não puderam fazê-lo. Por esse motivo, não podia fraquejar. Sem receios; o queria e o teria, não importava o preço.

    Não demorou para chegar no curso, olhou no relógio e constatou que estava à uma hora adiantada – tudo porque havia saído de casa logo atrás de Vincent. Haviam poucas pessoas na sala de aula (as mesmas de sempre que pareciam nunca deixar o local) e Amelia aproveitou para escolher as carteiras mais ao fundo. Nada de exposições gratuitas.

No Escuro || (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora