-O que estás a fazer aqui fora... sem camisola? – não pude deixar de reparar nos seus músculos tonificados.
-Ahm... Eu vou almoçar fora. Queres vir?
-Bem, não tenho comida em casa, por isso... Acho que sim... – estava um pouco hesitante.
-Óptimo, vou vestir uma camisola para parares de te babar. – ele riu-se da minha cara envergonhada.
Ele levou-me a almoçar no seu carro a um restaurante qualquer, e ofereceu-se para pagar.
-Quem és tu e onde está o verdadeiro Niall? – eu disse enquanto voltávamos para casa.
Ele ignorou o meu comentário, e manteve os olhos na estrada.
-Então, vives com os teus pais? – decidi quebrar o silêncio constrangedor.
-Não. – ele disse entre dentes.
-Porque não?
-São de Nova York. – as suas mãos agarravam com força o volante, e o seu maxilar estava tenso, o que me levou a perceber a não perguntar mais nada sobre esse assunto.
-Ei Niall, já passamos pela nossa rua! – eu comecei a ficar assustada, mas ele não me respondeu. – NIALL! PÁRA O CARRO!
Ele parou o carro e abriu-me a porta. Estávamos a alguns quilómetros de distância da nossa rua.
-Anda. – ele puxou-me pela mão ao mesmo tempo que fechava o carro.
-Para onde me estás a levar?
-És capaz de parar com as perguntas? – ele sorriu para mim.
-Mas hoje eu vi-te com a Chl...
-Não te preocupes, não te vou comer aqui. – ele riu-se e eu corei. Não era isso que eu queria dizer... ou era?
Ele parou ao pé de um lago com umas rochas. Largou-me a mão e foi para o pé de uma árvore tirar de lá algo.
-Porque é que está aí uma guitarra? – perguntei.
-Achas que é a primeira vez que venho para aqui? – ele senta-se numa rocha com a guitarra sobre uma das suas pernas.
Ele toca bem, é algo que eu não posso negar. Curiosa, sentei-me na rocha à sua frente até que ele pára de tocar e encara-me novamente.
-Tens um cigarro? – ele pergunta.
-Não... Eu não fumo. – ele sorriu com a minha resposta. Algo me diz que ele só me perguntou isso para saber se eu fumava ou não.
Ele continuou a tocar e eu deitei-me sobre a relva. Estava calor, e antes de poder arrepender-me, descalcei-me, tirei toda a minha roupa atrás de uma árvore ficando só de soutien e cuecas. Peguei na minha mochila e abri-a para tirar de lá uma camisola branca comprida. A do meu pai. Andava sempre com ela, desde o dia em que ele morreu. Pelo riso do Niall percebi que tinha sido apanhada. Vesti rapidamente a camisola que cobria metade das minhas coxas e corri até ao lago.
Quando me aproximei da água, toda a minha coragem desapareceu.
-Então, rebelde? Não vais saltar? – ele riu-se.
-Claro que vou, palerma! Estou só a... habituar-me. – segundos depois apercebi-me do quão estúpida foi a minha resposta.
-Habituares-te a quê? À relva? – ele pousou a guitarra no chão e colocou-se atrás de mim.
-Só vou se tu fores. – eu disse encarando-o. Ele hesitou.
-Tudo bem. – acenou com a cabeça e tirou a sua camisola e as suas calças, ficando só com os boxers pretos.
Rapidamente agarrou em mim e atirou-nos lá para dentro. Ficamos lá durante algum tempo, a água estava óptima. O Niall deixava-me estranhamente confortável.
***
-Estás a tremer. – ele franziu as sobrancelhas e colocou o seu polegar no meu queixo.
-Tenho frio. – queixei-me.
Ao ouvir isto, ele agarrou-me a mão e levou-me para a margem do lago, cobrindo-me com a sua camisola e sentando-me na rocha em que estávamos à pouco. Ele colocou-se à minha frente, apenas a encarar-me.
-Porque é que me trouxeste aqui? – antes de responder, ele riu-se.
-É que és estupidamente boa. – ele encolheu os ombros e eu corei batendo-lhe amigavelmente no ombro.
-Isso é um elogio ou...?
-É aquilo que tu quiseres entender. – ele piscou-me o olho.
-Parvo... – sorri enquanto olhava para baixo, tentando disfarçar as minhas bochechas vermelhas.
-Vives sozinha?
-Sim, desde que os meus pais foram...
-Eu sei, não precisas de dizer. – ele sorriu.
-Estás tão diferente de hoje de manhã. – cerrei um pouco os olhos.
-Não estou, hoje de manhã tu é que me estavas a chatear.
-Desculpa? - estava prestes a criar uma discussão com ele.
-Estás desculpada. – ele sorriu e eu ri-me.
O silêncio apoderou-se de nós e ele aproximou-se de mim, claramente para me beijar. Por uns segundos aproximei também os meus lábios dos dele mas rapidamente recuei.
-Não posso fazer isto, Niall.
-É só um beijo. – ele tinha um ar confuso.
-Bom, para mim um beijo é muito mais que um beijo.
-Isso é idiota. – ele riu-se.
-Sorte que eu não quero saber. – sorri sarcasticamente.
-Leva a vida com mais calma.
-Não perdeste os teus pais há uma semana, não sabes como é. – levantei-me ofendida antes de ele me agarrar severamente no braço.
-Não falas dos meus pais. Nunca mais, percebes? – ele carregava ódio no olhar.
Mantive-me imóvel, não sabia como reagir. A sua respiração acalmou e ele largou-me. Vesti a minha roupa e ele vestiu apenas as calças.
-Vamos indo, está a ficar escuro. – ele disse.
-Tudo bem...
***
A viagem foi calma, sem nenhuma das nossas discussões habituais. Chegamos à nossa rua e ele estacionou o carro. Ambos saímos e sentamo-nos na beira do passeio.
-Desculpa hoje aquilo dos teus pais, mas... – eu disse baixinho.
-Não, está tudo bem. - ele juntou as suas mãos e encarou o chão.
-Não me deixaste acabar. Eu ia dizer que sabes algo terrível sobre o meu passado. Mais especificamente, sobre os meus pais. Tenho direito a saber algo sobre ti. – ele olhou-me confuso.
-O que queres saber? – ele apoiou as suas mãos no passeio.
-Porque é que não falas sobre os teus pais?
-Já te disse que isso não te diz respeito! – ele gritou.
-E A MORTE DOS MEUS PAIS DIZ-TE RESPEITO, DIZ?!
-EU QUERO LÁ SABER DA MORTE DOS TEUS PAIS, AGORA TU ÉS A COITADINHA DA ESCOLA, ERA IMPOSSÍVEL EU NÃO SABER SOBRE ISSO! – ele gritou.
Senti lágrimas a ameaçarem cair e corri até à porta da minha casa.
-Jess! – ouvi o Niall chamar enquanto corria atrás de mim. – Jessica, pára!
-Diz-me Niall, o que é que queres? Pensei que nos estávamos a dar bem, mas tu és um idiota. Gostas de me espalhar na cara o sofrimento, não é? Mas lamento, não te vou dar outra vez essa chance. Esquece Niall, afasta-te de uma vez!
-Desculpa Jess, não queria dizer aquilo... – ouvi-o do lado de fora da porta. Mal a tranquei, deslizei até ao chão e caí em lágrimas.
Porque é que isto me acontece a mim?