Com o cenho franzido, pôs a cabeça para fora da janela do veículo antes de finalmente estacioná-lo do outro lado da rua. Em seu exterior o terreno aparentava ser amplo – era de se estranhar que o proprietário morasse sozinho –, estava surpresa, teve de checar novamente o endereço no papel amassado que tinha entre os dedos. Desceu do carro e ajeitou-se.
Suspirou com pesar; não estava muito contente. Sentia-se de alguma forma coagida a estar ali, ainda que não fosse verdade. Ninguém a havia forçado a ir àquela festa.
A casa era linda e remetia à dedicação; muito desta boa impressão imediata se dava graças ao acabamento impecável das paredes e o jardim tão bem cuidado, cheios de botões de rosas. Caminhou pelo trajeto de pedras delimitado pela grama de um verde intenso e tocou a campainha dando alguns passos para trás.
Em poucos instantes a porta foi aberta e Amelia se revelou com as feições iluminadas:
- Ana! Estou tão feliz que tenha aceitado meu convite. – A curva dos lábios vermelhos se alargou assim que abraçou a amiga. – Sabe o quanto isso significa para mim?
A jovem Hale sentia-se prestes a cumprir todas as pendências que haviam em sua vida. Para a nova fase que entraria, não queria levar qualquer desassossego, mas para isso precisava da aprovação de sua melhor amiga ou seria incapaz de ser feliz por completo. Sobretudo porque nada a deixava mais desolada do que a mesma discussão interminável de sempre em que tentava convencer Ana de que Vincent era um bom homem.
Sabia que era difícil compreender seu estilo de vida, mas o amava.
- Eu sei. Também estou feliz de estar aqui. – Respondeu, lançando-lhe um olhar carinhoso.
- Vem, entre. Estou ansiosa.
- Ei, Lyn, espere. – Segurou seu braço, sem ainda fazer qualquer menção em entrar. – Queria dizer mais uma coisa.
- Não vá me dizer que não quer conhecê-lo.
- Não! Não é nada disso. – Corrigiu rapidamente sentindo outra vez uma certa imposição pairar sobre si. – Na verdade, eu quero pedir desculpas. Não tinha o direito de falar aquelas coisas para você, principalmente porque eu pré-julguei toda a situação. Estou me sentindo mal por isso. – Estava sendo sincera em partes; sua real motivação para aquele discurso foi a amizade que tinham.
Hale negou, aliviada.
- Ana, não precisa, é sério. – As palavras da amiga soaram como uma absolvição. – Eu acho que nós duas estávamos tentando provar algo uma à outra, e...
- É que eu me preocupo. – Interrompeu-a – Quis proteger você de alguma maneira e só estraguei tudo. Saiba que estou aqui para corrigir isso. – Amelia sorriu plenamente satisfeita com a atitude de Ana, que se sentiu à vontade para continuar. – Não acho que temos que concordar sempre, mas acho que é o meu dever estar por perto.
Mais alguns instantes e seguiram para dentro da sala principal. Havia mais pessoas do que previra e algum rock que desconhecia ressoava baixo, apenas como som ambiente.
O primeiro foco do olhar de Ana foi no homem ao centro. Estava sentado em uma poltrona entretido na conversa que levava com um casal postado de pé ao seu lado. Tinha um cigarro entre os dedos que levava à boca ora ou outra, semicerrando as pálpebras ao tragá-lo como um ritual, levando a nicotina para seus pulmões. De repente sorriu de canto com algo que lhe foi dito, soltando um riso simples em seguida, e assim deixou que a fumaça escapasse por entre os lábios; foi então que os olhos felinos perpassaram pela sala, atraídos pelo movimento próximo à porta de entrada.
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No Escuro || (Romance Gay)
RomanceDe repente, por mais que estivesse em frente a um espelho, fitando-se por minutos em silêncio, não se reconhecia. Nos traços faciais refletidos, não havia sequer um ínfimo resquício do temido líder dos Leviathans e, sim, uma trilha de ruína e devast...